domingo, 6 de novembro de 2022

Bruno Boghossian - A chance de um acordo Lula-Lira

Folha de S. Paulo

Processo de acomodação política pode levar reeleição do deputado às mesas de negociação

No processo de acomodação política iniciado após a vitória de Lula, um movimento relevante diz respeito à possibilidade acordo entre o petista e Arthur Lira. A mudança de tom captada dos dois lados fez com que o apoio à reeleição do presidente da Câmara, antes improvável, chegasse às mesas de negociações.

Antes de viajar para um descanso no litoral baiano, Lula procurou petistas e reforçou um pedido de cautela nas articulações com o Congresso. Ele disse que os tamanhos das bancadas e o quadro político do país não permitem que o governo cometa erros e seja derrotado na eleição para o comando da Câmara.

Foi um recado para aliados que buscam se apressar para formar uma coalizão de partidos capaz de isolar Lira e permitir a vitória de um deputado de fora do centrão para a presidência da Casa. A ideia desse grupo é jogar com siglas de esquerda, somadas a MDB, PSD e União Brasil.

A puxada de freio não significa que um acordo Lula-Lira será necessariamente costurado, mas indica que o petista identificou o risco de que o presidente da Câmara use sua influência no plenário para rachar as bancadas daqueles partidos e derrotar o candidato apoiado pelo governo.

Para dificultar a matemática, o PSD dá sinais de que deve apoiar o governo Lula, mas mantém interesse na reeleição de Lira.

Mesmo alguns petistas avessos ao comportamento pró-bolsonarista de Lira dizem que gastar capital político para tentar derrotá-lo pode ser fatal, principalmente considerando as incertezas sobre o resultado. Seria mais prudente, nesse caso, costurar uma aliança.

A negociação passaria pela redução gradual ou a criação de novas regras para as emendas de relator controladas por Lira —uma maneira de reequilibrar os níveis de influência que o governo e o presidente da Câmara exercem sobre os deputados.

Qualquer conversa sobre o assunto se dará num território de desconfiança mútua, mas tanto Lula como Lira são conhecidos por cumprir até os acordos mais amargos.

 

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