Valor Econômico
Perfil dos eleitos indica maior radicalismo
na próxima legislatura
A aliança entre o bolsonarismo e o Centrão
sagrou-se vencedora na eleição para a Câmara e o Senado. Para entender as
implicações desse movimento, no entanto, é preciso fazer um raio-X dessa
composição de forças da direita.
Somando-se os eleitos pelo PL, PP e
Republicanos e colocando na conta o União Brasil (que negocia uma fusão com o
PP) serão 246 deputados e 35 senadores - o que representa 48% e 43% dos plenários
de cada Casa legislativa, índices bem próximos para se garantir maiorias.
A esquerda (PT/PCdoB/PV, Psol/Rede, PSB e
PDT) terá 125 deputados e 13 senadores. É muito pouco: apenas 24,4% da Câmara e
16% do Senado.
Quatro anos depois da eleição de Bolsonaro,
o Congresso também dobrou à direita, para citar o título do livro de Jairo
Nicolau.
Para saber qual a margem que o próximo presidente terá para governar, contudo, é preciso identificar se essa direita eleita é mais bolsonarista ou apenas fisiológica, como o Centrão sempre foi.
Isso é importante porque, no caso de
vitória de Lula, as chances de implementação de sua agenda serão proporcionais
à quantidade de membros não-bolsonaristas do Centrão que ele vai conseguir
atrair para sua base.
Já na eventualidade de virada e reeleição
de Bolsonaro, entretanto, a possibilidade de aprovação de medidas radicais
(como a alteração da composição do Supremo a seu favor, com PEC ou impeachment
de ministros) cresce se o contingente de seus apoiadores mais fiéis for mais
robusto.
Comecemos a análise pelo Senado, que nos
últimos quatro anos constituiu-se na principal força de contenção das propostas
mais disruptivas do presidente no Legislativo. A lista dos 27 senadores eleitos
no domingo indica que essa barreira ameaça ruir graças ao bolsonarismo.
A bancada pessoal de Bolsonaro no Senado
será significativamente ampliada com a eleição de vários seguidores de longa
data - como Damares Alves (Republicanos-DF), Tereza Cristina (PP-MS), Magno
Malta (PL-ES), Marcos Pontes (PL-SP), Rogério Marinho (PL-RN), Hamilton Mourão
(Republicanos-RS) e Jorge Seif (PL-SC) - e de novatos, como Cleitinho Azevedo
(PSC-MG).
Eles se somam a um grupo sólido de
bolsonaristas-raiz que já exerciam mandato, como seu filho Flávio (PL-RJ),
Carlos Viana (PL-MG), Marcos Rogério (PL-RO) e Luiz Carlos Heinze (PP-RS). A
bancada pessoal de Bolsonaro, portanto, é praticamente do mesmo tamanho de toda
a esquerda junta no Senado.
Na Câmara, há elementos para se suspeitar
que o bolsonarismo mais arraigado cresceu mais do que o Centrão fisiológico.
Em qualquer recorte que se faça, o partido
de Bolsonaro é dominante. Entre os 290 deputados federais reeleitos, o PL
apresentou a maior taxa de sucesso (81,4%) mantendo 58 integrantes.
Considerando os 90 detentores de outros
cargos (prefeitos, vereadores, deputados estaduais, governadores, etc.) que
conseguiram uma vaga na Câmara, o PL ficou em primeiro lugar (empatado com
União Brasil e PT), emplacando 12 novos membros.
E entre os 87 novos deputados federais que
nunca haviam ocupado um cargo legislativo, o PL também venceu, com 23 eleitos.
Entre eles estão bolsonaristas de carteirinha, como Nikolas Ferreira, Ricardo
Salles, Eduardo Pazuello, Alexandre Ramagem, Mário Frias, Maurício do Vôlei, o
caminhoneiro Zé Trovão, Roberto Monteiro (pai de Gabriel Monteiro, o deputado
estadual cassado no Rio de Janeiro) e tantos outros.
Um outro caminho para mapear o rumo que o
Congresso vai seguir no ano que vem está na identificação, entre os eleitos, de
parlamentares representantes de igrejas e de forças militares, dada a sua
notória identificação com a pauta conservadora e as bandeiras bolsonaristas.
Computando o número de parlamentares que,
em alguma eleição desde 1998, se identificou como liderança religiosa
(sacerdote, pastor, padre, bispo, etc.) ou como militar (nas suas variadas
patentes), constata-se que as bancadas religiosa e militar vêm crescendo no
Congresso nos últimos pleitos.
De um total de 23 eleitos em 1998 (15
religiosos e 8 militares), o movimento ganhou impulso a partir de 2014 (20
religiosos e 15 militares) e 2018 (23 religiosos e 29 militares). Neste ano,
foram eleitos 22 deputados ligados a igrejas e 38 integrantes das Forças
Armadas e polícias civis e militares - um recorde.
É importante notar, óbvio, que nem todo
religioso ou militar é necessariamente conservador, de direita ou bolsonarista.
Porém, dos 60 novos deputados eleitos com essas vinculações, apenas quatro
pertencem a partidos da esquerda (PT e Psol).
E quem está na frente das recém-eleitas
bancadas da Bíblia e da “bala”? A resposta você já deve imaginar: Jair
Bolsonaro, cuja legenda abrigará quase a metade (27 de 60) desses deputados
evangélicos e militares que tomarão posse em 2023.
Outra maneira de medir a força do
bolsonarismo como movimento político é acompanhar o desempenho eleitoral dos 52
deputados federais eleitos pelo PSL na onda bolsonarista em 2018.
Quatro anos depois, 24 acompanham Bolsonaro
no PL, sendo que 15 foram reeleitos (62,5% de sucesso). Entre os 28 que ficaram
no União Brasil depois da fusão com o DEM ou se dispersaram por outras siglas,
6 conseguiram se reeleger (21,4%).
Meu amigo Alexandre Goldschmidt tem uma
hipótese interessante sobre essa tendência e suas implicações futuras. Ao
comparar os desempenhos da bolsonarista Carla Zambelli (reeleita com 946.244
votos) e de Joice Hasselmann - que após romper com o presidente obteve apenas
13.679 votos -, ele argumenta que o apoio irrestrito a Bolsonaro foi uma
estratégia vencedora nesta legislatura que se encerra.
Dada a nova configuração do Congresso, com
fortes evidências de crescimento do bolsonarismo, o risco da atual legislatura
é que, independentemente da vitória de Lula ou de Bolsonaro, o efeito
Zambelli-Hasselmann reforce ainda mais a radicalização à direita na política
brasileira.
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Cometi um erro e uma indelicadeza ao
afirmar, na coluna do dia 03/10, que Teresa Surita era esposa de Romero Jucá.
Divorciados há mais de uma década, registro aqui a correção e meu pedido de
desculpas à ex-prefeita de Boa Vista.
*Bruno Carazza é mestre em
economia e doutor em direito, é autor de “Dinheiro, Eleições e Poder: as
engrenagens do sistema político brasileiro” (Companhia das Letras)”.
Não há ''indelicadeza'' nenhuma,os dois foram casados,rs.
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