O Globo
Transferência direta de eleitores do
petista no primeiro turno para o presidente teria como chave Auxílio Brasil e
outras benesses de governo
É impossível uma virada de Jair Bolsonaro
sobre Luiz Inácio Lula da Silva que leve à vitória do presidente em 30 de outubro?
Parece ser esta, na terceira semana do segundo turno, a pergunta que todos
tentam responder à medida que sucessivas pesquisas mostram a lenta, porém
constante, redução das vantagens do petista sobre o candidato do PL em diversos
segmentos da pesquisa de intenções de voto e também a recuperação de Bolsonaro
em outros fatores chaves para levar ao voto, como a rejeição e a avaliação de
seu governo.
Com poucos votos ainda em disputa, pelo que
mostram os levantamentos (indecisos somam 1% e aqueles que dizem pretender
votar em branco ou nulo são 4%, de acordo com o Datafolha), os fatores que
podem ocasionar a virada são a abstenção, que pode atingir de forma desigual
eleitores de um e de outro, e a difícil, mas não impossível, transferência
direta de votos que Lula teve no primeiro turno para o presidente.
Mas o que pode levar a que um eleitor que apertou 13 em 2 de outubro decida mudar de ideia no dia 30 e marcar 22? Mais que a comparação entre o que cada um fez, conta a expectativa, que pode ter sido alterada nas três semanas de campanha adicional, do que pretendem fazer, em várias esferas.
A campanha na mídia e nas redes sociais até
aqui tem se concentrado nos temas morais e simbólicos, em busca do eleitorado
religioso e conservador. Mas impacto igual ou maior pode ser exercido pela
expectativa de melhora de vida traduzida em benefícios sociais e econômicos,
como o Auxílio Brasil e outras benesses que vêm sendo anunciadas, com
frequência praticamente diária e sem nenhuma contenção por parte da Justiça Eleitoral.
Muito se falou que talvez não houvesse
tempo de que a anabolizada de 50% no Auxílio, concedida fora do prazo permitido
pela lei eleitoral e com aval da oposição e do próprio Judiciário. Mas o
segundo turno tem servido para que essa percepção de que foi Bolsonaro quem
garantiu mais ganhos aos mais pobres se espraie.
O presidente bateu muito nessa tecla no
debate, e fez recortes eficientes desses trechos para a propaganda eleitoral
nesta semana.
Outros combos de benefícios, como
renegociações de dívidas, uso do FGTS, 13º do próprio Auxílio e o controverso
crédito consignado para os que integram o benefício ajudam a construir essa
sensação de que a vida melhorou graças ao presidente.
Há um dado na pesquisa Datafolha que,
juntamente com o avanço de Bolsonaro em São Paulo e em Minas, deveria acender a
luz vermelha piscante no QG petista. Segundo a diretora do instituto, Luciana
Chong, entre os que recebem Auxílio, Lula recuou de 62% para 56%. Bolsonaro
saltou de 33% para 40%. Isso pode já mostrar que eleitores desse segmento que
votaram no ex-presidente na primeira etapa estão optando por Bolsonaro agora,
por fazerem um cálculo pragmático de que ele é quem melhor pode assegurar a
manutenção do valor de R$ 600. Esse efeito pode se mostrar sobretudo no Nordeste,
no Norte e no norte de Minas, o estado-pêndulo de todas as eleições e, por
isso, tradução fiel do que acontece no país há muitos pleitos.
O centro que não soma
Além de as pesquisas apontarem para essa
dificuldade muito séria num eleitorado que parecia consolidado, Lula não
cresceu no segundo turno. Segue estagnado desde a primeira semana. Isso
significa que não conseguiu traduzir em votos apoios relevantes que recebeu no
chamado centro e até na centro-direita, de nomes como Fernando Henrique, Simone
Tebet, João Amoêdo e dos pais do Real. Por quê?
Porque esses apoios ainda não foram
seguidos, por parte da campanha do petista, em manifestações de que a frente
ampla vai valer para além de discurso para enfrentar o bolsonarismo.
Não adianta nada apoiadores de Lula, como
Rui Falcão, dizerem que não querem jogar com a bola que os novos integrantes do
time trouxeram para o campo, porque a tradicional de capotão do PT é a
bola-raiz.
O eleitorado que foi às urnas em 2 de
outubro e vai voltar no fim do mês está à direita do PT. Uma boa parte dele não
tem saudade desse passado idílico que Lula insiste em vender, em vez de mostrar
o futuro que desenha para os brasileiros.
Quem está por ele, em grande parte, está
por horror a Bolsonaro, e o petista não tem sido inteligente para dar a esse
público que será fundamental para sua vitória algo a que se apegar.
Se a rejeição ao presidente diminui e o número dos que acham seu governo bom cresce na mesma proporção em que cai o dos que consideram sua gestão ruim, esses deveriam ser elementos a mostrar ao PT que só com base no que foi feito duas décadas atrás, sem uma resposta convincente até agora para a corrupção e sem acenar ao centro, talvez só apelar para o antibolsonarismo não seja suficiente para fazer frente à máquina usada sem dó e às fake news que comem soltas por aí.
Nenhum comentário!
ResponderExcluir