Editoriais / Opiniões
Cortes em educação são inaceitáveis
O Globo
Após
repercussão negativa, ministro recua em bloqueio que poderia levar ao
fechamento de universidades
No
afã de se reeleger, o presidente Jair Bolsonaro abriu a torneira dos gastos.
Ampliou valor e alcance do Auxílio Brasil, criou programas eleitoreiros como
bolsa-caminhoneiro e bolsa-taxista, antecipou o pagamento de benefícios e assim
por diante. Era inevitável que, para equilibrar as contas, precisasse promover
cortes no Orçamento. A questão é a natureza dos cortes. Mais uma vez, na hora
de conter despesas, o governo avança sem constrangimento sobre setores
essenciais, como educação, comprovando a falta de comprometimento com a
melhoria do ensino — prioridade máxima para o desenvolvimento.
Diante da grita generalizada das universidades públicas e dos danos previsíveis à campanha do presidente Jair Bolsonaro à reeleição, o ministro da Educação, Victor Godoy, publicou ontem um vídeo informando o desbloqueio dos recursos de universidades, institutos federais e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Ele não deu detalhes sobre valores. A decisão é correta, mas só foi tomada depois da repercussão negativa, para corrigir um equívoco inaceitável. Na quinta-feira, o próprio ministro havia minimizado o contingenciamento, alegando se tratar apenas de “limitação na movimentação financeira” do MEC. Afirmou ainda que as universidades usavam o tema politicamente.
Pelos
cálculos da Instituição Fiscal Independente (IFI), houve bloqueio de R$ 3
bilhões no Orçamento do Ministério da Educação para 2022 (fora os R$ 2,4
bilhões já cortados na comparação com a dotação orçamentária original). O setor
já vem cambaleando em meio à escassez de recursos e ao crescimento das
despesas. Nas universidades, colégios e institutos federais, ameaçados de
perder R$ 328 milhões (ou R$ 763 milhões, se somados os cortes desde 2021), a
notícia gerou uma onda de desespero. Reitores se puseram a fazer cálculos para
saber como — e se — conseguiriam terminar o ano letivo. Faltaria dinheiro para
despesas básicas, como contas de água e luz. Com o bloqueio, a Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) poderia ter de fechar as portas. O impasse se repetia
noutras instituições país afora.
Tão
absurdo quanto o corte em áreas essenciais é a falta de transparência do
governo sobre o contingenciamento. O decreto de reprogramação orçamentária,
publicado no Diário Oficial, não detalhou onde seriam feitos os bloqueios. A
análise da IFI mostra que, além da Educação, onde houve o corte mais drástico,
foram afetados os ministérios de Ciência, Tecnologia e Inovações (R$ 1,7
bilhão), Saúde (R$ 1,6 bilhão), Desenvolvimento Regional (R$ 1,5 bilhão) e
Defesa (R$ 1,1 bilhão).
É
inevitável que o governo tenha de remanejar o Orçamento depois da gastança em
ano eleitoral, promovida para favorecer a reeleição do presidente. Mas precisa
assumir o ônus da situação que ele mesmo criou. É essencial explicar aos
brasileiros onde e por que os cortes serão feitos, independentemente do efeito
na campanha eleitoral.
Jamais
haverá justificativa, obviamente, para escolher a Educação como alvo
preferencial. O ensino em todos os níveis sofreu impacto brutal na pandemia. A
paralisação de escolas e universidades causou prejuízos incalculáveis, que
precisam ser recuperados com urgência. Voltar a fechar salas de aula, desta vez
pela inépcia do governo em se planejar, só agravaria a tragédia.
Redução na produção de petróleo pela Opep é fracasso diplomático
de Biden
O Globo
Resultado
será alta da gasolina às vésperas da eleição americana, inflação e ameaça de
recessão global
Na primeira reunião presencial
desde março de 2020, a Organização dos Países Exportadores de
Petróleo (Opep) decidiu em Viena na quarta-feira cortar sua produção em
2%, ou 2 milhões de barris diários. A decisão elevará os
preços no mundo todo. Não foi uma medida qualquer, pelas implicações que a alta
na cotação do petróleo terá num mundo ainda convulsionado pelos efeitos da
pandemia, agravados pela guerra na Ucrânia.
