Folha de S. Paulo
Petista saiu na frente no debate, mas
presidente aproveitou melhor oportunidades do bloco final
Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) foram ao debate Folha/UOL/Band/TV
Cultura mais interessados em reforçar os conhecidos pontos de
desgaste do adversário do que enaltecer as próprias qualidades. O atual
presidente conseguiu aproveitar melhor as oportunidades.
As características do segundo turno
favorecem uma aposta de atrair votos por rejeição. Numa
disputa cristalizada há vários meses, os movimentos decisivos a partir de agora
devem depender de eleitores que parecem inclinados fazer uma escolha para
evitar a vitória de um ou outro candidato.
A troca de acusações feita no debate mexe
com as paixões dos eleitores, mas não chega fundo o suficiente para provocar
uma migração em massa para um dos lados.
Lula saiu na frente no primeiro bloco ao
tentar reativar o
tema da pandemia, que anda dormente na cabeça do eleitor. O
ex-presidente ditou o ritmo do confronto inicial com Bolsonaro ao tentar vincular
o rival à demora para a compra de vacinas e ao alto número de mortes por Covid
registrado no Brasil.
O objetivo do petista era dar destaque a marcas negativas que "colaram" em Bolsonaro ao longo dos anos de governo, sendo a pandemia uma das mais fortes.
Nesse mesmo sentido, Lula explorou boa
parte de suas intervenções ainda no início do debate para tentar vincular o
presidente a declarações mentirosas e chegou a chamá-lo de "cara de
pau". A ideia da campanha petista é pegar carona na desconfiança
que uma parcela do eleitorado tem diante das falas de
Bolsonaro, captada pelas pesquisas.
Parecia uma jogada eficiente para Lula,
considerando que o atual presidente andava com certo desconforto no terreno da
defesa das realizações de seu governo. Mas Bolsonaro conseguiu contra-atacar no
bloco final.
O presidente lançou Lula na defensiva com
questionamentos sobre escândalos de corrupção –para os quais o petista, depois
de três debates na atual disputa, ainda não conseguiu
encaixar uma reação matadora.
Bolsonaro, que era assessorado nos
intervalos do debate pelo ex-juiz
Sergio Moro, chegou a acusar o petista de "dividir com
seus amigos" dinheiro do esquema.
Lula perdeu a oportunidade de rebater de
maneira contundente a declaração do adversário. Preferiu repetir o discurso de
que o petrolão só foi descoberto porque havia ferramentas de investigação em
seu governo e que a Lava Jato não
deveria ter "quebrado as empresas" –uma retórica que pode animar
eleitores já convertidos, mas dificilmente convence indecisos que se incomodam
com o tema.
Graças a uma falha do petista, que
administrou mal o tempo distribuído aos candidatos, Bolsonaro ainda ganhou a
chance de fazer um minicomício de seis minutos e desfiar um rosário de
insinuações direcionadas ao eleitorado religioso, repetindo a falsa suspeita de
que um governo do PT fecharia igrejas.
Lula afirmou ter criado uma lei para
proteger a liberdade religiosa e preferiu mandar uma mensagem ao eleitor de
baixa renda, seu principal foco na campanha. Foi uma reação tímida demais para
um tema que tem sido martelado dentro de templos evangélicos, numa operação
coordenada pelo bolsonarismo.
Será que alguém acredita na lorota de que Lula,se ganhar,vai fechar igrejas?
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