quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Bruno Boghossian - Em busca de mais um pretexto

Folha de S. Paulo

Campanha do presidente usa suspeitas a conta-gotas para estimular tumulto eleitoral

Para que não restassem dúvidas, Jair Bolsonaro deixou clara a prioridade de sua campanha nos dias finais do segundo turno. Num comício em Minas Gerais, o presidente alertou os eleitores para o que seria "o assunto do momento" e sentenciou: "Sou vítima mais uma vez".

O comitê da reeleição trabalha há três dias para espalhar a ideia de que Bolsonaro é alvo de uma sabotagem na transmissão da propaganda de rádio. O plano vem sendo executado de forma meticulosa para lançar suspeitas a conta-gotas, tumultuar o ambiente eleitoral, desviar atenções e vitimizar o candidato.

O único fato irrefutável que a campanha de Bolsonaro apresentou até agora foi uma queixa: a de que emissoras de vários estados deixaram de veicular milhares de inserções do candidato durante a programação. Poderia ser verdade, mas comprovar essa afirmação não era necessário para que o presidente começasse a soltar o grito de fraude eleitoral.

A cronologia da operação prova que o objetivo é fabricar confusão na última semana da disputa. Primeiro, a campanha fez uma reclamação sem apresentar as evidências do suposto desequilíbrio. Depois de 24 horas, apresentou uma contagem parcial. No terceiro dia, Bolsonaro levou o tema para o palanque e falou em manipulação eleitoral.

Verificações independentes apontaram que números apresentados pela equipe do presidente não batem com gravações da própria campanha. Além disso, algumas rádios disseram que deixaram de veicular a propaganda de Bolsonaro porque o comitê não enviou os áudios. Mesmo que as inserções não tenham sido veiculadas, a responsabilidade pela fiscalização é de cada candidatura.

Bolsonaro conseguiu energizar sua base e congestionar o ambiente para evitar a discussão de temas desagradáveis para sua campanha. O presidente aposta mais uma vez no batido discurso de que o TSE conspira com o PT, estimulando agitações para melar a disputa. O bolsonarismo pode trocar de roupa e preencher planilhas, mas continua igual.

 

Um comentário:

  1. "Poderia ser verdade, mas comprovar essa afirmação não era necessário para que o presidente começasse a soltar o grito de fraude eleitoral."

    NÃO É VERDADE, o articulista sabe. O genocida da República tem compromisso com a mentira.
    Comprovar pra q? Melhor tocar o berrante; provas nunca são necessárias nas alegações do desgoverno do pedófilo da República.

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