O Globo
As cenas de Aparecida se mostraram um
tremendo desgaste para Bolsonaro; que sirvam para que ele se modere
Dos muitos abusos cometidos pela campanha à
reeleição do presidente Jair Bolsonaro — político, econômico, legislativo, de
fake news e desinformação —, certamente o abuso da fé dos eleitores é dos mais
lamentáveis. Ele atingiu o ponto em que se volta contra o candidato nesta
quarta-feira, 12 de outubro, dia de Nossa Senhora Aparecida, com as cenas de
hooliganismo protagonizadas por seus apoiadores no Santuário dedicado à
padroeira do Brasil.
Depois de um primeiro turno colado a lideranças evangélicas como Silas Malafaia, levado nas asas da FAB até para a também ruidosa passagem de Bolsonaro pelos funerais da rainha Elizabeth II, o presidente resolveu tentar se aproximar dos católicos no segundo turno.
A primeira incursão foi no Círio de Nazaré, a maior celebração de fé católica do Brasil, que reúne mais de 2 milhões em Belém, no Pará, e que tem como tradição o caráter apolítico. A presença de Bolsonaro foi vista com desconforto pela Igreja. A Arquidiocese de Belém divulgou nota esclarecendo que o convite não partiu dela e que não desejava nem permitiria uso político da festividade. Já em Belém, o presidente postou em suas redes uma homenagem ao “Sírio” de Nazaré, deixando patente sua falta de familiaridade com o que representa o Círio.
Da mesma forma, a contrariedade da Igreja
com a tomada de Aparecida por bolsonaristas agressivos, ostentando bandeiras e
toalhas com a cara do mito no lugar de símbolos religiosos e hostilizando
jornalistas ou os identificados como possíveis eleitores de Lula, ficou patente
nos sermões de padres e do arcebispo Dom Orlando Brandes, que na homilia
lembrou a necessidade de o Brasil vencer os “dragões” do ódio, da fome e do
desemprego. Ele também cobrou a necessidade de definir uma “identidade
religiosa”, clara alusão a Bolsonaro usar ora as denominações evangélicas ora o
fato de ter sido criado na fé católica para acenar a ambos os públicos.
As pesquisas mostram o predomínio de Lula
no eleitorado católico na inversa proporção do de Bolsonaro sobre os
evangélicos. Portanto a polarização que assola o Brasil, mina o debate, aumenta
a violência política e ameaça a democracia se travestiu também em guerra
religiosa.
Não parece ser uma estratégia inteligente,
que denote compreensão rudimentar do que significa religiosidade, promover
invasão a um santuário a que os fiéis comparecem com o único propósito de
externar sua devoção e agradecer ou pedir por uma graça de Nossa Senhora.
A simbologia é especialmente importante quando
se adentra o campo espiritual. E as cenas de profundo desrespeito com um
feriado santo desgastaram Bolsonaro junto a um eleitorado em que ele já não
tinha grande entrada. Se não produziram a abertura de caminhos ao candidato do
PL junto aos católicos, as aparições atabalhoadas e oportunistas do presidente
em eventos muito importantes para esses fiéis tampouco foi bem-vista entre os
evangélicos, que passaram a ver com desconfiança o fato de o presidente
participar de homenagens a santas, uma das muitas divergências profundas que
existem entre protestantismo e catolicismo.
A exploração da fé já foi muito além do
razoável nesta campanha. O ponto mais baixo foi o culto em que Damares Alves
fez graves acusações de atrocidades cometidas contra crianças e reportadas a
seu ministério — que ela agora tenta reembalar dizendo se tratar de denúncias
antigas que “todo mundo fala” na fronteira dos estados da Região Norte.
É tão escancarado o abuso da (boa) fé dos
fiéis para fins políticos que parece ter atingido o ponto de saturação. As
cenas de Aparecida se mostraram um tremendo desgaste para Bolsonaro. Que sirvam
para que ele se modere, como sempre na marra e depois de exorbitar os limites.
"Ele (o abuso da fé) atingiu o ponto em que se volta contra o candidato nesta quarta-feira, 12 de outubro"
ResponderExcluirVerdade. Mais um tiro do capetão no próprio pé. Ainda bem q não sabe atirar. Se soubesse seria imbatível
Ah, bozo é culpado pois incita seu gado (vândalos) com seu berrante.
"Ele ( arcebispo D. Orlando Brandes) também cobrou a necessidade de definir uma “identidade religiosa”, clara alusão a Bolsonaro usar ora as denominações evangélicas ora o fato de ter sido criado na fé católica para acenar a ambos os públicos"
ResponderExcluirPois é, bolsonaro, todos sabemos, não tem religião - faz o contrário dos ideais de todas.
Na realidade, trata-se de um enganador, q instrumentaliza a religião em seu favor - pô, bolsonaro quis o aborto de seu filho mais novo!
"Não parece ser uma estratégia inteligente, ..., promover invasão a um santuário"
ResponderExcluirA autora é demasiadamente educada. É burrice promover a invasão de um santuário. Ponto.
Ainda bem q ele atira em si mesmo.
Esta tentativa de ligação entre política e religião NUNCA deu certo em qualquer parte do mundo! Na Idade Média e um pouco depois ainda ocorria, pois era favorável aos reis e aos papas e cardeais, mas nunca serviu pro povo que sofria com estas duas classes tão poderosas e dominantes. Agora, no Brasil, um criminoso tenta se aproveitar novamente da fé das pessoas, associado a uma quadrilha religiosa que explora dízimos e outras cobranças que fazem dos mais pobres e desprotegidos fiéis... Não sei quem é mais canalha, se os pastores safados e corruptos ou se o GENOCIDA que os usa como cúmplices!
ResponderExcluirVerdade.
ExcluirBolsonaro e Damares,uma dobradinha do barulho.
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