A alta do petróleo no mercado internacional surpreende por ser um movimento contrário aos interesses da Casa Branca, liderado por um tradicional aliado dos Estados Unidos, a Arábia Saudita do príncipe Mohammed bin Salman. As relações entre sauditas e americanos estavam estremecidas diante das evidências comprometendo Bin Salman no assassinato e esquartejamento do jornalista dissidente Jamal Khashoggi na Turquia em 2018, mas o presidente americano, Joe Biden, esteve com o saudita em julho para uma reaproximação.
A decisão da Opep revela que a investida diplomática de Biden foi um fracasso.
A alta do petróleo encarecerá os combustíveis nos Estados Unidos e impulsionará
a inflação, hoje na faixa dos 8%, a poucas semanas das eleições de meio de
mandato. É tudo o que Biden não quer. É praticamente certa a retomada, pelos
republicanos, do controle da Câmara e a cada dia mais provável a do Senado.
Confirmado o desastre político, restará a Biden cumprir os dois anos restantes
do seu mandato isolado na Casa Branca, sem capacidade de aprovar projetos no
Congresso.
Em resposta à Opep, ele determinou ao Departamento de Energia que libere no mês que vem 10 milhões de barris da reserva estratégica americana. Pode haver algum efeito imediato, mas, com a inflação em alta no mundo e agora impulsionada pelo corte de produção da Opep, as taxas de juros continuarão subindo. O Federal Reserve atrasou-se para começar a elevar os juros depois da invasão da Ucrânia e tem de correr atrás do prejuízo.
Durante toda a pandemia, os juros americanos estavam próximos a zero. Em
setembro já oscilavam entre 3% e 3,5%. O Banco Central Europeu (BCE) segue a
mesma tendência e elevou sua taxa em 0,75 ponto percentual no mês passado, para
acima de 2% dependendo do tipo de empréstimo. Isso só faz aumentar a
preocupação com a economia global, que emite há tempos sinais de estar à beira
de uma recessão.
Para o Brasil e os demais países emergentes, haverá mais dificuldades na obtenção de empréstimos a taxas baixas no exterior e provável alta no câmbio, provocada pela saída de divisas atrás de remunerações mais vantajosas lá fora. A valorização do dólar inevitavelmente terá impacto na inflação brasileira. O Banco Central interrompeu seu ciclo de alta dos juros em 13,75%, mas a situação no ano que vem traz incerteza sobre a queda esperada doravante. O assunto poderá ser tema de debate na campanha do segundo turno.
Virada à paulista
Folha de S. Paulo
Datafolha confirma liderança de Tarcísio e
cenário difícil para Haddad em SP
A primeira pesquisa do Datafolha sobre o
segundo turno da corrida ao Palácio dos Bandeirantes confirma o
que o resultado da primeira rodada já indicava: a eleição complicou-se
sobremaneira para o outrora líder Fernando Haddad (PT).
O bolsonarista Tarcísio de Freitas
(Republicanos), que foi o mais votado no último domingo (2), aparece agora com
50% das intenções, ante 40% do petista. Brancos e nulos somam 6%, e indecisos,
4%. Em votos válidos, são 55% a 45% para o candidato do Palácio do Planalto.
O antipetismo do eleitorado paulista, em
particular o do interior, parece um dos fatores a explicar a arrancada de
Tarcísio —ao que tudo indica, ele recebeu o voto útil de centristas e
direitistas.
Essa hipótese se torna bastante verossímil
quando se considera a votação do governador Rodrigo Garcia (PSDB). O tucano não
estava tão atrás nas pesquisas, mas minguou nas urnas —um movimento sugestivo
de que boa parte de seus potenciais eleitores migrou para o candidato
bolsonarista.
São óbvias as dificuldades de Haddad agora.
Viradas em segundo turno, embora obviamente possíveis, estão longe de ser a
regra. Nunca aconteceram num pleito presidencial; nos estaduais e municipais,
os postulantes que saem na frente confirmam a vitória em cerca de três quartos
das vezes.
