domingo, 18 de setembro de 2022

Vinicius Torres Freire - A eleição dos distraídos em SP

Folha de S. Paulo

Eleitor mal conhece tucano e bolsonarista, e petista tem menos voto que Lula

Quase metade dos eleitores de São Paulo não sabe quem é o governador candidato à reeleição, Rodrigo Garcia (PSDB), nem o enviado do bolsonarismo ao estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos). São desconhecidos por 44% do eleitorado, lê-se no Datafolha. Fernando Haddad (PT) é desconhecido por 7%.

A indiferença e o desconhecimento do eleitor são dos assuntos mais importantes para esta quinzena restante de campanha. Também importante, o voto para governador não tem diferenças de "classe" (de renda, de escolaridade) como é o voto para presidente no estado.

De relevância histórica, mas ainda não se sabe se política, faz mais de 20 anos que a capital e o estado não elegem extravagâncias daninhas —um eufemismo diplomático. O malufismo acabou em 2000 na capital, e o quercismo acabou em 1995 no estado.

Se alguém não dá importância a essa relativa tranquilidade paulistana e paulista, pense no desastre do governo do Rio de Janeiro nos últimos 25 anos, pelo menos. A quem interessar possa: este jornalista nasceu na cidade do Rio de Janeiro.

Mal e mal, pelo menos ninguém quebrou os governos daqui, de São Paulo, arruinou instituições ou foi parte de uma corrente política que negasse vacinas, zombasse de doentes, atacasse as mulheres e defendesse ditaduras ou torturadores. Tarcísio de Freitas, o bolsonarista, pode quebrar essa escrita, pois tem chance de segundo turno. Para prestar atenção ainda:

1) os eleitores que votam nulo, branco ou estão indecisos somam 18% na eleição para governador paulista. Para a eleição de presidente, somam 6% em São Paulo. Pode ter muito voto solto aí;

2) Haddad tem 36% dos votos; Freitas, 22%; Garcia, 19%. O petista apanha, mas sua votação é quase estável desde o início da campanha;

3) Haddad por ora bate Freitas com folga no segundo turno (60% a 40% dos votos válidos), mesmo no interior paulista, mais conservador. Mas vence Garcia por uma diferença menor e que diminui rápido (ora em 54% a 46%). Empata com o tucano no interior;

4) Garcia tem a menor rejeição entre os três primeiros colocados na pesquisa: 17% (Haddad, 35%; Freitas, 27%). Assim que foi apresentado ao público, a avaliação de seu governo deu uma melhorada relevante;

5) Haddad é bem votado em todas as categorias de renda e escolaridade —não é como Lula. Mas tem menos votos do que Lula para presidente, no estado (36% a 43%).

Isto posto, ressalte-se que Freitas, o bolsonarista, e Garcia, o tucano, podem contar com a possibilidade de buscar votos naquele 44% do eleitorado que não os conhece. De resto, há menos eleitores "totalmente decididos" no voto para governador (62%) do que no voto para presidente, em São Paulo (75%). Quanto ao potencial de Haddad, repita-se que ele tem menos votos do que Lula no estado.

Freitas teve uma boa carreira de técnico da alta burocracia federal até debutar e desabrochar na política como um bolsonarista mui querido do seu presidente, daqueles de ir a "lives" de Jair Bolsonaro e rir das atrocidades.

Garcia é um herdeiro (adotado) da longa linhagem de vizires do tucanistão. Foi uma espécie de diretor-geral do governo de João Doria, que fez uma administração bastante boa, no entanto detestada.

É uma eleição menos "classista", de rejeições relativamente baixas e que não tem tema dominante até agora, político ou programático. A história da disputa vai depender da imagem que Freitas e Garcia vão conseguir vender nos próximos dias e daquela que vão lhes colar na testa.

A nacionalização da campanha e truques de última hora podem fazer diferença na classificação para o segundo turno. Bolsonaro é rejeitado por 55% dos paulistas.

 

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