quinta-feira, 13 de outubro de 2022

Cristiano Romero - O papel de FHC no apoio a Lula

Valor Econômico

Eduardo Leite pecou por excesso de ambição; pode ficar sem nada

Os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva trataram, nos bastidores, do apoio dos tucanos ao petista. Presidente emérito do PSDB, FHC deixou claro que não poderia defender aliança já no primeiro turno da eleição, mesmo sabendo que o partido não teria um candidato competitivo.

As primeiras conversas ocorreram em março do ano passado, quando ambos fizeram diagnóstico convergente sobre a extrema polarização que caracteriza a política brasileira neste momento. Trata-se de fenômeno nada parecido com a disputa protagonizada pelo PSDB e o PT durante vinte anos (entre as eleições de 1994 e 2014). Concluída essa análise, FHC e Lula também convergiram sobre a necessidade de formação de uma frente ampla para enfrentar o presidente Jair Bolsonaro (PL) no pleito deste ano.

Fernando Henrique jamais acreditou na emergência de uma “terceira via” competitiva. Amigo de João Doria, elogiou a gestão do tucano no governo de São Paulo e defendeu oficialmente seu direito de disputar a Presidência da República, conquistado em eleição prévia e, depois, “cassado” pela cúpula do próprio PSDB. FHC não apostava, porém, na possibilidade de Doria tornar-se competitivo frente a Bolsonaro e Lula.

Indagado certa vez sobre Eduardo Leite, o elogiado ex-governador do Rio Grande do Sul, Fernando Henrique disse o seguinte: “Dizem que ele é bom, mas nunca veio aqui me visitar”. Não se trata de arrogância do único político do PSDB a ser eleito presidente da República - duas vezes (em 1994 e 1998), ambas no primeiro turno, algo inédito desde 1989, quando esse instituto foi adotado no Brasil.

Jovem (37 anos) e novato na política, Eduardo Leite mostrou-se extremamente ambicioso. Elegeu-se governador em 2018 com o apoio decisivo de Bolsonaro. Depois, durante a pandemia, como fizeram outros aliados do presidente naquele pleito, rompeu com o mandatário e, com o apoio de antigas lideranças do PSDB (Aécio Neves e José Aníbal, por exemplo), entrou em disputa renhida contra Doria na eleição prévia para a escolha do candidato do partido à Presidência.

No Rio Grande do Sul, com Eduardo Leite no comando, pela primeira vez, até onde a vista alcança, um governador conseguiu a proeza de promover mudanças institucionais consideradas impopulares e, simultaneamente, ter sua gestão aprovada pela maioria da população. E olha que os gaúchos nunca deram a ninguém o direito de se reeleger.

Entusiasmado com a repercussão de seu desempenho no Estado e entre formadores de opinião de peso nacional, Leite acreditou que seria o candidato tucano à Presidência mesmo se fosse derrotado nas prévias pelo então governador de São Paulo. Incensado por correligionários que lhe asseguravam que Doria seria “cristianizado”, deu relevante contribuição para fragilizar, ainda mais, o partido que sai desta eleição como o maior derrotado.

Os tucanos foram apeados por Bolsonaro da polarização com o PT; perderam São Paulo depois de administrar o Estado mais rico do país por 28 anos; não têm expectativa de poder em Minas Gerais, segundo colégio eleitoral do país, outrora a segunda maior área de influência da legenda, e agora correm o sério risco de malogro onde, antes da campanha eleitoral, estavam bem - o Rio Grande do Sul de Eduardo Leite.

O fato é que Doria venceu a terceira prévia consecutiva que disputou no PSDB, porém, foi mesmo “cristianizado” pela cúpula da legenda. No entanto, Leite, depois de renunciar ao cargo de governador bem avaliado do Rio Grande do Sul e posar para fotos acompanhado de Aécio Neves e de políticos que jamais embarcariam na campanha do tucano, não ganhou nem no tapetão a candidatura a presidente. E, aí, para desgosto de seu sucessor no Sul, certo de que disputaria a reeleição agora, Leite voltou ao Estado para descumprir promessa feita em 2018 - a de não se candidatar à reeleição.

Todo político se caracteriza pela ambição ao poder, não há nada errado nisso. O pecado de Eduardo Leite foi “entrar no ônibus e já querer se sentar na janela”, como disse certa vez Romário, quando ainda era gênio do futebol em vez de político, sobre seu então técnico no Fluminense, Alexandre Gama, que cometeu a “heresia” de não escalá-lo para vários jogos do time e, também, de afirmar que Ronaldo Fenômeno foi o melhor jogador brasileiro revelado depois de Pelé. Ademais, Leite só procurou FHC depois na véspera das prévias. Tarde demais. Agora, as últimas pesquisas mostram empate técnico entre o tucano e Onyx Lorenzoni, candidato do PL e de Bolsonaro ao governo do Rio Grande do Sul.

FHC explica que, no ambiente de polarização aguda no qual o país vive desde o impeachment de Dilma Rousseff da Presidência, em 2016, Lula e Bolsonaro são as únicas lideranças de expressão nacional. O que acontece agora, em torno do petista, foi antecipado em detalhes pelo ex-presidente no início do ano passado, quando ficou claro para ele que, apesar do negacionismo de Bolsonaro durante a pandemia, fato que teria atrasado a vacinação dos brasileiros e, assim, tornado o país um dos epicentros da contaminação da população pelo vírus da covid-19, o presidente chegaria à eleição deste ano mais competitivo do que se esperava.

“O jogo do poder é um jogo difícil de ganhar do Lula, não é brincadeira, é difícil. Ele sabe. Lula segue a regra. Instintivamente, ele sempre faz isso. Isso não quer dizer que o outro lado não possa transformar o Lula num fantasma outra vez. Pode, independentemente do Lula. É claro que eu não vou contribuir para isso nunca”, disse o ex-presidente. Ele previu a “frente ampla” que se fez em torno do petista, inclusive, com a sua ajuda.

“Bolsonaro é mais extremo que o Lula. Se não aparecer uma [terceira] candidatura, o Lula vai somar essa gente [que hoje faz oposição ao governo] para enfrentá-lo”, disse FHC em março do ano passado.

Ficou claro para Lula que, amparada num grande arco de alianças, sua candidatura em 2022 não poderia simbolizar o que seu adversário o acusa de representar - ideias extremistas de esquerda, associadas ao socialismo, como sempre defenderam algumas tendências do PT. Nasceu dessas conversas a ideia de aproximação do petista do ex-governador Geraldo Alckmin, que, sem espaço no PSDB, filiou-se ao PSB como parte de um acordo para ser candidato a vice na chapa de Lula.

 

2 comentários:

Anônimo disse...

Acima de tudo, FHC é um democrata! Entre as ameaças constantes de Bolsonaro e as décadas de atuação permanentemente democrática de Lula, o todo-poderoso tucano não tinha escolha! Até demorou muito, pois, se tivesse apoiado Lula no primeiro turno, talvez não precisasse este segundo turno e não houvesse este risco de ressuscitar o morto-vivo, zumbi GENOCIDA, no segundo turno! Com as mentiras de sempre e os cúmplices eleitos, o miliciano mentiroso conseguiu arrotar e rugir mais um pouco, e atacar ainda mais seus opositores, agora no desespero e ultrapassando todos os limites que sua campanha eleitoral está disposta a fazer, atribuindo maldades a seu oponente.

ADEMAR AMANCIO disse...

Os melhores quadros da política brasileira estão com o Lula,mesmo assim não está sendo fácil.