Valor Econômico
Golpismo de Bolsonaro sempre volta quando se perde a narrativa
“Embora seja loucura, há um certo método
nela”, comentou Polônio, depois de ouvir um desvario de Hamlet, o príncipe que
fingia ser louco na peça de Shakespeare para orquestrar sua vingança. O
auxiliar do rei da Dinamarca desconfiou de que a loucura de Hamlet era uma
fraude momentos antes de ser assassinado por ele.
A retórica do complô à qual o presidente
Jair Bolsonaro desde sempre recorre para alimentar o golpismo segue um padrão:
ela volta à tona quando, por um motivo ou outro, o bolsonarismo perde o
controle da narrativa. É uma retórica assentada em bases frágeis, mas cuja
possível letalidade não pode ser subestimada.
De certa maneira era esperada no meio político a volta com força do discurso anti-institucional, caso aumentasse a dúvida sobre as chances do presidente em se reeleger. Como sempre faz nestas ocasiões, Bolsonaro vai até um certo limite do qual não ultrapassa. A porta para o recuo está sempre aberta. O presidente acusou a Justiça Eleitoral de fazer vista grossa a um boicote generalizado por parte de emissoras de rádio, principalmente do Norte e Nordeste, a inserções suas no horário eleitoral do segundo turno. O presidente do TSE arquivou a denúncia. Assustando a República, Bolsonaro convocou uma coletiva no Palácio do Alvorada para dizer que vai recorrer e fazer discurso de campanha. Ponto.
O episódio não impede a realização das
eleições este domingo, mas eis o país novamente a discutir se o voto popular
vai valer ou não, enquanto desce para o segundo plano toda a pauta negativa que
sacudiu a campanha bolsonarista nesta rodada final das eleições: a resistência
armada de Roberto Jefferson a um mandado judicial, a insinuação feita pelo
presidente de que adolescentes venezuelanas se prostituem, a revelação de que
há estudos no Ministério da Economia que poderiam afetar quem recebe
aposentadoria, paga imposto de renda e depende de salário mínimo, ou seja,
potencialmente explosivos para quase todo mundo.
O segundo turno começou com uma ofensiva
impressionante de Bolsonaro na conquista de poder sobre máquinas, públicas e
privadas, capazes de influenciar o eleitorado.
Do ponto de vista público, ganhou a adesão
do governador de Minas Gerais, Romeu Zema, com quem visitou cinco vezes o
Estado no segundo turno. Além do apoio de coadjuvantes como o governador de São
Paulo, Rodrigo Garcia.
Na esfera privada, segundo o Ministério
Público do Trabalho, já são 1.633 denúncias de assédio eleitoral em 2022, com
1.284 empresas denunciadas, sendo que 449 denúncias e 360 denunciadas são de
Minas Gerais. O principal foco do problema no Brasil.
Efeito dessa pressão toda em Minas Gerais,
segundo os últimos levantamentos divulgados com o recorte pelo Estado:
duvidoso. Lula continua à frente de Bolsonaro em Minas Gerais com margem de
cinco pontos percentuais, nos levantamentos que apontam Lula à frente de
Bolsonaro no plano nacional. Perde em Minas nas pesquisas que mostram o petista
atrás no Brasil. E empata nas que dão empate entre os dois rivais do segundo
turno. Ou seja, Minas é um reflexo do Brasil e aparentemente Zema e Bolsonaro
não conseguem mudar essa dinâmica. A imagem no espelho não ganha autonomia.
“Achar que o governador de Minas reescreve
a história eleitoral com o uso da máquina pressupõe pensar que não existe
consciência política entre os mineiros”, diz o coordenador da campanha de Lula
em Minas, o deputado Reginaldo Lopes (PT) que reconhece jamais ter visto
ofensiva igual a que Bolsonaro e Zema fazem no Estado.
De todo modo, como aponta Antonio Lavareda,
do Ipespe, todas as pesquisas até o feriado de Aparecida convergiam para um
mesmo resultado: a diferença entre Lula e Bolsonaro nas pesquisas caía, com o
presidente ganhando terreno e o petista estável. Para Lavareda, efeito de
comunicação melhor nas redes sociais e na televisão e da contínua percepção de
melhora da situação econômica do eleitor.
Este movimento, de acordo com Andrei Roman,
do Atlas Intel, começa a ter inflexão a partir da viralização da entrevista em
que o presidente mencionou ter “pintado um clima” entre ele e as meninas
venezuelanas que Bolsonaro erroneamente considerou serem prostitutas.
Embora o presidente tenha se saído melhor
que Lula no debate da TV Bandeirantes, há sinais de que não conseguiu imprimir
a sua narrativa a respeito desse episódio. A confluência do noticiário sobre
mudanças econômicas com o de Roberto Jefferson atacando policiais produziu o
que Roman chama de “tempestade perfeita”: uma perda completa de controle da
pauta eleitoral pelo presidente, que passou a semana tendo que dar explicações
sobre essa agenda imprevista. Bolsonaro passou a ser reativo no debate do
segundo turno. As pesquisas, em sua maioria, registraram estabilidade, como foi
o caso do Datafolha de ontem, que registrou Lula com 49% e Bolsonaro com 44%.
A questão de Jefferson foi disruptiva para
Bolsonaro por atingir em cheio um dos eixos da argumentação de Bolsonaro, que é
a defesa da liberdade de expressão, supostamente ameaçada pelo ativismo do STF.
Alvo dos inquéritos conduzidos por Alexandre Moraes, Jefferson era uma espécie
de mártir da causa. Isso se evaporou depois das duas granadas lançadas sobre a
polícia e os 50 tiros de fuzis desferidos. Lavareda chama a atenção para o
baixo comparecimento dos atos que estavam convocados esta semana para protestos
contra o Supremo.
A campanha agressiva de aliados de Lula,
portanto, mostrou-se eficaz nos últimos dez dias. Fora da guerra suja dos
ataques eleitorais, o petista ainda teve o engajamento mais efetivo em sua
campanha da terceira colocada, Simone Tebet.
O ex-presidente vai tocando a sua campanha
sem se deslocar muito de São Paulo, enquanto seus articuladores se esforçam
para conter o provável aumento da abstenção eleitoral no segundo turno. Essa
variável, somada ao debate da TV Globo que acontecerá hoje, contém as apostas
na vitória de Lula no próximo domingo. Abstenção alta e desempenho ruim no
confronto direto podem fazer a balança pender para Bolsonaro. O resultado deve
ser a eleição com maior divisão do eleitorado em toda a história.
Chororô e mimimi de perdedor! O canalha não é coveiro, mas enterrou o nosso país e nossas esperanças de melhores momentos durante seu DESgoverno! O pior presidente da história do país ainda quer mais 4 anos pra repetir suas maldades!
ResponderExcluirE terminar de destruir o que restou do país e da nossa Democracia...
ResponderExcluirÓtima coluna, o jornalista mostra o MÉTODO CONTRA A DEMOCRACIA, que caracterizou boa parte das ações do presidente Bolsonaro na segunda metade do seu mandato! O miliciano canalha mostrou suas garras, não era o homem simples e sensível que finge ser agora, ao perceber que está perdendo definitivamente a eleição.
ResponderExcluirA abstenção pode definir o resultado nas urnas.
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