O Estado de S. Paulo
O petista tem seus defeitos, mas o mérito
mais relevante neste momento: é muitíssimo democrata, enquanto Bolsonaro tem
forte viés autocrata.
No primeiro turno, votei em Simone Tebet. No segundo, votarei em Lula, que ela apoia, o que é um bom sinal. Bolsonaro desgoverna sob vários aspectos: entre eles, é grosseiro no trato pessoal, não raciocina bem, fala coisas como “imbrochável” e “pintou um clima”, descuidou da educação, da saúde, do meio ambiente, e nunca buscou seriamente o crescimento econômico de que o País tanto carece. É, também, descuidado com as finanças públicas. Medidas que tomou, em particular no fim do mandato, como a PEC Kamikaze, tiveram viés populista e eleitoreiro, como numa tentativa de comprar votos. E deixará pesado ônus fiscal para Lula, ou para si mesmo, se ficar.
Suas trapalhadas recentes foram, como de
hábito, chocantes. Compareceu a vários eventos de olho em aparecer no noticiário,
mas tropeçando no mau comportamento. Foi à Inglaterra dar pêsames ao novo rei
Charles III, pela morte da rainha Elizabeth II, mas sorriu ao fazer isso e
também tocou no príncipe, como numa confraternização social. E usou o prédio
público da embaixada brasileira em Londres num comício para apoiadores. No dia
de Nossa Senhora Aparecida, foi ao santuário dela para aparecer numa multidão
de católicos, misturando religião com política, e acompanhado de uma claque que
ofendeu romeiros e até o bispo local. A propósito, o art. 208 do Código Penal
fala sobre “escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função
religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso;
vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso. Pena: detenção, de
um mês a um ano, ou multa. Parágrafo único – se há emprego de violência, a pena
é aumentada de um terço, sem prejuízo da correspondente à violência”.
Na economia, que, como economista,
acompanho mais de perto, é fato que em 2022 ela cresceu mais do que o previsto
no início do ano, e ele atribui a si todo o mérito, mas ignora que o forte
alívio da pandemia da covid-19 fez os consumidores voltarem às compras, puxando
o desempenho do setor de serviços, principal responsável pela melhoria. Conseguiu
reduzir o preço dos combustíveis, mas os preços de alimentos, que importam mais
para os pobres, permanecem bem acima da inflação média, apurada pelo IPCA.
Também pesou na recuperação o fato, pouco
percebido, de que de janeiro até setembro deste ano os saques da poupança
superaram depósitos em R$ 91,1 bilhões de reais (!), um recorde. Segundo o
Banco Central, em 2021 essa captação líquida negativa já vinha acontecendo,
alcançando a cifra de R$ 35,5 bilhões, e no biênio anterior, também apresentado
nesse relatório, ela havia sido positiva, particularmente em 2020.
Mas numa eleição a questão mais importante
é a política, e é nesse aspecto que está a maior ameaça bolsonarista. Despreza
a democracia, ataca suas instituições e pensa em golpes de Estado até contra si
mesmo, pois seus vices – em 2018 e, agora, em 2022 – são militares, pelo temor
de que, se fossem políticos, poderiam traí-lo. Suas insanas críticas às urnas
eletrônicas me levaram a estudar o assunto, com a ajuda de minha filha
Cristiana, que é mesária. Antes do início da votação, é impressa pela urna a
chamada lista zerézima, que prova não haver registro de votação. E, ao fim, é
impresso o boletim de urna, com os votos de cada candidato. A urna não é ligada
à internet, e, assim, é imune a hackers. A auditoria do total de votos pode ser
feita somando os votos desses boletins finais. E ponto final. O resto é
conversa fiada.
E Lula? Se se imprimissem seus pecados
políticos, administrativos e comportamentais, viria uma lista extensa, mas o
Judiciário o autorizou a ser candidato e ele exerce o direito de sê-lo. Mas
Lula tem também um enorme mérito, que é o mais relevante neste momento. É
muitíssimo democrata, esteve oito anos no poder, nunca o vi criticar as urnas
eletrônicas, nunca gerou crises institucionais nem propôs aumentar o número de
juízes do Supremo Tribunal Federal para nomear novos e conseguir maioria de
apoiadores, como flerta o atual presidente, que tem forte viés autocrata.
Lula colocou como seu vice um político
experiente, Geraldo Alckmin, que já foi deputado federal e governador do Estado
de São Paulo por vários mandatos. Essa parceria de dois ex-adversários
estranhou muita gente, mas no mundo da política não causa surpresa. Em
Portugal, por exemplo, nas eleições de 2015 houve a insólita combinação de um
partido de centro-esquerda com três da esquerda radical, que ficou conhecida
como geringonça, com conotação positiva. Assim, a aliança entre Lula e Alckmin
é como se fosse uma geringonça à brasileira.
Meu voto em Lula não será incondicional. Se
eleito, acompanharei seu governo e cobrarei falhas, em particular se não seguir
o que venho defendendo neste espaço: um plano de governo que busque o
crescimento econômico mais acelerado, e que este seja ambientalmente
sustentável, socialmente inclusivo, com efetiva governança do Estado – o que
exigirá reformas –, e maior inserção internacional do País.
*Economista (Ufmg, Usp e Harvard), é
consultor econômico e de ensino superior
"Bolsonaro desgoverna sob vários aspectos"
ResponderExcluirVerdade, Macedo, o palerma da República é muitíssimo incompetente. Mas já o era no 1o turno. Vc sabia disso.
"petista tem seus defeitos"
ResponderExcluirTodos temos, vc e a Tebet idem.
Claro q o pedófilo da República bate recorde em defeitos, incluindo esse, de pedofilia.
"Meu voto em Lula não será incondicional"
ResponderExcluirÓbvio!
Mas nas hostes do pervertido da República, o gado vota incondicionalmente.
Gado é gado.
O DESgoverno Bolsonaro não permite outra alternativa! Fora Bolsonaro! Não ao GENOCIDA!
ResponderExcluirLula é um democrata, isto é inquestionável...
ResponderExcluirQuando se quer aparecer demais e um mal sinal. As vezes ficando sem opinar ajuda mais. Falando muito a pessoa se revela, e nem sempre é uma coisa que se aproveita e aí vira aquela estória de disco quebrado que desafina.
ResponderExcluirA classe é a alma de qualquer negócio.
ResponderExcluirNão basta diplomas a arte é saber conjuga-lo com inteligência não artificaial para que fique demonstrado. Ex de finesse Dona Ruth.O resto sempre será resto.
ResponderExcluirAs vezes as pessoas se destacam mais pelo que lhes faltam, educação e berço
ResponderExcluirPois é,ninguém é candidato a santo,o menos pior nunca foi tão claro.
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