A rejeição ao ex-prefeito da capital,
ademais, chega a 51%,
enquanto a do rival é de 39%. Quanto aos padrinhos presidenciáveis,
cumpre recordar que Jair Bolsonaro (PL) teve 48% dos votos válidos em São Paulo
no primeiro turno, ante 41% de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Entre os eleitores de Rodrigo, 57% afirmam
que ele deveria apoiar Tarcísio agora, enquanto 39% se inclinam por Haddad —os
demais pregam voto branco ou nulo ou dizem não saber. O dado reforça a
percepção de que, ideologicamente, os apoiadores do governador estão mais
próximos do candidato do Republicanos.
O próprio Rodrigo, que encerrará um período
de 28 anos de hegemonia tucana em São Paulo, já escancarou sua preferência —ou
ao menos sua aposta política. Na terça-feira (4), declarou "apoio
incondicional" a Bolsonaro e Tarcísio, num movimento que rachou ainda mais
o já combalido PSDB.
Figuras históricas do partido, ainda
identificadas à social-democracia, apressaram-se em distanciar-se do governador
e declarar voto em Lula no segundo turno. Rodrigo perdeu ainda três de seus
secretários, que não admitiram cerrar fileiras com o presidente.
Trata-se de desfecho um tanto melancólico
para o sétimo mandato consecutivo do partido no estado, acentuando o
esvaziamento nacional refletido na eleição de apenas 13 deputados federais.
Impunidade ambiental
Folha de S. Paulo
Ibama facilita prescrição de multas,
contrariando norma e seguindo Bolsonaro
Jair Bolsonaro (PL) elegeu-se em 2018
prometendo acabar com aquilo que chamou de "festa" de multas
ambientais por parte do Ibama.
Desde então, o governo não só tem se
esmerado em cumprir esse desígnio antiecológico como vem buscando também tornar
inócuas as punições expedidas antes de sua ascensão à Presidência.
Documentos
obtidos por esta Folha comprovam que a cúpula do Ibama tem
agido para facilitar a prescrição das sanções determinadas pela instituição.
Segundo um parecer da Procuradoria Federal
junto à autarquia, a autoridade responsável pelo julgamento de recursos —seu
presidente, Eduardo Fortunato Bim– vem declarando a prescrição de multas por
entender que determinados despachos nos processos internos não interrompem a
contagem de prazos.
Ocorre que tais decisões se dão ao arrepio
de uma instrução normativa do Ibama de 2009, que foi atualizada em 2014. Bim,
cumpre recordar, já chegou a ser afastado do cargo pelo STF por 90 dias, no
âmbito da operação que
investiga a suposta facilitação do contrabando de madeira da
Amazônia pelo ex-ministro Ricardo Salles.
Na justificativa, o órgão simplesmente
ignora a vigência da instrução normativa e afirma basear-se em precedentes
julgados por tribunais regionais federais.
O impacto dessa arbitrariedade pode ser
tremendo. O próprio Ibama estima que 45 mil processos, os quais totalizam R$
18,8 bilhões em valores nominais, têm "elevada probabilidade de serem
atingidos pela prescrição", caso o novo entendimento seja aplicado.
O número corresponde à soma das infrações
encaminhadas para instrução e julgamento antes do decreto de Bolsonaro que, em
2019, instituiu a conciliação ambiental —medida destinada a protelar o
andamento dos processos.
Ou seja, busca-se dificultar ainda mais o
já problemático processo de recebimento do valor das autuações: apenas 5% delas
são de fato pagas, dada a quantidade de recursos administrativos e judiciais.
Tal movimento se dá em paralelo ao desmonte
da capacidade fiscalizadora do Ibama, que fez desabar a quantidade de multas e
embargos nos últimos anos.
Ocioso dizer que tamanha impunidade funciona como um potente estímulo ao crime ambiental organizado —como repetidamente atestam os satélites que medem o desmatamento na Amazônia.
Riscos e oportunidades do Supremo
O Estado de S. Paulo
Senado bolsonarista traz riscos para a separação dos Poderes. É hora de o Supremo renovar, livre e corajosamente, sua compreensão sobre seus limites e seus deveres constitucionais
As eleições geraram uma nova camada de
pressão sobre o Supremo Tribunal Federal (STF). Jair Bolsonaro, o político que,
desde a redemocratização do País, mais enfrentou e atacou o Supremo, elegeu 20
aliados para o Senado, entre as 27 cadeiras disputadas neste ano. Na composição
da próxima legislatura, o PL, partido de Jair Bolsonaro, terá a maior bancada
da Casa, com 13 senadores, seguido por União Brasil (12), PSD (10), MDB (10),
PT (9), PP (7) e Podemos (6). As outras legendas somam 14 cadeiras.
