Folha de S. Paulo
Sacada do Ocidente foi romper com a lógica
tribal dos clãs para produzir instituições impessoais
As instituições estão funcionando? A
pergunta é capciosa. Se Bolsonaro perder a eleição, cenário que me parece
mais provável, ainda que não garantido, elas terão de algum modo funcionado. O
país e a democracia, afinal, terão sobrevivido a quatro anos de um presidente
entrópico, que ameaçou com golpe e fez o que pôde para sabotar os órgãos
incumbidos de controlá-lo.
Só que essa não é a história toda. Há também um sentido em que as instituições já não funcionaram, qualquer que seja o desfecho da disputa presidencial. Bolsonaro colocou o Estado brasileiro a serviço de sua reeleição. O uso da máquina pública foi superlativo e despudorado. Somando todas as medidas que tinham por objetivo mantê-lo no Planalto, chegamos às centenas de bilhões de reais. Não penso que o adjetivo "justo" se aplique a um pleito travado sob tais condições.
O Parlamento, que deveria ser a primeira
barreira contra esses abusos, foi cúmplice no crime. Num gesto digno de prêmio
IgNobel, até a oposição votou a favor de alguns deles. A última linha de
defesa, o TSE parece mais preocupado em atuar como ombudsman de
horário eleitoral. É claro que "fake news" são um problema do qual o
tribunal deve se ocupar, mas seus efeitos são uma gota no oceano quando
comparados aos do megaestelionato eleitoral planaltino.
É verdade que o TSE ainda poderá agir,
mesmo após a conclusão do pleito. Eu receio, porém, que o atraso tenha aqui
consequências nefastas. Se a chapa de Bolsonaro for derrotada, o processo perde
sua razão de ser; se for vitoriosa, o tribunal, ao cassá-la, poderá gerar uma
enorme crise política, ainda que tenha razões técnicas de sobra para justificar
a decisão. Em qualquer caso, as instituições perdem.
A grande sacada do Ocidente foi romper com
a lógica tribal dos clãs para produzir instituições impessoais. Bolsonaro, em
poucos meses, reverteu os pequenos avanços que levamos décadas para produzir.
As instituições já perderam muito, a Democracia está em frangalhos, e o GENOCIDA, mesmo perdendo a eleição, já provocou estragos gigantescos! Se vencê-la, 4 anos de desgraças ainda maiores nos aguardam! O GENOCIDA já deixou 400 mil brasileiros pra trás durante a pandemia... Quantos milhões ele vai abandonar ou matar num eventual segundo mandato? E no terceiro mandato que ele certamente vai querer continuar?
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