O Globo
Discurso da vitória de Lula mostra que ele
entendeu o tamanho do desafio que terá em seu inédito terceiro governo
Luiz Inácio Lula da Silva recebeu de pouco
mais de 60 milhões de brasileiros uma chance inédita: a de governar o Brasil
pelo voto pela terceira vez, com um intervalo de 20 anos entre a primeira e a
terceira. “Vivi um processo de ressurreição, porque tentaram me enterrar vivo”,
disse, conferindo um tom épico à conquista deste domingo.
No mesmo discurso, aliás irrepreensível e
de elevada dimensão histórica, ele deixou claro que entendeu o recado das
urnas: foi escolhido, por pouco, para governar um país profundamente dividido,
angustiado, raivoso e desconfiado.
Sua fala mostra que ele tem plena ciência do tamanho e da dificuldade do desafio, imensamente maiores que as de um 2002 no qual Jair Bolsonaro era apenas um deputado do baixo clero, não havia a estridência política e a radicalização impulsionadas pelas redes sociais e pelos algoritmos e seu antecessor era um estadista como Fernando Henrique Cardoso, que fez uma transição republicana.
Enquanto escrevo esta coluna, Jair
Bolsonaro e seu entorno não se manifestaram sobre o resultado da eleição, que,
depois de muitos “se” e “veja bem”, ele disse que respeitaria em entrevista
logo após o último debate da campanha.
Com tudo que se viu em termos de uso
desmesurado dos cofres da União, do aparelho de Estado, das forças de segurança
e da mais baixa desinformação para que ele tentasse se reeleger, um conjunto
sem precedentes de abuso de poder político e econômico construído sob os
auspícios do Congresso, do STF e da Procuradoria-Geral da República, que ou
aprovaram ou fizeram vista grossa a medidas flagrantemente inconstitucionais,
Bolsonaro quase conseguiu.
E esse “quase”, para uma força política que
governou quatro anos apostando no caos e na desestabilização institucional, é
suficiente para que haja sérios motivos de preocupação com o dia seguinte.
Antes do futuro governo haverá dois meses
de uma transição que promete ser pedregosa, cercada de firulas, sigilos e
gavetas fechadas que ninguém sabe onde está a chave. Caberá às instituições
saírem da letargia em que se encontram e obrigarem o Executivo a cumprir o que
manda a Constituição. E não pode ser tarefa só de Alexandre de Moraes, que, no
peito, garantiu quase sozinho a normalidade do processo eleitoral.
Há um país a ser reconstruído. Na Economia,
na Educação, na Saúde, no Meio Ambiente. Mais do que retomar a racionalidade no
governo, é preciso também recompor as relações políticas, interssociais,
familiares, todos os tecidos nos quais o bolsonarismo se infiltrou e nos quais
provocou danos profundos, por ora difíceis de sanar.
Os Estados Unidos, com o Capitólio e a
resistência do trumpismo após a derrota de Donald Trump, mostram que o caminho
é árduo e requer reforma das leis e das próprias instituições para banir os
radicais que se dispõem a corroer o estado democrático a partir de dentro.
Por fim, há uma governabilidade a
assegurar, tarefa à qual Lula começou a se dedicar no segundo turno e cuja
importância deixou clara no discurso da vitória.
Foi a fala de um estadista, e não de um
revanchista, inclusive no reconhecimento ao papel da imprensa. Que sai dessa
campanha como um baluarte da defesa da democracia, e assim continuará, cobrando
o novo governo a partir do seu primeiro dia, como é seu dever ético.
"Com tudo que se viu em termos de uso desmesurado dos cofres da União, do aparelho de Estado, das forças de segurança e da mais baixa desinformação para que ele tentasse se reeleger, um conjunto sem precedentes de abuso de poder político e econômico construído sob os auspícios do Congresso, do STF e da Procuradoria-Geral da República, que ou aprovaram ou fizeram vista grossa a medidas flagrantemente inconstitucionais, Bolsonaro quase conseguiu."
ResponderExcluirRÁ, NEM ASSIM BOZO CONSEGUIU. O PALERMA DA REPÚBLICA NEM ASSIM CONSEGUIU SE REELEGER.
Isso implica q LULA É MUITO FORTE.
Lembra Davi e Golias:
Durante 40 dias, Golias (bozo) zombou do povo de Israel e o rei Saul prometeu dar riquezas e a mão de sua filha em casamento ao homem que matasse o gigante. Sem nenhuma proteção ou armadura, Davi (LULA) acertou o gigante (bozo) com uma pedra e o matou com a espada.
Pelo tanto que a máquina do estado atuou,ilegalmente,diga-se,é quase um milagre Lula ter sido eleito.
ResponderExcluir