segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Fernando Gabeira - Brasil respira de novo com o fim da era Bolsonaro

O Globo

Hoje é dia de celebrar em nome dos povos originários, que seriam destruídos com a sequência da política bolsonarista

Chegou ao fim a era Jair Bolsonaro. Não nos esperam um jardim florido, um amanhã que canta; pelo contrário, há muitas pedras no caminho.

Mas hoje é dia de celebrar em nome de muita coisa. Da floresta, dos povos originários, que seriam destruídos sem piedade com a sequência da política bolsonarista. Da humanidade que, diante da possibilidade de proteção da Amazônia, respira um pouco mais aliviada tendo em vista a ameaça das mudanças climáticas.

Celebrar em nome das crianças brasileiras que terão a oportunidade de um mutirão pelo ensino, depois da tempestade perfeita: pandemia e uma sequência de incompetentes ministros da Educação.

Celebrar pela paz, uma vez que é possível reverter a política que inundou o país de armas e transformou a sala de jantar de bolsonaristas como Roberto Jefferson num arsenal de fuzis e granadas.

Celebrar pela cultura que emergir desse clima de guerra criado por teóricos da extrema direita, pela ciência que poderá florescer diante de negacionistas que se recusam a admitir a existência de um perigoso vírus ou mesmo a aceitar a forma real do planeta Terra.

Agora, com a derrota de Bolsonaro e seus falsos discursos sobre defesa da família, é possível que amigos, primos e irmãos se reconciliem, sem que isso represente uma capitulação diante das preferências do outro. Aceitar a diferença, despedir-se do clima de ódio é algo tão urgente em nosso país que o próprio Papa Francisco o ressaltou em sua fala no Vaticano.

A esta altura da vida, não tenho ilusões. Nem creio que a gigantesca tarefa de recolocar o Brasil no rumo dependa apenas de um novo presidente. Acredito, no entanto, que o processo de redemocratização que nos trouxe do exílio vive uma nova chance.

Hoje não é dia de falar nisso, mas precisaremos saber por que chegamos a Bolsonaro e que tipo de antídoto social produziremos para evitar uma nova queda. A distância entre os políticos e as pessoas comuns foi uma excelente chance para os oportunistas do tipo vamos “derrubar tudo o que está aí” — leia-se derrubar as instituições.

Vivemos inundados por um tsunami de fake news. Elas foram uma grande ameaça à campanha. Mas são e serão sempre também ameaça a governos. Precisaremos encontrar pontos de convergência que nos unam diante do interesse nacional e compreender que fake news não se combatem apenas com repressão.

Precisaremos de cursos que ensinem os cidadãos a usar seus próprios filtros para que possam resistir a essa arma. Precisaremos encontrar os pontos de convergência, o inequívoco interesse nacional, que possam nos unir, ainda que apenas por alguns momentos.

Precisaremos aprender a distinguir conservadores de reacionários, a mostrar aos religiosos de boa-fé que se equivocaram ao acreditar em líderes espúrios como Jefferson ou Bolsonaro.

São tantas as qualidades que o novo momento exige de nós, que temo anuviar a celebração ao enunciá-las. Paciência, habilidade, imaginação, tolerância, todos esses componentes terão de se combinar não apenas para gritar “nunca mais” como possivelmente todos gritam hoje.

Precisaremos nos entender sobre como transformar o nunca mais numa realidade. No auge das grandes manifestações pelas eleições diretas, ao voltar do exílio, não imaginei que isso era um problema real.

Agora que o autoritarismo, a violência, a intolerância e o obscurantismo rondaram de novo nosso país, seria um absurdo riscar da agenda esse compromisso com o nunca mais.

A maioria do povo brasileiro escolheu um caminho. Nossa missão é trabalhar incansavelmente para que seja um novo caminho, e não apenas mais um descaminho no labirinto da nossa História.

O mundo inteiro celebra nossa volta à comunidade internacional, nossa reintegração ao esforço humano para sobreviver num planeta em crise.

 

8 comentários:

  1. "Chegou ao fim a era Jair Bolsonaro. ... hoje é dia de celebrar em nome de muita coisa."

    Verdade. Q bom estar do lado certo da história. Celebremos.

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  2. "Precisaremos aprender a distinguir conservadores de reacionários, a mostrar aos religiosos de boa-fé que se equivocaram ao acreditar em líderes espúrios como Jefferson ou Bolsonaro."

    O gado é reacionário. O q pasta por aqui com certeza o é. Hoje ele tá sumido. Deve ser ressaca.
    Sumido igual ao bozo. São 11:44 e o palerma vagabundo da República ainda não trabalhou hoje.

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  3. Tudo será mas fácil sem o perturbador-mor. A maldade estará fora do cardápio e a digestão estará facilitada. É incrível como o país pode ter chegado a isso, a coisa ruim e queria ficar assim como o amarelo ovo do Trump não desencarna. O país acordou mais leve pronto a tomar a direção da sorte, o azar caiu fora.

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  4. É assim que nascem os Hitler, espero que esse perigo não volte a repetir.

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  5. Paulo dos Santos Andion1/11/22 08:11

    Precisamos nos perguntar por quê dão fim a programas como o " minha casa minha vida" , se tudo começa do Norte para o Sul ou do Leste para o Oeste e vice -versa.

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  6. Hisayo Nanami5/11/22 16:15

    Também não sou coveiro não, mas tenho a consciência, limpa, de que fiz o melhor que pude para enterrá-lo nessas eleições de 2022.
    Amanhã, graças a mim, a outros conscientes 60 milhões, e a São LULA do PT, iremos virtualmente à Missa de 7° dia do pior e mais cruel presidente que o Brasil já teve, devidamente apeado para sempre do poder.
    Vamos comemorar?

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  7. Na minha adolescência /juventude perguntado pelo João Moraes sobre o homem mais poderoso do nosso país respondi na lata" Caetano Veloso e Gabeira. João me considerar ingênuo até hoje. O poderoso segundo ele era Roberto Marinho. Haja controvérsia .

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