O novo cenário traz riscos para o
funcionamento do Estado Democrático de Direito. Não custa lembrar que, no ano
passado, Jair Bolsonaro apresentou ao Senado uma denúncia de crime de
responsabilidade contra o ministro Alexandre de Moraes. O pedido de impeachment
não tinha nenhum fundamento. Foi uma tentativa nada sutil de constranger o
magistrado responsável por inquéritos envolvendo bolsonaristas e o próprio
Bolsonaro. Felizmente, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, rejeitou
prontamente a denúncia, por absoluta inépcia. No entanto, a depender de quem
venha a ocupar a chefia da Casa no próximo biênio, esse tipo de denúncia pode
ter outros encaminhamentos, interferindo na separação dos Poderes. Com a turma
bolsonarista, todo cuidado é pouco.
Ao mesmo tempo, a composição do Senado após
as eleições pode ser uma excelente oportunidade para que o STF renove, sem medo
e sem acanhamento, sua compreensão sobre suas próprias competências. Mais do
que nunca, é necessário que a Corte esteja consciente de seus limites e seus deveres
constitucionais.
Não é fácil a posição do Supremo. A
Constituição de 1988 é abrangente e, ao longo do tempo, o Congresso ampliou
ainda mais seu alcance. Ou seja, o STF tem, por força do próprio texto
constitucional, uma amplíssima competência sobre o Estado e a sociedade. Não há
como escapar disso, seja qual for a composição política do Senado. Afinal, a
missão do Supremo é defender a Constituição.
Para piorar, o próprio Executivo e membros
das Casas Legislativas recorrem muitas vezes ao Supremo para tentar reverter
derrotas políticas sofridas no Congresso. Há uma frequente judicialização da
política, com a tentativa de que o STF seja instância revisora da política.
Trata-se de manobra que viola a independência dos Poderes. Cabe ao Supremo
sumariamente rejeitá-la.
No Estado Democrático de Direito, questões
políticas são decididas por quem recebeu voto – e os ministros do Supremo não
receberam nenhum voto. A função dos magistrados é aplicar o Direito, e não
arbitrar disputas políticas. Infelizmente, como este jornal alertou diversas
vezes, o Supremo não tem sido, ao longo deste século, muito rigoroso em seus
limites, usando interpretações expansivas para dar a algumas matérias o
encaminhamento político da preferência dos magistrados – ou de parte da população
que os pressiona.
A renovada compreensão por parte do STF de
suas competências constitucionais não significa, no entanto, apenas reduzir sua
atuação. É também uma maior consciência de seus deveres. Seja qual for a
composição do Congresso, o Supremo tem a tarefa de defender a Constituição. Não
foi por acaso que Jair Bolsonaro transformou o STF em seu adversário político.
Toda a trajetória política do presidente está centrada na rejeição da
Constituição de 1988 e de suas garantias fundamentais. Alguém que louva a
ditadura e homenageia torturadores certamente atritará com o Supremo. Assim, um
Senado mais bolsonarista é alerta para os ministros do STF.
A maior consciência de seus deveres – a
percepção da relevância de seu trabalho para o País – deve levar o Supremo a
ter uma nova velocidade. Os processos precisam ter duração de tempo razoável.
Liminares não podem durar anos. A Justiça que tarda não é justiça. Em concreto,
o STF deve enfrentar, de forma técnica e articulada, sem deixar brechas para
novas manobras, a inconstitucionalidade gritante do orçamento secreto. Que a
nova legislatura possa estrear num outro ambiente de moralidade e
transparência, plenamente constitucional.
