Valor Econômico
Lula quer novo mandato para salvar sua
imagem histórica
Quando afirmou que, se eleito, montará um
governo “além do PT”, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva mandou recados
às correntes mais à esquerda do partido e, claro, ao mercado. Não se deve
esperar, de fato, que Lula, reinstalado no Palácio do Planalto, abra espaço na
administração para petistas que provoquem a mínima dúvida sobre o rumo da
política econômica num possível terceiro mandato.
Em junho de 2002, quando Lula, líder das
pesquisas, lançou a famosa “Carta aos Brasileiros”, em que assumiu compromissos
com a disciplina fiscal e o cumprimento dos contratos, muitos viram aquilo como
sinalização ao mercado. Ora, este ignorou a carta e seguiu apostando que, uma
vez eleito, o petista mudaria radicalmente a política econômica herdada do
governo Fernando Henrique Cardoso.
Nas semanas e meses seguintes e até pouco depois da eleição de 20 anos atrás, as condições financeiras do país - taxa de câmbio, juro futuro e mercado acionário - pioraram de forma significativa. A desconfiança de investidores locais e estrangeiros em relação a um governo do PT era tanta que, no espaço de poucos meses o Brasil perdeu divisas em dólar num volume que tornou real o risco de calote no pagamento de seus compromissos com o exterior.
A situação era tão delicada que o Banco
Central (BC), na ocasião comandado por Arminio Fraga, se viu obrigado a operar
sob o regime de dominância fiscal. Isso ocorre quando a autoridade monetária
abre mão de cumprir temporariamente sua missão precípua, isto é, elevar a taxa
básica de juros (Selic) com o objetivo de conter o aumento da inflação, para
evitar insolvência das finanças públicas. Como se sabe, toda vez que a Selic
sobe, o endividamento da União se expande porque a maior parte da dívida
pública é corrigida pela taxa básica de juros.
Os destinatários da “Carta aos Brasileiros” foram os próprios petistas, companheiros do ex-presidente desde a fundação do partido, no início da década de 1980. E por que a carta foi tão necessária? Porque, fundador da legenda e seu líder inconteste desde sempre, Lula sempre soube que, se há uma “cláusula pétrea” no consórcio da maioria dos brasileiros com a instituição eleição, é a rejeição, sem indulgência, ao chamado “estelionato eleitoral”.
Lula começou a construir a sua chegada à
Presidência da República logo após a derrota, para FHC, no pleito de 1994. O
petista percebeu que, sem fazer alianças ao centro do espectro político, ele,
um ex-metalúrgico que entrou na vida política como líder sindical nos
estertores da ditadura, jamais subiria a rampa do Palácio do Planalto no papel
de presidente da República.
Havia outras pedras no caminho de Lula. No
movimento sindical, Lula procurou se distinguir do velho sindicalismo de
caráter varguista. Seu “novo sindicalismo” prezava, acima de qualquer
alinhamento ideológico, a negociação exaustiva com os patrões, pragmático, mas
sem concessões ao peleguismo predominante nos principais sindicatos e centrais
da época. E, na arte de negociar, não havia ninguém como Lula.
O “novo sindicalismo”, ao não cerrar
fileiras com partidos de esquerda, foi visto com suspeita por alguns - chegaram
a dizer que o petista, que começou a se projetar nacionalmente durante as
greves dos metalúrgicos do ABC paulista em 1975, era “obra” de Golbery do Couto
e Silva, o arquiteto da transição, durante o governo Geisel (1974-1979), da
ditadura para a democracia; a teoria, bem ao estilo conspiratório, era a de que
Golbery “inventou” Lula, um sindicalista “pequeno burguês” e, portanto, anticomunista,
para fazer frente à possibilidade de Leonel Brizola, último herdeiro um
político de inspiração socialista, ao retornar do exílio, chegar à Presidência
da República; para os militares, seria o fim do mundo, afinal, eles golpearam a
ordem institucional em 1964, justamente para varrer o getulismo que dominava a
política brasileira desde 1930.
Iniciada a abertura política, em 1979, Lula
deixa o movimento sindical e funda o PT ao lado dos seguintes grupos: os
sindicalistas, representantes da igreja católica ligados à chamada Teologia da
Libertação, os intelectuais de esquerda, especialmente da USP, ex-integrantes
dos movimentos de guerrilha que combateram a ditadura durante os “anos de
chumbo” (1968-1978) e parte expressiva dos sindicatos ligados a categorias do
funcionalismo federal.
Em 1995, Lula chama um de seus desafetos no
PT José Dirceu - para conversar, expõe suas visões sobre as chances limitadas
de o PT chegar ao poder e pergunta se ele toparia operar, dentro do partido, as
mudanças necessárias, com vistas a tornar a sigla menos “radical” e aberta a
alianças, inclusive, com partidos de direita. Se alguém tinha competência e
liderança para exercer a missão era Dirceu porque, sem ser investido desse
papel, teria sido um obstáculo à estratégia formulada originalmente por Lula.
A eleição de 1998, quando o petista perdeu
novamente para FHC, no primeiro turno do pleito, serviu apenas para reforçar a
ideia de que, sem alianças, sem concessões inclusive à direita, num país
diversificado e de acentuadas desigualdades como o Brasil, Lula e o PT jamais
chegariam a Brasília. Portanto, a “Carta aos Brasileiros” de 2002 foi apenas um
capítulo de uma história iniciada oito anos antes.
A eleição de domingo tem, para Lula, um
significado único. Tendo saído de seu segundo mandato, em 2010, com aprovação
de 85% dos brasileiros, o petista jamais imaginou que sua sucessora, escolhida
unicamente por ele, arruinaria, em menos de seis anos, não apenas a sua herança
administrativa e política, mas também pessoal. Se, em dezembro de 2010, era
difícil encontrar um brasileiro que se dissesse insatisfeito com a gestão de
Lula na Presidência, em 2017, quando ele foi preso, a história era outra - para
opinião geral, ele teria um péssimo presidente, além de ter assaltado os cofres
públicos.
Se a maioria dos eleitores der a Lula um terceiro mandato, aos 77 anos, ele dedicar-se-á integralmente a fazer um governo que coloque seu nome na história como o Lula de 2010, e não o de 2017.
Texto interessante, analisando a história de Lula e os desafios que enfrentará se for eleito no próximo domingo! A chance de ele ganhar é IMENSA!
ResponderExcluirA enganação que está acabando é a do GENOCIDA! Fingido, se faz de religioso e cristão, quando é corrupto, mentiroso e pedófilo!
ResponderExcluirVerdade. Bem colado.
ExcluirEu,boia fria,aposentei na era Lula,hoje pobre não consegue aposentar.
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