O Estado de S. Paulo
Infelizmente, o que ficou demonstrado
recentemente foi só a resiliência de nossa democracia, não sua funcionalidade.
É preciso ser muito obtuso para crer que o
Brasil pode ser governado fora do regime democrático e que a economia pode
crescer sem reformas enérgicas e grandes investimentos no setor privado.
A resiliência da democracia foi claramente
demonstrada em dois episódios recentes: o manifesto lido no dia 11 de agosto na
Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo, e a própria
eleição de domingo passado, disputada num clima de alegria e descontração.
Aqueles que até 15 ou 20 dias atrás faziam ameaças não tão veladas de golpe
podem, agora, meter a viola no saco.
Infelizmente, o que ficou demonstrado foi só a resiliência de nossa democracia, não sua funcionalidade. Ficou demonstrado que, entre nós, os postos eletivos hão de ser preenchidos mediante eleições limpas e livres, segundo uma periodicidade prefixada. E que o processo eleitoral é a única via legítima para o acesso a tais cargos: the only game in town, como dizia Juan Linz, um dos maiores estudiosos dos regimes democráticos.
A insuficiente funcionalidade de nosso
sistema já se evidencia desde agora, antes mesmo do segundo turno. Evidencia-se
no alto grau de fragmentação da estrutura de partidos na Câmara, nosso velho
calcanhar de Aquiles. Só muito raramente um partido consegue eleger 20% dos
deputados federais. Este ano, o PP bateu na trave: conquistou 99 deputados, mas
para atingir a marca dos 20% precisaria chegar a 102. E nunca é demais frisar
que não temos propriamente partidos, mas siglas. Com um arremedo de programa e
coletando certo número de assinaturas, qualquer pequeno aglomerado de cidadãos
pode ir ao Tribunal Superior Eleitoral e registrar uma sigla, mas daí a
transformar tal aglomerado num partido sério vai uma grande distância.
Um bom exemplo, na eleição deste ano, foi a
candidatura da senadora Simone Tebet, pelo MDB. Méritos Simone tem de sobra.
Poderia ter angariado ao menos 10% ou 15% da votação nacional. Mas ficou
bastante aquém disso, e a razão é simples. Não tinha um partido trabalhando a
favor dela, mas um aglomerado trabalhando contra ela, ou, no mínimo,
indiferente ao fato de ela ser na ocasião a portadora da bandeira chamada MDB.
A disfuncionalidade partidária pode,
também, ser avaliada pelo ângulo de alguns destinos individuais. Num país onde
existam partidos, os que se apresentam como candidatos o fazem dentro de certo
balizamento, que não precisa ser rígido, mas que tenha força política e moral
para conferir sentido ao movimento das diversas siglas. Nem metade dos
eleitores precisaria levar no bolso a famosa “cola” ou consultar na última hora
as listas colocadas a disposição pela Justiça Eleitoral. Onde não há partidos,
o quadro que nos é dado presenciar lembra um processo de fissão nuclear, com
prótons e elétrons correndo adoidados para todos os lados.
Os que mais perdem com essa reação em
cadeia são bons candidatos que, em tese, poderiam se eleger, mas não alcançam
tal objetivo, porque não têm o benefício da orientação coletiva que só partidos
de verdade podem prover. Na eleição deste ano, vários foram vitimados pela
solidão política, ou seja, por não terem correligionários relevantes a quem
ouvir, ou por terem perdido o hábito de ouvir correligionários.
João Doria, por exemplo, poderia ter sido
eleito e prestado um importante serviço ao PSDB caso tivesse optado pela
reeleição ao governo de São Paulo, mas só ouviu a si mesmo, insistiu na
candidatura à Presidência da República e foi alijado do pleito. Ainda mais
claro foi o caso de Ciro Gomes. Dono de um admirável currículo como governador
do Ceará, teria chegado ao Senado com um pé nas costas, mas acreditou, pela
quarta vez, poder operar uma proeza que decididamente não estava a seu alcance.
Derrotado vitorioso só houve um, o senador José Serra, que perdeu muito mais
por seus méritos que por seus defeitos. Perdeu por ter-se mantido coerente com
sua trajetória de bom uso dos recursos públicos, fincando o pé contra a maioria
naquela famigerada noite em que todos os outros meteram a mão em R$ 41 bilhões
com objetivo claramente eleitoreiro, cinicamente disfarçado como ajuda de
emergência aos famintos.
Sobre programas econômicos e sociais, quase
todos os candidatos passaram pela cena sem dizer palavra. Otimista
incorrigível, espero ouvir algo nesta reta final para o segundo turno. Sabemos
todos que, sem investimentos, a economia não cresce e o desemprego não diminui.
Promover o crescimento só com recursos públicos é obviamente impossível, pela
singela razão de que tais recursos não existem. Recursos privados nacionais
também não existem. A indústria nacional, que já representou 27% do Produto
Interno Bruto (PIB), agora representa 11%.
Para atrair investimentos estrangeiros, a
polarização populista dos últimos anos tem de acabar. Há quem acredita nisso, e
rezo para que tenham razão. Aí, resta-nos crer que Lula e Bolsonaro mudarão
rápido de cabeça e que os capitalistas estrangeiros, de cujo dinheirinho
dependemos, convertam-se da noite para o dia em devotos de Madre Teresa de
Calcutá.
*Sócio-Diretor da Augurium Consultoria, é membro das Academias Paulista de Letras e Brasileira de Ciências
Nossa Democracia sobreviveu a todos os ataques do GENOCIDA ao longo do seu mandato e desde antes da sua posse! Mas não há garantia de que sobreviverá a mais um mandato do GENOCIDA! Por isto, FHC, Joaquim Barbosa, Serra, Simone Tebet, Ciro Gomes, Pedro Malan, Henrique Meirelles e tantos outros NÃO PETISTAS ou até ANTIPETISTAS perceberam que agora é melhor eleger LULA que dar mais um mandato ao GENOCIDA! O risco de Bolsonaro acabar com a Democracia ou sufocá-la gravemente é muito grande! A violência bolsonarista já se espalhou pela sociedade, e tem tudo pra crescer e explodir sem controle!
ResponderExcluirAgressividade não resolve nada,fiquem todos na paz.
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