O Estado de S. Paulo
Quem vencer hoje assumirá o seu cargo? A
grandiosidade do evento da escolha de um novo presidente será conspurcada?
Não me perguntem o porquê. A verdade é que
eu me emociono com eleições. Especialmente no dia da votação, ao participar
dela e apreciar a movimentação na zona eleitoral, sinto uma boa e agradável
sensação de ser integrante de uma comunidade naquele momento voltada para o bem
comum, para o coletivo, para o aperfeiçoamento da sociedade. Vote-se em quem
for, todos ali estão imbuídos da ideia de estarem escolhendo o melhor. Mas isso
pouco importa; importa, sim, que todos estão em busca do que lhes parece representar
a solução ideal para os problemas nacionais.
Fala-se que o voto é a expressão máxima da democracia. É possível que seja. No entanto, na minha avaliação, o voto é a expressão máxima da igualdade. Com efeito, ele nivela e iguala todos. O voto não tem sexo, não distingue cor, não separa religiões, as raças se agregam.
Ademais, o momento da votação é uma
expressão maior de liberdade individual. O votar é um ato livre. No isolamento
da cabine não há interferência de nenhuma espécie. Poder-se-á dizer que o eleitor
está sujeito a influências de naturezas diversas. A propaganda eleitoral, as
pressões familiares e sociais, passando pela satisfação de interesses pessoais
podem conspurcar a liberdade do eleitor. No entanto, não se esqueça de que todo
e qualquer comportamento humano sofre influxos externos. Nossas escolhas e
decisões estão subordinadas àquilo que se viu, que se ouviu, que se sentiu. Sem
um rol de experiências assimiladas, estaríamos sujeitos à inércia absoluta. No
entanto, esses aspectos não retiram a liberdade na hora da opção eleitoral.
Não há como negar que no curso da nossa
história as eleições nem sempre refletiram a genuína vontade popular. Houve
épocas em que o voto era maculado por uma série de fatores. Expressão que bem
reflete as anomalias do processo eleitoral brasileiro em ocasiões determinadas
é o “voto de cabresto”. Tratava-se do voto preordenado, geralmente orientado
por líderes regionais, como coronéis do interior, senhores de engenho,
fazendeiros de café, grandes agricultores. Atualmente, é possível que o “voto
de cabresto” ainda exista e seja representado pelos chamados cabos eleitorais,
que dentro de suas comunidades exercem influência.
No entanto, atualmente se pode afirmar ter
havido uma conscientização marcante da sociedade brasileira em relação à
importância do voto. Especialmente as eleições para cargos majoritários estão
espelhando de maneira fiel, o quanto possível, o querer social.
Esta conscientização da importância das
eleições para a construção de uma sociedade e de um país onde a democracia e as
instituições estejam consolidadas teve início com a redemocratização, na década
de 1980, basicamente com a campanha das eleições diretas.
Após o êxito da campanha da anistia, com o
retorno de centenas de brasileiros que haviam sido obrigados a sair da Pátria,
a reconstrução da democracia estava exigindo que o povo escolhesse os seus
representantes. Um extraordinário movimento empolgou a sociedade brasileira,
que saiu às ruas clamando por eleições diretas. O brasileiro queria eleger o
presidente da República por meio do voto direto. No entanto, o empenho nacional
naquele momento foi em vão, pois o Congresso Nacional não acolheu a mudança
constitucional desejada.
Muito bem, transcorridos 40 anos após as
primeiras eleições diretas, que foram para governadores, em 1982, e 33 anos
após a primeira para presidente da República, em 1989 – ambas nos estertores e
depois do período ditatorial de 20 anos –, vamos amanhã eleger senadores,
deputados federais e estaduais, governadores e o presidente da República.
Expor o clima que cerca o atual pleito
eleitoral seria perda de tempo. Outros e muitos outros com mais brilho já o
retrataram. Permito-me, no entanto, realçar um aspecto destas eleições que com
certeza está sendo alvo das preocupações de todos os observadores atentos do
quadro político e que poderá turvar a grandiosidade da disputa eleitoral.
Em todos os pleitos anteriores, as dúvidas
que nos assaltavam diziam respeito ao resultado das disputas. Não se sabia quem
ganharia. A incerteza girava em torno desse aspecto. Atualmente – na verdade há
algum tempo –, estamos navegando num mar de dúvidas, especulações,
inseguranças, porque o timoneiro do barco Brasil o coloca a navegar em águas
turvas e revoltas.
Pergunta-se: haverá eleições e quem as vencer
assumirá o seu cargo? A grandiosidade do evento da escolha de um novo
presidente será conspurcada?
Hoje, acho que se pode responder: sim,
haverá eleições. No entanto, no que tange à outra questão, a resposta já não é
categórica. É claro que o candidato que já está no comando da Nação permanecerá
no poder, caso vença as eleições.
A questão é, e se vencer o outro candidato?
Bem, se vencer o outro, será o povo – e só ele – que, com calma, tranquilidade,
de forma pacífica, mas com firmeza e obstinação, fará prevalecer o resultado do
pleito, e a ele deverão se curvar todos os segmentos e as instituições da
Pátria, sem exceção, para que prevaleça a soberana vontade popular.
*Advogado
Por tudo que o Sr. disse, o voto não deveria ser obrigatório, muita incoerência.
ResponderExcluirA preocupação do colunista é a minha.
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