domingo, 11 de setembro de 2022

Merval Pereira - A boca do jacaré

O Globo

Candidatos irão explorar o dilema dos eleitores para dar ou não a vitória a Lula no primeiro turno

Do jeito que as coisas vão, tudo indica que o eleitor que não é fanático por Lula nem Bolsonaro terá que enfrentar dilemas éticos e políticos na escolha de seu voto, até mesmo na decisão de anular ou votar em branco. Como o que conta para definir a vitória é ter 50% mais um dos votos válidos, o eleitor que invalidar seu voto estará permitindo que o vencedor precise de menos votos para se eleger.

Como diz o jargão das pesquisas eleitorais, a “boca do jacaré está fechando”, isto é, a diferença entre Lula e Bolsonaro está diminuindo desde o início da campanha, é possível que a reta final desencadeie nos eleitores um dilema que será explorado pelos candidatos. Dar uma vitória ao ex-presidente no primeiro turno seria uma resposta contundente contra Bolsonaro, mas também dar um cheque em branco a Lula.

Se ele hoje se proclama inocentado pela Justiça sem que isso tenha acontecido, o que não poderá dizer depois de eleito num primeiro turno, o que nunca aconteceu desde que disputa eleições para presidente em 1989? Essa concessão popular poderá desencadear uma sensação de invencibilidade que leve a que um terceiro governo Lula possa ser mais marcado pelo autoritarismo de quem se verá como o salvador da pátria que volta nos braços do povo.

Diz-se que Lula é maior do que o PT, o que é verdade, mas só quando quer. A máquina petista é azeitada para boicotar os intrusos que entram em seus domínios, como aconteceu com Henrique Meirelles no Banco Central e diversos economistas ligados aos tucanos que Antonio Palocci foi buscar para dar consistência à política econômica do primeiro governo Lula. Levar a eleição para o segundo turno pode obrigar o PT a aceitar um acordo mais amplo. Um “estrangeiro” como Geraldo Alckmin não conseguiria fazer um movimento para o centro tão forte, e dificilmente terá uma função importante num eventual ministério.

Além do mais, Alckmin está exagerando tanto na sua conversão que, após ouvir a Internacional Socialista sem corar, foi para a televisão dizer que quando se referem às suas críticas anteriores à corrupção do governo petista, querem confundir o eleitorado. Ele hoje diz que foi enganado pela Lava Jato, e que ficou provado que Lula não tinha culpa de nada.

Não é verdade, os eventuais erros da Operação Lava Jato não invalidaram as acusações de corrupção no governo petista, como aliás Lula já admitiu, e também não inocentaram o ex-presidente de nada. Considerar o ex-juiz Moro parcial, e mudar o local do julgamento fez apenas com que os processos recomeçassem do zero, sem tratar do mérito. Muitos foram arquivados, por decurso de prazo, com base na decisão do STF, poucos por falta de provas.

A outra razão para votar em Lula logo no primeiro turno seria impedir que, indo para o segundo turno, Bolsonaro explicite uma realidade que as pesquisas estão mostrando: a extrema-direita brasileira pode chegar aos 40% dos votos, com a ajuda do centro, o que é muito. O PSDB passou anos, até 2014, representando esses 40% do eleitorado, e quase ganhou com Aécio Neves. Só não persistiu como uma segundo força política no país porque não tinha um grande líder para guiar o partido, como Lula faz com o PT e Brizola fazia com o PDT.

Fernando Henrique Cardoso, eleito duas vezes no primeiro turno derrotando Lula, não tinha esse talento, nem queria ter. Se políticos como Sérgio Motta ou Luiz Eduardo Magalhães não tivessem morrido, esse legado tucano poderia estar vivo até hoje. Um partido de muitos caciques acabou se desvirtuando e perdendo a força. Bolsonaro, apesar de inexplicavelmente não ter conseguido formar seu próprio partido - talvez porque não acredite em partidos, como bem lembrou o Demétrio Magnoli - continuará dominando esse eleitorado de centro-direita que se posiciona contra o petismo.

O Elio Gaspari já relembrou outro dia o sarcasmo de Marco Maciel ao receber a informação de seu marqueteiro de que a distância entre o seu candidato e o adversário estava se estreitando, e as linhas se cruzariam em algum ponto: “Antes ou depois da eleição?”. Bolsonaro está na mesma situação, e levar para o segundo turno é sua última chance de tentar uma reversão que a história mostra ser improvável. Fernando Henrique em 1998 dormiu na noite da reeleição preocupado com o crescimento de Lula, temia que um segundo turno pudesse mudar o quadro. Ganhou com 53% dos votos.

Nunca quem venceu o primeiro turno presidencial perdeu, garantem os pesquisadores. Mas há exemplos regionais, como a formidável reviravolta na campanha de 1995. O candidato Hélio Costa venceu o primeiro turno com 48,8% dos votos, e Eduardo Azeredo reverteu o resultado no segundo turno, tornando-se governador mineiro. Os eleitores decidirão.

