O Estado de S. Paulo
A necessidade de apoiar o PT em 1989 e em
1992, para buscar derrotar Collor e Maluf, renova-se hoje, com muito maior
gravidade.
Na eleição presidencial de 1989, na qual os
maiores partidos foram derrotados no primeiro turno, trabalhei em prol da
candidatura do meu mestre Ulysses Guimarães, de quem fora assessor especial na
Constituinte e a pedido de quem obtive de vários advogados alagoanos retrato de
corpo inteiro de Collor, não denunciados na campanha, por causa da índole
própria de Ulysses de não recorrer a acusações mesmo que pertinentes. Mas a
biografia do “caçador de marajás” era comprometedora, a começar pelo escândalo
da restituição do ICMS da cana aos usineiros, seus correligionários, que já
tinham sido ressarcidos pelo Instituto do Álcool e do Açúcar, seguida da
concessão de isenção do ICMS.
Assim, contra Collor, que se antecipava um
perigoso desviante, votei, no segundo turno, em Lula – aliás, em posição
idêntica àquela assumida por Mario Covas e todo o PSDB no famoso comício do
Pacaembu. Logo saí do PMDB, que virara o partido do Quércia, e passei para o
PSDB, onde estavam as forças políticas com as quais me iniciara na vida
partidária.
Em 1992, sendo vice-presidente do PSDB de São Paulo, no segundo turno da eleição para prefeito, houve efetiva adesão do partido à candidatura de Suplicy, do PT, contra a figura de nosso figadal adversário, Paulo Maluf, representante da ditadura.
Em maio de 2018, escrevi aqui que votar em
Bolsonaro era decidir pela volta à ditadura pelo voto. Em outubro daquele ano,
à véspera das eleições, publiquei outro artigo, reproduzido em meu livro
recente, Bolsonárias, denunciando ser desastroso votar em Bolsonaro por
ser um sectário infenso à pluralidade e à democracia que se constrói pelo
diálogo com o Congresso Nacional e com a sociedade em sua rica diversidade. E
mais: o capitão candidato era defensor da tortura, sendo inaceitável tê-lo na
Presidência. Anulei o voto: foi um erro, pois o destruidor mandato de Bolsonaro
superou a expectativa negativa.
Agora, dei ao longo da campanha apoio à
competente e séria senadora Simone Tebet, mas a polarização instalada não
permitiu a racionalidade conduzir o eleitor, que em sua maioria se dividiu
entre Lula e Bolsonaro.
A necessidade de apoiar o PT em 1989 e em
1992, para buscar derrotar Collor e Maluf, renova-se hoje, com muito maior
gravidade, diante da angustiante, sufocante mesmo, possibilidade de novo
mandato de Bolsonaro, com o risco de inaugurar a dinastia, sendo sucedido por
um dos queridos filhos.
Vivenciamos, neste último quadriênio,
imenso retrocesso civilizatório, graças ao cotidiano desprezo à dignidade da
pessoa humana por Bolsonaro, a revelar uma personalidade perversa, sem freios
morais, que o leva a ter gosto pela morte a ponto de designar o torturador
Major Ustra como herói nacional; ao ridicularizar as vítimas de covid-19
imitando pessoa com falta de ar; ao dizer que vacina “só no Faísca”, seu cachorro;
ao comentar, no enterro de Elisabeth II, que “todos um dia morrerão”,
banalizando a perda de uma mulher notável, com desprezo pela dor do povo
britânico ao transformar nossa embaixada em Londres em palanque eleitoral.
Há seis anos, imensa corrupção lavrou na
Petrobras, operou-se intenso aparelhamento do Estado e deu-se causa a grave
recessão, fruto do descalabro econômico do governo Dilma. Essas as razões do
pedido de impeachment ao qual aderi. Mas a reprovação ao PT deve, agora, ceder
frente à ameaça de mal maior. Votar em Lula não significa aprovar os desmandos
ocorridos, mas reconhecer que a sensibilidade e a reverência à pluralidade
voltarão a ditar o comportamento governamental, com respeito à diversidade da
sociedade civil, vigendo a liberdade de se manter alerta contra novos desvios,
sem ser objeto de perseguição política.
Votar em Lula afastará a atual discussão
sobre a interferência das Forças Armadas no campo político. Não mais seremos
continuamente atribulados pelas manifestações, com aplauso do presidente, em
favor do fechamento do Congresso. Não mais se falará em golpe militar. Não mais
se irá atingir o Supremo Tribunal Federal, o Tribunal Superior Eleitoral e os
seus ministros com ofensas chulas. Não mais serão chamados embaixadores para ouvir
ataques levianos às urnas eleitorais, em reunião de dar vergonha ao País. Não
mais se confundirá religião cristã com totemismo, ao bater no peito a fé em
Cristo ao tempo em que se gritam elogios ao falo presidencial, autoproclamado
infalível. Não mais se enfraquecerá a defesa do meio ambiente. Não mais se
decretará sigilo por um século dos atos dos parentes. Não mais se deixará de
acudir às populações indígenas, vítimas na pandemia do descaso governamental.
Não mais haverá aplauso às chacinas. Não mais a ONU será transformada em
palanque eleitoral.
Basta saber o que não ocorrerá no governo
Lula, mas que sucederá com certeza em próximo governo Bolsonaro, para decidir,
com tranquila convicção, sobre a necessidade de derrotar definitivamente o
capitão desde já, hoje, no primeiro turno, pois no segundo tudo se pode esperar
do seu descontrole, incitando seus sequazes fanáticos.
*Advogado, professor titular sênior da Faculdade
de Direito da USP, membro da Academia Paulista de Letras, foi ministro da Justiça
"Cumpre derrotar Bolsonaro hoje"
ResponderExcluirSó GADO continua na canoa furada do palerma-presidente.
O gado é tão burro q não percebe q bozo e seus zeros já abandonaram a canoa furada.
LULA PRESIDENTE HOJE.
Ah, gado, q seja no 2o turno - mas será!