Valor Econômico
O cenário de segundo turno está em aberto
porque há apenas dez dias de campanha pela frente
A oscilação mínima registrada pela pesquisa Datafolha nesta
quarta-feira (19), em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) manteve-se com
49% de intenção de voto e o presidente Jair Bolsonaro (PL) passou de 44% para 45%
ganha relevo pelo campo da pesquisa. Diminuiu o intervalo entre os levantamentos
do instituto. No caso atual, apenas cinco dias separam a pesquisa divulgada
hoje da anterior. No primeiro turno, o Datafolha saía com frequência semanal.
Bolsonaro teve que enfrentar, nos últimos dias, fatores negativos, o mais relevante dos quais a polêmica sobre as meninas venezuelanas com quem se encontrou durante a pandemia, registrou ter “pintado um clima” e sugeriu de maneira injustificada serem prostitutas. Tão prejudicial foi o episódio que o presidente veio a público duas vezes para se explicar.
Muito possivelmente este caso refreou
fatores que impulsionam o presidente nos últimos dias. Bolsonaro tem feito uma
ganha organizada e volumosa no Sudeste, especialmente em Minas Gerais, onde o
governador Romeu Zema (Novo) praticamente parou de governar para fazer campanha
pela reeleição do presidente. De acordo com o Datafolha, no Sudeste, que
representa 45% do eleitorado brasileiro, o presidente tem metade das intenções
de voto, e Lula, 43%.
Também houve nos últimos dias o debate entre Bolsonaro e
Lula na TV Bandeirantes, que provavelmente não é explicação para o resultado da
pesquisa. O confronto foi equilibrado, com o presidente se saindo mal em
relação ao tema da covid e
o ex-presidente sofrendo para explicar a corrupção que houve em seu governo.
Bolsonaro também
conta com algo que vem desde antes do primeiro turno, que é a frequência de
anúncios quase bissemanal de benefícios de caráter eleitoreiro. É um gotejar
contínuo. Se essa campanha do segundo turno se estendesse por mais um mês, e não
por mais dez dias, poderia-se afirmar com segurança que o presidente seria o
favorito nessa disputa. O cenário de segundo turno, contudo, está em aberto
porque há apenas dez dias de campanha pela frente. Como Lula está se mantendo
com 49%, fica nítido que, até o momento, de acordo com o Datafolha, Bolsonaro
não retirou votos do petista.
Para sobrepujá-lo sem uma transferência direta entre um e outro, o presidente precisaria convencer ao menos dois terços dos eleitores que estão indecisos ou pretendem votar nulo ou em branco, uma proeza que seria mais factível se a rejeição de Lula fosse maior que a de Bolsonaro, o que não é o caso. O presidente é repudiado por 50% da amostra e o petista é rechaçado por 46%, o que significa que, praticamente, metade do eleitorado nacional detestará quem quer que seja eleito.
Muita gente não gosta dos dois.
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