Valor Econômico
Mais do que uma síntese, Estado se
transformou num “copia e cola” da disputa nacional
“Quem ganha em Minas, ganha no Brasil” vale
desde a redemocratização. O que nunca se havia visto era um “copia e cola” tão
fidedigno quanto aquele do 1º turno. O percentual de votos dos dois finalistas
foi exatamente o mesmo no Estado e na Federação: 48% (Lula) x 43% (Bolsonaro).
O presidente já esteve quatro vezes no Estado neste 2º turno e o ex-presidente
chega para sua segunda visita nesta sexta. Os movimentos que lá se sucedem
explicam o estreitamento entre ambos exibido pela última rodada do Datafolha e
confirmam que a disputa seguirá cada vez mais apertada até o dia 30.
Nenhum governador reeleito arregaçou tanto
as mangas pelo presidente da República quanto Romeu Zema (Novo). É claro que a
perspectiva de poder sinalizada nesta parceria é um ativo de Jair Bolsonaro,
mas a causa e efeito desta aliança não é o que parece.
Zema resistiu à abordagem de pelo menos dois emissários, um empresário e outro do PSDB, para se manter neutro na disputa e se preservar para ser o candidato liberal à Presidência em 2026.
E a razão é porque ele depende mais de
Bolsonaro do que o inverso. Isso ficou claro na sua queda de braço com
policiais militares do Estado, que não se rebelaram como em outros momentos
porque foram contidos por emissários bolsonaristas.
A dependência se confirmou na eleição. No
1º turno, o governador desfrutou do material de propaganda do Avante, do
deputado André Janones. O partido subscreveu o voto Luzema, e fez campanha
desviando de Lula e com a artilharia focada em Fernando Pimentel, a quem
sucedeu no governo. Com isso, conseguiu tirá-lo da disputa por uma cadeira na
Câmara e se beneficiar do voto lulista. No 2º turno, o governador pulou no bote
bolsonarista de olho na governabilidade.
O governador reelegeu-se com 56% dos votos,
mas não convenceu como puxador de votos. O Novo, em Minas, não fez um único
deputado federal. Dos três que tinha na Assembleia Legislativa não reelegeu
nenhum. Dois estrearão na Casa - um herdou mais votos de sua dinastia política
do que do governador ou do partido.
Para a maioria na Assembleia Legislativa,
enrosco do primeiro mandato, Zema vai precisar dos eleitos nas asas do
bolsonarismo. A começar pelo vice-presidente da Casa, que deixou o PSDB pelo
PL, e já anunciou a disposição de disputar o comando da mesa diretora. Maior
partido da Casa, o PT (12 deputados) polariza com o PL de Bolsonaro (9), e não
com o Novo de Zema (2).
Essa polarização prossegue na Câmara. O
vereador youtuber Nikolas Ferreira (PL), deputado federal mais votado do país,
puxou seis cadeiras para seu partido, mas a maior legenda da bancada será a do
PT (10), que terá como aliadas uma deputada trans (Duda Salabert) e uma
indígena (Celia Xakriabá),
Outro sinal de que a antipolítica passa
muito bem, obrigada, foi que o PL, além de eleger os deputados federal
(Nikolas) e estadual (Bruno Engler) mais votados do Estado, ainda fez o senador
Cleitinho, todos youtubers.
Foi com truques dessa gente que o comício
de Bolsonaro em Montes Claros foi filmado e compartilhado, o que não significa
que o presidente não tenha se espraiado na região que é a mais beneficiada pelo
Auxílio Brasil no Estado. No Datafolha, Bolsonaro avança para além da margem de
erro entre os beneficiários.
No mesmo palanque juntaram-se Bolsonaro,
Zema, os youtubers e Humberto Souto, o prefeito de Montes Claros, de 88 anos,
um hiperconservador que estreou na política pela Arena, em 1962, exerceu sete
mandatos de deputado federal, um dos quais como líder do governo Fernando
Collor e foi presidente do TCU antes de se eleger, duas vezes, para comandar a
cidade com o discurso anticorrupção.
Lula ganhou na cidade que é o principal
polo da região, mas por uma diferença de 1,7 ponto percentual. Vinte anos
atrás, o petista teve o dobro dos votos que José Serra e Anthony Garotinho
somaram no município. Paulo Guedes, o deputado federal petista da região, foi
reeleito mas com uma votação menor do que a de 2018, que ele atribui a uma
concorrência desvantajosa face aos contemplados pelo orçamento secreto.
Guedes estima que a diferença de Lula para
Bolsonaro possa chegar a 1 milhão de votos (foram 560 mil no 1º turno), mas não
está claro de onde virão. Juiz de Fora e Teófilo Otoni, as duas maiores
prefeituras petistas, serão visitadas por Lula nesta sexta.
O petista conta ainda com o
vice-governador, Paulo Brant, do PSDB, excluído da chapa de Zema à reeleição,
além do prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman, do PSD, que é pressionado a
adotar, no segundo turno, o passe livre do qual se esquivou no primeiro. O
movimento ganhou corpo a partir das pressões do governo estadual contra o uso,
previsto em lei, de ônibus escolares para o transporte de eleitores.
Lula perdeu na capital mineira em 2 de
outubro, mas só a votação da senadora Simone Tebet, que o acompanhará ao
Estado, já compensaria a diferença. Apesar de derrotado na disputa pela
reeleição, o senador Alexandre Silveira é considerado hoje a liderança do PSD
mais ativa na campanha lulista no Estado.
Pesa contra Lula a hegemonia bolsonarista
no empresariado. Não importam pelo número de votos que têm, mas pelo peso de
seus negócios nas cidades que atuam e na pressão que são capazes de exercer
sobre funcionários e fornecedores.
Um velho político mineiro, com trânsito no
empresariado, não tem dúvida de que o agronegócio mineiro está todo com
Bolsonaro. E dá uma dica preciosa para Lula sobre como lidar com o fato.
Não há como convertê-lo, basta não
amedrontá-lo, diz. Recomenda que o petista se valha do Código Florestal como a
bíblia de seu programa para o agronegócio e diga que o Estado tem instrumentos
para dissuadir o conflito no campo - “O medo é um motor que ativa as pessoas e
a meta deve ser desmobilizá-lo”.
A julgar pelos números oficiais das contribuições de campanha, tão importante quanto essa mobilização é aquela que junta dinheiro e fé. Como mostrou Ricardo Mendonça, no Valor, vem de um investidor e pastor, Fabiano Zettel, da igreja evangélica Bola de Neve, de BH, a maior doação para Bolsonaro. Não poderia haver coquetel mais representativo da sedimentação bolsonarista no país. Precisa mais do que o esquadrão digital de Janones, outro mineiro e evangélico, para contê-lo.
Perfeito !
ResponderExcluirLula ganhando por um voto está bom,mas não tenho certeza de nada,ninguém deve ter.
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