O Globo
O agronegócio está dominado pelos
defensores da pauta de destruição ambiental. Os que defendem o meio ambiente
não se separam do joio
Já não há mais trigo no campo. Se houver
algum remanescente, é tão pouco e raro, tão sem voz, que o agronegócio se faz
ouvir apenas pelos representantes do joio. Pesquisadores da Embrapa que estão
vendo os riscos ambientais e climáticos não têm espaço para seus estudos.
Empresários do ramo que apostavam numa atualização das práticas da agropecuária
brasileira sempre foram minoritários, mas agora estão perdendo espaço. As
grandes indústrias do setor proclamam serem ESG, mas fazem vistas grossas para
o rolo compressor da bancada ruralista.
Esse é o caminho da derrota. Em todos os sentidos. Falemos de negócios. Um economista que acompanha com lupa o que acontece nesse setor sustenta que, se os compradores decidirem boicotar o Brasil, em poucos anos conseguem viabilizar concorrentes e redirecionar suas compras.
A cientista Mercedes Bustamante, da
Universidade de Brasília, e uma das integrantes do Painel Científico da
Amazônia, publicou um artigo no “Correio Braziliense” com um título sugestivo:
“Por que a verdadeira defesa da agricultura brasileira é a conservação da
natureza.” Ela analisa no artigo a fusão “equivocada e destrutiva” das pautas
da agricultura brasileira com as ações de redução ambiental. “Tal fusão rendeu
ao governo federal o apoio massivo da chamada bancada ruralista que, ao
contrário do que deveria defender, privilegia a visão de curto prazo em um
setor econômico que depende essencialmente da garantia de condições de longo
prazo.”
O mistério é por que o agronegócio que se
esforça para estar dentro das regras de conformidade ambiental não demarca o
terreno e diz que a bancada ruralista não o representa? A resposta talvez
esteja na fronteira difusa entre o legal e o ilegal no campo brasileiro.
Produtores do interior de São Paulo e do Sul do país têm muitas vezes
empreendimentos na Amazônia e se beneficiam, no curto prazo, do desmonte
regulatório e da estrutura de fiscalização feito pelo governo Bolsonaro.
Pecuaristas usam o truque de criar o boi em terras públicas, áreas de
conservação e terras indígenas e, na hora de vender, o gado é levado para
empreendimentos em áreas legalizadas. É a lavagem do boi. Assim, eles fingem
atender às exigências dos frigoríficos, que fingem cumprir as regras de
conformidade dos padrões ambientais.
Depois de desmontar todo o aparato de
fiscalização do Ibama e do ICMbio, descaracterizar a Funai, tentar estrangular
o Inpe, o governo tem calado vozes divergentes na Embrapa. É a mesma coisa que
acontece na Indonésia, que baniu cinco cientistas estrangeiros que escreveram
sobre os riscos à vida animal do país e tem impedido pesquisadores locais de
falar do assunto.
No Brasil, os empresários que se manifestam
por um agronegócio que respeite o meio ambiente ou falam por si mesmos ou são
isolados das entidades representativas. Até recentemente se dizia que havia
dois tipos de empresários do setor, os coniventes ou participantes dos crimes
ambientais e os que defendiam uma agricultura moderna e sustentável. Mas o avanço
do bolsonarismo, e da pauta de desmonte ambiental dentro do Congresso só
fortaleceu o primeiro grupo.
As eleições mostraram o grande poder
político que o pior agro tem. O MapBiomas comprovou que Jair Bolsonaro venceu
as eleições em 265 municípios na Amazônia que respondem por 70% da área
desmatada. Lula ganhou nos 499 municípios que têm taxas de desmatamento menor.
Os cientistas e ambientalistas têm tentado
estabelecer pontes com o agronegócio explicando como a preservação ambiental é
o melhor caminho para a sustentabilidade econômica da agricultura brasileira.
Como fez Bustamante no artigo. Ela alertou que “no Brasil, a agricultura estará
entre as principais vítimas” do risco sistêmico produzido pelo desmatamento. Há
a queda da fertilidade do solo, o desequilíbrio do regime de chuvas, a perda de
polinizadores e do controle natural de pragas e doenças.
A agricultura brasileira optou por uma
marcha da insensatez, basta ver o apoio majoritário que a agenda da destruição
tem no Congresso. Hoje, parece um grande negócio o uso descontrolado de
agrotóxicos, a legalização de terras griladas, a pecuária extensiva. Um dia,
senhores, virá a colheita. Não poderão dizer, como na parábola bíblica, “o
inimigo é que fez isso”. Terão sido os senhores mesmos, os donos do joio.
"Depois de desmontar todo o aparato de fiscalização do Ibama e do ICMbio, descaracterizar a Funai, tentar estrangular o Inpe, o governo tem calado vozes divergentes na Embrapa"
ResponderExcluirTudo do palerma da República é assim, fraudulento. Ô cabra mentiroso e destruidor.
Joio bolsonarista matou o trigo... Realmente, é só joio na seara bolsonarista, não tem mais trigo ali! Aliás, acho que nunca teve...
ResponderExcluirÉ tudo muito triste e real.
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