8 comentários:

  1. Na época do mensalão ainda não tinha Lava Jato. O erro dessa corte ficará gravado na História do nosso país, esses ministros serão lembrados como os traidores da pátria, corrompidos e desonesto que deixam um legado infame de vergonha. É assim que eu os considero, mais sujos que os próprios políticos. Um dia haveremos de saber o real motivo desse procedimento, mas tudo leva a crer que a Lava Jato estava chegando até eles. O
    Povo pela primeira vez sentia-de justiçado, a cada revelação sentíamos a confiança que o Brasil estava caminhando para sair desses América Latrina. E o orgulho estava substituindo a vergonha pela nosso grito de independência provocado por uma diarreia. Mas não, brasileiro tem um lugar vitalício na A. L.atina. Jamais seremos e teremos o sangue e a coragem de países sérios. E vai ser cada um por si agora, porque a corte determinou que assim será. Entre dois ladrãos a escolha deve ser no menos pior.

    ResponderExcluir
  2. Não dá pra aceitar anônimo aqui.

    MAM

    ResponderExcluir
  3. Estou decepcionado com Merval. O povo brasileiro está na famosa situação de "dá ou desce". É civilização ou barbárie. E Merval, qual classe média pudibunda, dá força aos termos do inimigo ( Cont.)

    ResponderExcluir
  4. Esse cara Mam só vive implorando por atenção no “Vespeiro” . Não está satisfeito por ter só anônimos aqui, então cai fora.

    Encher o pessoal do Vespeiro já que não acrescenta nada aonde for só quer mimimi.

    ResponderExcluir
  5. Merval e sua má vontade com o Lula,até parece que FHC era santo,também nunca foi,a diferença é que Bolsonaro está noutro patamar.

    ResponderExcluir
  6. Continuando. O Merval já havia me decepcionado quando criticou Alexandre de Moraes por atacar oito pilantras tão ricos quanto golpistas. Bilionários num país onde tem gente morando nas ruas. Não acredito que Merval ignore que os pilantras já vêm trabalhando pelo golpe faz tempo: financiando fake news, hackers, influenciadores digitais e quejandos. Claro que a coordenação geral vem do "Gabinete do Ódio" (contando ninguém acredita). Ri, de prazer, quando vi no Jornal Nacional seis dos oito golpistas fazendo declarações de amor à democracia. Graças a Alexandre de Moraes. Que está jogando duro contra a caricatura de fascismo que se esboça em nosso país. Lula e Brizola moram no coração do povo brasileiro porque eles identificam nesses dois homens aqueles que fizeram alguma coisa por eles. Brizola criou os CIEPS escolas de turno integral para todos ricos e pobres. Depois veio o Moreira Franco e destruiu os CIEPS e restaurou o projeto educacional da burguesia brasileira: escolas públicas sucateadas para pobres e escolas bem apetrechadas para os filhos dos ricos. A esse respeito o Cristovam Buarque é professor. Ganhando a frente democrática ele tem que ser chamado. Chamo a atenção de Merval para o fato de que quem vai derrotar o trumpobolsonarismo não é o lulopetismo. Alckmin já alcalinizou essa força política. E se o coração de Alckmin bate mais forte ouvindo o hino da internacional socialista. Maravilha! O povo brasileiro finalmente vai começar a sair do buraco. Outro homem que tem que ser chamado é Laurentino Gomes. O capitalismo brasileiro durante quase quatro séculos viveu montado no trabalho escravo de negros africanos. Quando libertou os escravos teria que ter feito uma reforma agrária que contemplasse cada ex-escravo com um pedaço de terra. Países pequenos em todo o mundo fizeram reforma agrária. O gigante adormecido de dimensões continentais nunca fez. E ainda indenizou os latifundiários escravistas. Os negros foram viver nos morros que no século XIX eram chamados de "bairros africanos".

    ResponderExcluir
  7. Nunca vi tanta besteira escrito ao mesmo tempo, o Lulu petismo vai ser varrido do Brasil porque traiu a confiança do povo quando no poder, nos seus 14 anos, o Lula comandou de dentro do Palácio do Planalto o maior assalto aos cofres públicos brasileiros, deixando um rastro de destruição, recessão e desemprego
    Se não bastasse, essa legenda criminosa o PT apoia o aborto, a legalização das drogas , as invasões das terras com o MST, a política de ideologia de gênero
    Tudo rechaçado pela nossa sociedade cristã e conservadora
    No dia 7 de setembro os milhões e milhões de pessoas nas ruas deram uma mostra do que vai acontecer nas eleições, prepararem o seus corações presidente reeleito!

    ResponderExcluir
  8. Bolsonaro não é cristão! Cristão não defende tortura e nem torturadores! Cristão não justifica estupro! Bolsonaro é um miliciano canalha, que enriqueceu roubando verbas públicas nas rachadinhas familiares!

    ResponderExcluir