Valor Econômico
Bolsonaro coloca-se em primeiro plano para
deixar o Brasil em segundo
Foi um presidente acuado que subiu ao
palanque para conclamar sua própria virilidade no palanque do 7 de setembro. No
ano passado estava sob cerco do Judiciário. Permanece, haja vista a ausência
dos chefes de Poderes no palanque da parada militar, mas quem, de fato, o acua
este ano - e mais compromete seu futuro - é o eleitor. Nenhuma pesquisa séria
considera sua reeleição o cenário mais provável.
O presidente Jair Bolsonaro afrontou não
apenas o Estado, mas a nação aniversariante e a Justiça Eleitoral ao fazer do
Bicentenário um palanque. Nem se tivesse xingado os ministros, como o fez no
ano passado, teria afrontado tanto o TSE. Teve extensa cobertura ao vivo das
TVs e redes sociais, numa flagrante desigualdade de exposição em relação aos
demais candidatos. A 26 dias da eleição, porém, dificilmente sete ministros
serão capazes de tirá-lo do jogo. No limite, o impedirão de usar as imagens no
horário eleitoral.
Em 2021, o ministro Alexandre de Moraes, comandante do inquérito dos atos antidemocráticos, era o “canalha”. Este ano, Bolsonaro chamou para si o atributo. Depois dos ataques em série a mulheres jornalistas, é possível que Bolsonaro enxergue uma valoração eleitoral na definição, supostamente autorreferenciada, de “imbrochável”. Sua nora, Heloisa Bolsonaro, foi orientada no mesmo sentido, dias atrás, quando, num evento em Porto Alegre, conclamou a submissão das mulheres aos maridos.
O presidente valeu-se de Michelle
Bolsonaro, vestida de boneca com laço na cintura, para agredir as eleitoras de
seu adversário com uma analogia carimbada: “Podemos fazer várias comparações.
Até entre as primeiras-damas. Não há o que discutir. Uma mulher de Deus, com
presença ativa na minha vida. Não é ao meu lado. Muitas vezes está à minha
frente. Procurem uma princesa, se casem com ela para serem mais felizes ainda”.
Bolsonaro sabe que esses valores, numa
sociedade em que tantas mulheres chefiam famílias, não são majoritários. Se
coloca sua virilidade em primeiro plano é porque precisa colocar o Brasil em
segundo. Nem “bicentenário”, nem “independência” entraram no discurso do
presidente candidato na Esplanada ou em Copacabana.
O mesmo tom guiou o apelo a uma pátria
“majoritariamente cristã, que não quer a liberação de drogas, nem a legalização
do aborto, não admite a ideologia de gênero e combate a corrupção pra valer”.
Bolsonaro até louvou o preço dos combustíveis, o Auxílio Brasil, a queda na
inflação e no desemprego, mas o foco era outro.
Não dá para dizer que tenha fracassado por
completo em seus propósitos. Os eventos tiveram um bom público no Distrito
Federal, no Rio e em São Paulo, onde Bolsonaro não pisou. Tem imagens para
municiar a falácia de que a “verdadeira pesquisa” é a rua.
Se a ausência dos presidentes dos Poderes
corrobora a ideia de isolamento institucional de Bolsonaro também contribui
para a imagem voluntarista com a qual se apresenta ao eleitor. A roupagem
contida do seu voluntarismo, porém, lhe permitirá assumir a condição de
moderador de uma base eleitoral que tem sido levada à radicalização nas últimas
semanas com o propósito de amedrontar o eleitor.
A ameaça, viu-se, não é militar. A farda
deu-lhe o fausto e o artifício, mas o golpe pretendido é o do medo. Como tem
sido incapaz de reverter a trajetória das pesquisas, a saída é impedir o voto
no seu adversário. Como? Pelo medo de tudo, mas especialmente da insegurança
que se pretende fazer imperar nas ruas. Taí um quesito no qual o bolsonarismo é
imbatível.
De imediato tem a meta de ampliar a
abstenção, tradicionalmente mais alta entre os mais pobres, majoritariamente
eleitores do líder das pesquisas, para evitar uma derrota no primeiro turno,
cenário ainda não completamente descartado.
A Secretaria de Segurança Pública do
Distrito Federal reportou um evento sem ameaças, mas estas não faltaram nos
dias que antecederam a parada militar e nada impede que voltem a ocorrer no dia
seguinte.
Da Secretaria de Comunicação Social da
Presidência saíram mensagens por WhatsApp das “ameaças comunistas” ao longo da
história; de Eduardo Bolsonaro veio o convite para que os eleitores do pai, se
armados, adiram ao exército de “voluntários” da campanha; e do candidato à
reeleição partiu a tentativa de forçar as barreiras policiais do Distrito
Federal na véspera do desfile.
Na traficância das ameaças o que não faltam
são aviõezinhos, como o pastor Silas Malafaia, que chegou a pedir que as urnas
fiquem paralisadas no dia das eleições, ou a fabricante de armas (Taurus), que
resolveu dar desconto em fuzil para quem comprar seus produtos.
O TSE foi mais ágil em farejar as ameaças
do que em impedir a farra bolsonarista no dia da pátria. A reunião mais longa e
com o maior número de participantes da Corte eleitoral na temporada aconteceu
na última semana de agosto entre seu presidente e os comandantes da PM nos
Estados. Primeiro pelo ineditismo do formato. Ministros do Supremo se reúnem
com governadores e, no limite, com secretários de Estado. Alexandre de Moraes
cortou caminho e foi direto em quem comanda.
Esperavam-se dez. Foram os 27. Começou às
9h com previsão para durar 2 horas, mas avançou sobre a hora do almoço dos
participantes. Não houve um depoimento que não fosse de continência às ordens
do ex-secretário de segurança de São Paulo, hoje na presidência do TSE. Até o
comandante da PM do Rio tocou de ouvido.
São os PMs que, no dia 2, serão chamados a
dar conta das situações mais comuns. Do eleitor que desafiar a proibição de
entrar na cabine com o celular, aos detentores de porte de arma que ignorarem a
suspensão dos decretos que o liberalizaram. As tropas do Exército requeridas,
20% superiores às de 2018, não permanecem no perímetro dos 100 metros dos
locais de votação. O território é das PMs.
Que efeito surtirá sobre o comparecimento
eleitoral uma ofensiva de amendrontamento? Nas eleições de 2014 e 2018, a
abstenção variou entre 19% e 20%. Os mais velhos e mais pobres são os que mais
se abstêm. Em 2018, apenas no Sudeste, 14 milhões deixaram de votar no primeiro
turno de 2018.
Entre os amedrontados pode estar também o
eleitor indeciso de quem Bolsonaro precisa. Se hoje imaginou que assistiria aos
festejos da nacionalidade, limitou-se, na verdade, a ver um
presidente-candidato cavalgar a efeméride para dar palanque à vergonha
nacional.
A virilidade de Bolsonaro é só da boca pra fora... Bolsonaro está se borrando de medo de não chegar no segundo turno e ter que começar a pagar suas penas em 2023. Ele sabe que é tão imbrochável quanto é bom militar. Sempre foi conhecido como bunda suja, e que potência sexual pode ter um sujeito nesta triste condição?
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