Nem mensalão, nem orçamento secreto
O Estado de S. Paulo
Para Lira, ‘o povo vai escolher’ se quer a manutenção do orçamento secreto ou ‘a volta do mensalão’; é uma falsa escolha: ambos violam princípios republicanos e democráticos
O presidente da Câmara, Arthur Lira
(PP-AL), tem motivos de sobra para celebrar o protagonismo que conquistou nos
últimos anos. Seu partido, o PP, se consolidou como dono da terceira maior
bancada da Casa, e o deputado, o mais votado de Alagoas, não esconde a
pretensão de manter-se no comando da Câmara. Esses feitos políticos parecem ter
fortalecido sua confiança a tal ponto que ele se sentiu à vontade para enunciar
declarações que soam como ameaça ao presidente que for eleito em outubro. Em
entrevista à GloboNews, Lira defendeu a manutenção das emendas de relator, base
do esquema por meio do qual o governo abriu mão do controle do Orçamento e
garantiu o apoio do Legislativo. “O povo brasileiro vai escolher se quer
orçamento feito pelo relator, distribuído pelos deputados e senadores, ou a
volta do mensalão”, declarou. “São as duas maneiras de cooptar apoio no
Congresso Nacional. Eu prefiro o orçamento municipalista.”
“Orçamento municipalista” é um eufemismo
para o orçamento secreto, que “acalmou o Congresso”, nas palavras de Jair
Bolsonaro, e proporcionou estabilidade política a um presidente acossado por
mais de 140 pedidos de impeachment. Para Lira, a imprensa se recusa a
compreender os méritos e benefícios de algo que ele considera ser o
empoderamento do Congresso, já que as emendas seriam uma maneira de impedir a
reedição do “toma lá dá cá” que marcava o mensalão – mecanismo por meio do qual
o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva premiava parlamentares que integravam
a base de seu governo.
Ao contrapor as duas práticas como se
fossem muito diferentes, Lira destaca o quanto elas são essencialmente iguais –
em um ato falho, o presidente da Câmara usou o termo “cooptar”, talvez o termo
que melhor define o objetivo dessas práticas. Tanto o mensalão quanto o orçamento
secreto, escândalo revelado pelo Estadão, não passam de mecanismos de corrupção
por meio dos quais o Executivo literalmente compra o apoio do Congresso, com a
diferença de que as bilionárias emendas de relator fazem os milionários desvios
que financiaram mensaleiros no passado parecerem contravenções de menor
potencial ofensivo.
Por sua simplicidade, o mensalão é
facilmente compreendido e amplamente rejeitado, mas a relativa sofisticação das
emendas de relator não esconde sua inspiração – o hoje esquecido escândalo dos
Anões do Orçamento (1993). A distribuição das verbas não tem transparência, não
segue critérios técnicos nem se submete a ferramentas de controle inerentes ao
setor público; apenas deputados e senadores que votam com o governo são beneficiados;
municípios governados pela oposição ou sem padrinho no Congresso são punidos;
os recursos garantem a compra de bens e serviços muitas vezes controversos e
quase sempre superfaturados; há suspeitas de que parte do dinheiro volte para o
autor; e o fato de que 10 dos 13 deputados que mais receberam emendas foram
reeleitos, como mostrou O Globo, reforça indícios de que o mecanismo tem
funcionado como um fundo eleitoral paralelo – e três vezes maior.
A Câmara, como casa dos representantes do
povo, tem entre suas tarefas mais nobres o dever de fiscalizar a aplicação dos
recursos públicos. Isso em nada se confunde com avançar sobre atribuições que
pertencem ao governo, tais como a elaboração e a execução do Orçamento. É,
portanto, não apenas lamentável, mas rigorosamente equivocada a visão comercial
que o atual presidente da Câmara tem sobre a natureza da relação entre os
Poderes Executivo e Legislativo.
Esquemas como o mensalão e o orçamento
secreto não são parte da lógica do presidencialismo de coalizão, mas atalhos
que dispensam o presidente de articular uma maioria parlamentar disposta a
apoiar um programa consistente e focado na solução dos reais problemas do País
– a essência do ato de governar em um regime democrático. Quem não tem
disposição para exercer um papel de liderança na construção dessa base e opta
por comprá-la, assim como quem prefere vender seu apoio, revela não ter
espírito republicano e nem aptidão para participar da vida pública.
