O Globo
Por 14 anos, Lula e Marina só se falaram na
dor. Ontem, fizeram o reencontro político pela Amazônia e pela democracia
Marina não anda só. Ela chegou ao
encontro do ex-presidente Lula ontem com dois grandes
intelectuais brasileiros, Eduardo Viola e Eduardo Giannetti da Fonseca. Marina
não anda só. Ela chegou com uma rede de organizações e pessoas que defendem a
Amazônia, o meio ambiente, os povos indígenas, o combate às mudanças
climáticas. Marina não anda só desde que saiu do Seringal Bagaço porque, como
disse Lula, ela “não mudou suas convicções e seus princípios”. Marina foi ao
reencontro com Lula com um documento que elabora há meses e que é, como ela
disse, “uma contribuição”.
A ex-ministra definiu a oposição ao governo Bolsonaro como um movimento de autodefesa da democracia. A cena do ex-presidente Lula e da ex-ministra Marina impressiona porque o país sabe o que foi preciso superar de desencontro nos últimos anos para voltarem a estar do mesmo lado. Juntos, os dois fizeram a melhor política ambiental que o país já viu. Iniciaram o processo virtuoso que derrubou o desmatamento da Amazônia em mais de 80% em dez anos.
— Nosso reencontro político e programático
se dá diante de um quadro grave da história política, econômica, social e
ambiental do país, em que nós temos o que eu considero a ameaça das ameaças,
que é à nossa democracia. E sempre que a democracia é ameaçada há uma tentativa
de corrosão do tecido social em todas as suas dimensões — disse a ex-ministra.
Nos bastidores, muitos queriam o
reencontro, mas entre eles o destaque é do candidato ao governo de São Paulo
Fernando Haddad, que chegou a pensar em ter a ex-ministra como parte da sua
chapa. Marina é candidata a deputada porque acha que o Congresso será a frente
de batalha em vários projetos.
— Tenho um compromisso de vida com a
Amazônia, o meio ambiente, os povos indígenas — disse ela recentemente.
E foi por isso que preparou o que chamou de
“resgate da agenda perdida social e ambiental”, numa referência à agenda
perdida que economistas escreveram na campanha de 2002. O programa da chapa
Lula-Alckmin na área ambiental já prevê o combate ao desmatamento e o fim do
garimpo ilegal, meta que Lula repetiu ontem no encontro. Marina levou ideias
que se somam, como a de que a questão ambiental não é algo à parte, mas que
está presente na proposta como um todo. Uma das ideias é a de criar a
Autoridade Nacional de Mudança Climática, ligada ao Ministério do Meio
Ambiente, para articular as medidas de redução das emissões de CO2, em busca
das metas assumidas pelo Brasil no Acordo de Paris.
— Ontem nós tivemos uma conversa de duas
horas, atravessada pelas nossas memórias, e um compromisso de ajudar a
reconstruir o Brasil — disse Marina.
A Federação Rede-Psol já integrava
oficialmente a coligação da chapa Lula-Alckmin, mas ela deu liberdade para que
seus integrantes assumam qualquer posição. Então Marina chegou de forma
independente para esse apoio a Lula.
Juntos eles fizeram o Plano de Prevenção e
Combate ao Desmatamento da Amazônia (PPCDAm), que está sendo destruído. Por
isso ela falou em “resgate” do plano e também em “atualização”, já que houve um
agravamento da crise do clima e da força do crime na Amazônia.
— Eu chamei de resgate atualizado da agenda
socioambiental perdida e ninguém melhor do que o senhor para fazer o resgate
porque foi quem o iniciou — disse Marina a Lula.
As perguntas foram sobre a natureza do
reencontro, e Marina foi clara:
— Estamos agora diante de um quadro que é democracia
ou barbárie, democracia ou extermínio de povos indígenas, democracia ou a morte
do povo preto nas nossas periferias, democracia ou destruição da Amazônia. É
nessa base comum que estamos aqui reunidos.
Perguntado sobre o que seria prioritário na
agenda ambiental, Lula respondeu que primeiro era preciso ganhar a eleição, mas
que a questão ambiental seria “transversal”. Nesse momento, Marina não escondeu
o sorriso de satisfação. Era o que queria ouvir. Sobre se ela, por ser
evangélica, ajudaria Lula com esse grupo, Marina disse que “o Estado laico é
legado da reforma protestante” e que, portanto, todos os brasileiros seriam
respeitados, independentemente do seu credo. Lula concordou. Nos 14 anos do
desencontro, eles só se falaram na dor. No câncer dele, na morte do pai dela,
na morte de Dona Marisa. O rompimento era apenas político. Agora, superado.
Muito emocionante esta coluna! Parabéns à jornalista e ao blog que divulga seus textos! Marina é uma grande mulher, uma guerreira de verdade e da verdade!
ResponderExcluirMais uma vez, parabéns a Miriam Leitão, pela capacidade de simplificar e explicar todas as nuances em seus textos.
ResponderExcluirLula e o PT foram muito injustos e maldosos com Marina Silva, Cristovam Buarque, e até Ciro Gomes. Estes brasileiros foram de grande ajuda para o governo Lula, mas foram maltratados pelos arrogantes petistas que assessoravam o presidente petista. Felizmente, Lula já foi perdoado pelos 2 primeiros, mas obter o perdão de Ciro vai ser mais difícil. O temperamento de Ciro é menos conciliador.
ResponderExcluirMarina é uma grande mulher.
ResponderExcluir