O Globo
Presidente eleito usa transição para ampliar frente que o apoiou no segundo turno
Na última semana da campanha, Lula disse
que, se eleito, faria um governo “além do PT”. A promessa parece ter orientado
os primeiros passos da transição.
A equipe escalada ontem é mais ampla que a
frente montada para o segundo turno. A aliança eleitoral reunia 11 partidos.
Agora MDB e PSD se juntaram ao time.
O petista ainda negocia com siglas como o
União Brasil, cujo presidente já avisou que não fará oposição “de jeito
nenhum”. A expressão também descreve o ânimo de figurões do PL, apesar das
juras de fidelidade a Jair Bolsonaro.
O governo do capitão acabou. O poder real já se deslocou do Planalto para o CCBB, onde Geraldo Alckmin começou a dar expediente na segunda-feira. Ali será montado o novo desenho da Esplanada, embora o vice-presidente eleito tenha declarado que transição e ministério são “coisas diferentes”. São mesmo, mas uma coisa ajudará a definir a outra.
A transição de 2002 despertou o interesse
de Lula por personagens que não estavam em seu radar, como uma ex-secretária do
governo gaúcho. Ela se chamava Dilma Rousseff, saiu do CCBB como ministra e
mais tarde seria escolhida para sucedê-lo.
Vinte anos depois, o petista subirá a rampa
com ao menos quatro presidenciáveis na equipe: Alckmin, Fernando Haddad, Simone
Tebet e Marina Silva. Administrar as ambições de cada um será um dos desafios
do terceiro mandato.
Lula busca novas alianças para garantir
maioria no Congresso, mas não apenas para isso. Ele também precisa amarrar
setores da sociedade civil e do empresariado que não têm afinidade com o PT e
só votaram nele para derrotar Bolsonaro. Isso ajuda a explicar a decisão de
convidar economistas liberais para a transição e possivelmente para o governo.
O presidente eleito sabe que vai enfrentar
uma oposição radicalizada e sem compromisso com a democracia. Para sobreviver a
ela, precisará partilhar mais poder do que nos mandatos anteriores. “Lula já
vai começar a governar sob cerco. Trotsky pregava a revolução permanente. Nós
vamos viver uma eleição permanente”, brinca o deputado eleito Lindbergh Farias.
“O
novo governo não terá nem aquela trégua dos primeiros cem dias”, concorda o
aliado Flávio Dino, cotado para o Ministério da Justiça. O senador eleito
lembra que a extrema direita permanece mobilizada e clamando por golpe. “Por
isso é importante que Lula faça uma posse processual. Ele tem que tomar posse
todo dia um pouquinho até 1º de janeiro”, defende.
Verdade.
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