O Globo
Factoide de auditoria nas urnas expôs
Forças Armadas a novo vexame
A quarta-feira foi amarga para os patriotas
que se aboletaram diante dos quartéis à espera de um novo golpe militar. Depois
de meses de suspense, o Ministério da Defesa divulgou seu aguardado relatório
sobre a urna eletrônica. O documento dizia o óbvio: as máquinas funcionam e não
há qualquer indício de fraude na contagem dos votos.
“Tomamos chuva à toa?”, questionou um
bolsonarista desiludido no Twitter. As redes do ministério foram bombardeadas
com outras mensagens de desgosto. O empresário que se pendurou no para-brisa de
um caminhão, inconformado com a vitória de Lula, ainda não foi localizado para
opinar.
O factoide da inspeção nas urnas expôs as Forças Armadas a mais um vexame. Para atender os interesses de Jair Bolsonaro, elas gastaram tempo e dinheiro público numa auditoria inútil. Agora são cobradas por saudosistas da ditadura que sonham com uma quartelada em pleno século XXI.
Ninguém obrigou os generais a se engajarem
no projeto do capitão. Eles mergulharam de cabeça porque viram em Bolsonaro um
atalho para voltar ao poder. A aposta se mostrou lucrativa. Os militares
abocanharam mais de 6 mil cargos civis, garantiram novos privilégios na
Previdência e embolsaram salários e gratificações acima do teto.
Nos últimos meses, a cúpula militar
endossou os ataques do presidente ao voto eletrônico. O ministro da Defesa,
general Paulo Sérgio Nogueira, agiu abertamente para desacreditar o sistema e
emparedar a Justiça Eleitoral. Depois da derrota, foi obrigado a reconhecer que
não tinha provas a apresentar.
Ontem a pasta ensaiou um recuo para
reanimar a militância bolsonarista. Em nota, alegou que a auditoria, “embora
não tenha apontado, também não excluiu a possibilidade da existência de fraude
ou inconsistência nas urnas”. O contorcionismo virou piada nas redes e foi
solenemente ignorado pelo ministro Alexandre de Moraes, que deu o assunto por
encerrado.
O presidente eleito classificou todo o
episódio como “humilhante” para as Forças Armadas. Ele tem razão, mas não
precisará apenas de palavras para desmilitarizar o governo. Entre outras
tarefas, terá que restabelecer o controle civil sobre o Ministério da Defesa e
banir de vez as homenagens ao golpe de 1964. Além de convencer os oficiais a se
afastarem da política e retornarem aos quartéis.
Simplesmente ótimo.
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