Criminalização das pesquisas eleitorais
O Estado de S. Paulo
Ao ameaçarem pesquisadores com prisão, num PL estapafúrdio, governistas confirmam seus pendores autoritários
O deputado Ricardo Barros (PP-PR) pretende
trancafiar na cadeia por até dez anos, nada menos, quem for incapaz de prever o
futuro. É disso que trata o Projeto de Lei (PL) 2.567/22, apresentado pelo
líder do governo na Câmara dos Deputados na quinta-feira passada. O objetivo do
parlamentar é punir institutos de pesquisa cujas sondagens de intenção de voto
divirjam dos resultados apurados pelo Tribunal Superior Eleitoral além da
margem de erro.
Tamanho grau de previsibilidade em
pesquisas de intenção de voto é tecnicamente impossível de ser alcançado por
qualquer instituto, pois, afinal, está-se no terreno do imponderável. Até o
exato momento em que o eleitor se vê diante da urna eletrônica, seus humores
podem variar por razões que só ele é capaz de definir, não um pesquisador. Na
prática, criminalizar os estatísticos que não conseguiram antever exatamente o
que o eleitor faria na solidão da cabine de votação é o mesmo que mandar
prender as cartomantes cujas previsões não se confirmam.
A mera proposição de um desvario
autoritário como o PL 2.567/22 já diz muito sobre o espírito antidemocrático
que anima o presidente Jair Bolsonaro e seus aliados no Congresso. Mas o pior é
que o projeto do deputado Ricardo Barros, que poderia ser apenas uma iniciativa
sem maiores consequências, apenas para dar satisfação a bolsonaristas que
acusam os institutos de pesquisa de manipulação para prejudicar Bolsonaro, tem
chances de prosperar. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), outro
bolsonarista fiel, prometeu colocar o projeto de lei em votação na Casa já na
próxima semana. Se ainda havia dúvidas em relação aos pendores autoritários
dessa turma no Congresso, não há mais.
Os ataques contra os institutos de pesquisa
não vêm apenas do Palácio do Planalto e da Câmara dos Deputados. O senador
Marcos do Val (Podemos-ES), outro bolsonarista, reuniu-se há poucos dias com o
presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para apresentar um pedido de
instalação de uma CPI para investigar os institutos de pesquisas por seus
“erros”.
Em nota, a Associação Brasileira dos
Pesquisadores Eleitorais (Abrapel) enfatizou o óbvio: que “o regime democrático
demanda a livre circulação de ideias e de informação; e as pesquisas de opinião
são fundamentais para o pleno exercício da cidadania”.
As pesquisas de intenção de voto, já
dissemos em editorial recente, são informações valiosas à disposição dos
cidadãos para que estes possam decidir melhor sobre seus votos. São tão
relevantes que os próprios candidatos e partidos as usam e pagam por elas. Qualquer
tentativa de dificultar o acesso dos eleitores à informação é, pois, uma ação
deliberadamente antidemocrática.
É isso o que vai acontecer caso o PL 2.567/22 seja aprovado. Das duas, uma: ou os institutos deixarão de divulgar as pesquisas que realizam ou as apresentarão com uma margem de erro tão alta que as tornará inúteis. No fundo, é exatamente o que pretendem os que, a pretexto de impedir a “manipulação” dos eleitores, querem mantê-los no escuro, para manipulá-los à vontade.
Os Institutos viraram casos
ResponderExcluirde polícia
Com seus resultados adulterados cometeram a verdadeira fraude eleitoral, influenciando sim muitos eleitores a votarem em quem estava na frente com chances de vencer no primeiro turno , o Lula ladrão ,
Sem dizer os erros grosseiros nas eleições de governadores e senadores
Multa e cadeia para os criminosos fraudulentos
Eh, gado, foi do seu tocador de berrante a maior mentira, o maior erro de pesquisa. O genocida previu pelo menos 60% e enganou otários com vc.
ExcluirLembro q o genocida ficou com 40%.
Cê sabe, gado.
Este é um DESgoverno de MENTIRAS! O ministro na quinta disse que não tinha cortes no MEC, que era conversa fiada e chororô das universidades. Percebendo que ia perder votos, o GENOCIDA mandou o ministro desfazer a decisão. Afinal, "um manda, o outro obedece"! Na sexta, o mesmo MINISTRO MENTIROSO disse que tinha CANCELADO OS CORTES!
ResponderExcluirMais uma derrapada. Desta feita, na regência: "...desta vez, a História não os perdoará!"
ResponderExcluirCORRETO: ...desta vez, a História não lhes perdoará!