Folha de S. Paulo
Situação está descontrolada e não sabemos
quanto, mas o mal já venceu
O inquérito
das "fake news" foi instaurado pelo Supremo faz três anos e
sete meses. Não chegou ao fim e nem se sabe em que meio está. Até agora, serviu
para mandar recados quando o bolsonarismo extrapolava, digamos. Notem a graça
sinistra dessa frase. A Justiça tardou, falhou ou inexistiu e, assim,
contribuiu para a imundície desatada desta campanha.
Não foi o único caso de tolerância. Jair
Bolsonaro (PL) tentou o golpe explícito (não haveria eleições; se
houvesse, o resultado será apenas aceitável em caso de vitória etc.). Insultou
ministros do Supremo. Patrocinou
mudanças eleitoreiras na Constituição. A guerra suja da campanha eleitoral
eterna de Bolsonaro é apenas parte de seu programa impune de desativação das
instituições republicanas.
A campanha de Bolsonaro consiste em lançar gases venenosos e produzir névoa de guerra. É uma combinação do gás tóxico de mentiras com a poeira da alucinação coletiva.
A campanha de mentiras contra as urnas foi
substituída pelo ataque
orquestrado contra as pesquisas eleitorais, conduzido pelos ultras e
negocistas da direita parlamentar bolsonarista, agora com auxílio do Cade.
Tenta-se criar um transe com ofensivas que
vão desde a disseminação da ideia de que a oposição, Lula da Silva (PT) em
particular, é inimigo dos cristãos, candidato de presidiários e de facções, até
a promoção do pânico moral.
A esquerda seria promotora da devassidão —o
banheiro multissex é a mamadeira peniana desta eleição. Na mesma linha, por
exemplo, Damares
Alves (Republicanos, o partido da Universal), ex-ministra, senadora
eleita pelo Distrito Federal, faz
discursos depravados sobre crianças pequenas traficadas por cafetões
do estupro pedófilo.
Acusada de prevaricar (não tomar atitudes
legais a respeito) ou de mentir, retruca que ouviu a história por aí,
desconversa ou diz "me aguardem".
É nevoa tóxica de guerra, terror em transe:
estaríamos à beira da dissolução moral final. Assim, é preciso aderir ao
frenesi a campanha de "Deus, Pátria e Família". No Rio Grande do
Sul, Onyx
Lorenzoni (PL) fez troça
criminosa sobre o fato Eduardo Leite (PSDB) ser homossexual —os dois
disputam o governo do estado.
Mal comparando, mas não muito, são crimes
de guerra. Tudo parece com operações de guerra psicológica, como já observaram
pesquisadores do assunto.
A campanha de Lula se vira para inventar
algo como uma "carta aos cristãos". Mas, como se nota pela divulgação
de checagens de "fake news", não deve fazer grande efeito, se algum.
A comunicação política e a guerra cultural
operam em esferas públicas quase separadas ("bolhas"), apoiadas de
resto por "tropas em terra" (igrejas, clubes de tiro, guarnições
militares, pequenas prefeituras ou também por ameaças em empresas). A mensagem
não chega ou bate em ouvidos moucos.
Não há "Convenção de Genebra"
(tratados que em parte tratam de crimes de guerra) para este nosso conflito
político. Ao contrário, a lei eleitoral se torna um trapo.
Nesse clima de ilicitude franca, o gás
tóxico se espalha. Parte da campanha lulista contra-ataca com armas
bolsonaristas —é o caso da guerrilha
de André Janones (Avante-MG). A fim de aumentar e disseminar o impacto,
pois muita gente não tem internet, a lama jorra para TV e rádio.
A situação está descontrolada e não sabemos
quanto (o esgoto corre por canos subterrâneos). Há paliativos ali e aqui, logo
atropelados por novidades na fraude ou pelo crime reiterado sob disfarces. A
maioria e as classes poderosas aceitaram os termos bolsonaristas. Agora, alguns
engajam-se no combate pelos mesmos meios, para "evitar o mal maior".
O mal já venceu.
Bolsonaro leva vantagem nas batalhas para espalhar sujeira e mentiras, mas perderá a GUERRA eleitoral, pois saiu com 6 milhões de votos a menos, e dificilmente conseguirá reverter esta vantagem lulista. Rejeitado por cerca da metade da população, isto o impede de atingir uma votação suficiente pra se eleger, embora provavelmente vá ter uma votação um pouco maior que no primeiro turno. Mas isto será insuficiente pra virar o jogo...
ResponderExcluirÉ uma guerra suja,tem um lado que é muito pior.
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