O Estado de S. Paulo
A divisão do País em bolhas herméticas não permite consenso sequer sobre o que são fatos
É difícil imaginar a quatro dias da decisão
de domingo que o resultado das urnas “resolva” a disputa política. Ao
contrário: a vitória de um lado vai apenas confirmar os piores temores e
“certezas” do outro.
Se confirmado o favoritismo de Lula nas
pesquisas, triunfa a interpretação da realidade de “trapaça” urdida por
tribunais superiores focados em destruir Bolsonaro. E confirma-se a existência
de uma “ditadura judicial” tal como percebida por 42% do eleitorado, segundo
pesquisa da Atlas Intel.
Para substancial parcela do eleitorado, o combate às fake news com poderes ampliados do TSE não passa de imposição de censura. E seria apenas mais uma ferramenta no arsenal técnico-jurídico com que tribunais superiores atuam em favor de uma candidatura – a de Lula.
A gravidade da situação em que estamos se
traduz no fato de que não importa mais atestar ou não a veracidade do que possa
comprovar ou desmentir a “parcialidade” dos tribunais superiores. A noção da
interferência política de STF e TSE está solidificada em parcela relevante da
população, especialmente nas elites econômicas.
Trata-se de perversa consequência do
fenômeno de transformação de tribunais superiores em instâncias que interferem
na vida política e econômica tomando decisões políticas. “Ainda bem que foi
assim, pois o STF nos salvou do pior na pandemia”, ponderam vozes de respeito
no mundo do Direito.
Seja como for, a “deslegitimização” do
Judiciário não é somente resultado de ação política de grupos antidemocráticos
associados ao bolsonarismo raiz. É processo de longo curso, que a atual disputa
provavelmente colocou no patamar do irreversível – talvez ainda pior se
Bolsonaro conseguir a reeleição.
Pois também na interpretação da realidade
de Lula a Justiça serviu sobretudo para submetê-lo a injusto massacre no
período da Lava Jato. Exorbitâncias foram toleradas contanto que servissem para
tirar o PT do poder. Como são toleradas hoje – a aplicação temporária de
censura prévia, por exemplo –, se essa “excepcionalidade” ajuda a demolir a
máquina de propaganda do adversário.
A questão da atuação dos tribunais
superiores é apenas um dos aspectos que evidenciam como visões de mundo
moldaram e solidificaram “bolhas” herméticas ao contraditório. Há vários outros
que não cabem neste texto. Provavelmente vale para o Brasil o que a sociologia
americana constatou nas eleições por lá: a adesão a uma “bolha” explicava
tempos atrás menos de 30% do voto, hoje explica mais de 70%.
Estão desaparecendo premissas para uma
possível “concertación” pós-pleito. Não há acordo sequer sobre o que são fatos.
"Para substancial parcela do eleitorado, o combate às fake news com poderes ampliados do TSE não passa de imposição de censura. E seria apenas mais uma ferramenta no arsenal técnico-jurídico com que tribunais superiores atuam em favor de uma candidatura – a de Lula."
ResponderExcluirParte dos eleitores assim DIZ mas ESSA IDEIA DE CENSURA É FALSA.
De qq forma, dentre os q dizem q há censura há (1/2) aqueles q realmente creem nesta falsidade e há (2/2) os q dizem isso apenas da boca pra fora pra defender seu candidato e sabem q é falso.
É como as pessoas q dizem q bolsonaro é honesto apesar dos 51 imóveis em dinheiro vivo - alguns realmente creem na honestidade e dizem; outros não creem mas dizem da mesma forma.
As pesquisas não captam esta sutil mas importante diferença. Após as eleições, LULA GANHANDO, estes 2 grupos tendem a se separar facilitando a governabilidade.
O judiciário está agindo com imparcialidade,os abusos bolsonaristas estão sendo contidos.
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