Valor Econômico
Eduardo Leite pecou por excesso de ambição;
pode ficar sem nada
Os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso
e Luiz Inácio Lula da Silva trataram, nos bastidores, do apoio dos tucanos ao
petista. Presidente emérito do PSDB, FHC deixou claro que não poderia defender
aliança já no primeiro turno da eleição, mesmo sabendo que o partido não teria
um candidato competitivo.
As primeiras conversas ocorreram em março
do ano passado, quando ambos fizeram diagnóstico convergente sobre a extrema
polarização que caracteriza a política brasileira neste momento. Trata-se de
fenômeno nada parecido com a disputa protagonizada pelo PSDB e o PT durante
vinte anos (entre as eleições de 1994 e 2014). Concluída essa análise, FHC e
Lula também convergiram sobre a necessidade de formação de uma frente ampla
para enfrentar o presidente Jair Bolsonaro (PL) no pleito deste ano.
Fernando Henrique jamais acreditou na emergência de uma “terceira via” competitiva. Amigo de João Doria, elogiou a gestão do tucano no governo de São Paulo e defendeu oficialmente seu direito de disputar a Presidência da República, conquistado em eleição prévia e, depois, “cassado” pela cúpula do próprio PSDB. FHC não apostava, porém, na possibilidade de Doria tornar-se competitivo frente a Bolsonaro e Lula.
Indagado certa vez sobre Eduardo Leite, o
elogiado ex-governador do Rio Grande do Sul, Fernando Henrique disse o
seguinte: “Dizem que ele é bom, mas nunca veio aqui me visitar”. Não se trata
de arrogância do único político do PSDB a ser eleito presidente da República -
duas vezes (em 1994 e 1998), ambas no primeiro turno, algo inédito desde 1989,
quando esse instituto foi adotado no Brasil.
Jovem (37 anos) e novato na política,
Eduardo Leite mostrou-se extremamente ambicioso. Elegeu-se governador em 2018
com o apoio decisivo de Bolsonaro. Depois, durante a pandemia, como fizeram
outros aliados do presidente naquele pleito, rompeu com o mandatário e, com o
apoio de antigas lideranças do PSDB (Aécio Neves e José Aníbal, por exemplo),
entrou em disputa renhida contra Doria na eleição prévia para a escolha do
candidato do partido à Presidência.
No Rio Grande do Sul, com Eduardo Leite no
comando, pela primeira vez, até onde a vista alcança, um governador conseguiu a
proeza de promover mudanças institucionais consideradas impopulares e,
simultaneamente, ter sua gestão aprovada pela maioria da população. E olha que
os gaúchos nunca deram a ninguém o direito de se reeleger.
Entusiasmado com a repercussão de seu
desempenho no Estado e entre formadores de opinião de peso nacional, Leite
acreditou que seria o candidato tucano à Presidência mesmo se fosse derrotado
nas prévias pelo então governador de São Paulo. Incensado por correligionários
que lhe asseguravam que Doria seria “cristianizado”, deu relevante contribuição
para fragilizar, ainda mais, o partido que sai desta eleição como o maior
derrotado.
Os tucanos foram apeados por Bolsonaro da
polarização com o PT; perderam São Paulo depois de administrar o Estado mais
rico do país por 28 anos; não têm expectativa de poder em Minas Gerais, segundo
colégio eleitoral do país, outrora a segunda maior área de influência da
legenda, e agora correm o sério risco de malogro onde, antes da campanha
eleitoral, estavam bem - o Rio Grande do Sul de Eduardo Leite.
O fato é que Doria venceu a terceira prévia
consecutiva que disputou no PSDB, porém, foi mesmo “cristianizado” pela cúpula
da legenda. No entanto, Leite, depois de renunciar ao cargo de governador bem
avaliado do Rio Grande do Sul e posar para fotos acompanhado de Aécio Neves e
de políticos que jamais embarcariam na campanha do tucano, não ganhou nem no
tapetão a candidatura a presidente. E, aí, para desgosto de seu sucessor no
Sul, certo de que disputaria a reeleição agora, Leite voltou ao Estado para
descumprir promessa feita em 2018 - a de não se candidatar à reeleição.
Todo político se caracteriza pela ambição
ao poder, não há nada errado nisso. O pecado de Eduardo Leite foi “entrar no
ônibus e já querer se sentar na janela”, como disse certa vez Romário, quando
ainda era gênio do futebol em vez de político, sobre seu então técnico no
Fluminense, Alexandre Gama, que cometeu a “heresia” de não escalá-lo para vários
jogos do time e, também, de afirmar que Ronaldo Fenômeno foi o melhor jogador
brasileiro revelado depois de Pelé. Ademais, Leite só procurou FHC depois na
véspera das prévias. Tarde demais. Agora, as últimas pesquisas mostram empate
técnico entre o tucano e Onyx Lorenzoni, candidato do PL e de Bolsonaro ao
governo do Rio Grande do Sul.
FHC explica que, no ambiente de polarização
aguda no qual o país vive desde o impeachment de Dilma Rousseff da Presidência,
em 2016, Lula e Bolsonaro são as únicas lideranças de expressão nacional. O que
acontece agora, em torno do petista, foi antecipado em detalhes pelo
ex-presidente no início do ano passado, quando ficou claro para ele que, apesar
do negacionismo de Bolsonaro durante a pandemia, fato que teria atrasado a
vacinação dos brasileiros e, assim, tornado o país um dos epicentros da
contaminação da população pelo vírus da covid-19, o presidente chegaria à
eleição deste ano mais competitivo do que se esperava.
“O jogo do poder é um jogo difícil de
ganhar do Lula, não é brincadeira, é difícil. Ele sabe. Lula segue a regra.
Instintivamente, ele sempre faz isso. Isso não quer dizer que o outro lado não
possa transformar o Lula num fantasma outra vez. Pode, independentemente do
Lula. É claro que eu não vou contribuir para isso nunca”, disse o
ex-presidente. Ele previu a “frente ampla” que se fez em torno do petista,
inclusive, com a sua ajuda.
“Bolsonaro é mais extremo que o Lula. Se
não aparecer uma [terceira] candidatura, o Lula vai somar essa gente [que hoje
faz oposição ao governo] para enfrentá-lo”, disse FHC em março do ano passado.
Ficou claro para Lula que, amparada num
grande arco de alianças, sua candidatura em 2022 não poderia simbolizar o que
seu adversário o acusa de representar - ideias extremistas de esquerda,
associadas ao socialismo, como sempre defenderam algumas tendências do PT.
Nasceu dessas conversas a ideia de aproximação do petista do ex-governador
Geraldo Alckmin, que, sem espaço no PSDB, filiou-se ao PSB como parte de um
acordo para ser candidato a vice na chapa de Lula.
Acima de tudo, FHC é um democrata! Entre as ameaças constantes de Bolsonaro e as décadas de atuação permanentemente democrática de Lula, o todo-poderoso tucano não tinha escolha! Até demorou muito, pois, se tivesse apoiado Lula no primeiro turno, talvez não precisasse este segundo turno e não houvesse este risco de ressuscitar o morto-vivo, zumbi GENOCIDA, no segundo turno! Com as mentiras de sempre e os cúmplices eleitos, o miliciano mentiroso conseguiu arrotar e rugir mais um pouco, e atacar ainda mais seus opositores, agora no desespero e ultrapassando todos os limites que sua campanha eleitoral está disposta a fazer, atribuindo maldades a seu oponente.
ResponderExcluirOs melhores quadros da política brasileira estão com o Lula,mesmo assim não está sendo fácil.
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