O Globo
O bode está posto. No Parlamento. Para o
Parlamento. É a PEC. O gabinete de transição engordou o bicho. Informou: quero
tudo. Colheu reações ruins. E ainda pôs mais peso ao entregá-lo. Sentiu que
podia empurrar uns quilinhos inesperados. Informou: quero tudo — tudo de que se
reclamou — e ainda mais um bocado. Bancou, até o último minuto, o regime de
engorda. Ao Congresso, agora, a disciplina — o ônus — da dieta.
O governo eleito esticou a corda mesmo; e
ora transfere responsabilidades. É velha estratégia política. E que decerto
considerou — ou deveria haver considerado — o estresse entre agentes
econômicos. Decerto também medindo — e fácil não está — o pulso da sociedade
impaciente.
Bodão. O mercado chiou. (A expectativa,
finalmente, está baixa.) Os donos do Parlamento veem negócio.
Lula gere o tempo e dá seus recados. Foi ele quem venceu. Ele e o PT. O mercado se agasta. Esperava, ademais, que a tal frente ampla eleitoral produzisse, na forma de governo, um Pérsio Arida na Fazenda. Expectativa delirante que afinal resulta no alívio de ao menos não ser Mantega. Esse é o jogo.
Não será Mantega, mas o manteguismo terá
vez. Tampouco a PEC será essa posta. É a temporada dos bodes. Dos bodões. Os
donos do Parlamento veem jogo. Lula e o PT venceram. O orçamento secreto
também. Terão de conversar.
Lula pediu tudo. Tudo para fora do finado
teto de gastos. Não apenas os cerca de R$ 180 bilhões para bancar todo o Bolsa
Família a R$ 600, os R$ 150 por criança e mais o reajuste do salário mínimo em
termos reais. Ainda acresceu, à última hora, espécie de bônus, a depender do
nível de arrecadação; que poderá fazer com que o extraorçamento bata nos R$ 200
bilhões — e isso sem prazo para acabar.
É a demanda. O bode gordo. O bodão. Não
apenas R$ 200 bilhões fora do teto de gastos, finado cujo corpo ainda no chão
impõe constrangimentos, mas R$ 200 bilhões à margem do presunto e sem ano para
cessar. Bodão.
Lula pediu tudo. Em resumo: a PEC da
Transição apresentou-se com físico de PEC Kamikaze e pretensão a PEC da
Permanência. Bode obeso no colo do Congresso. Agora, negocia-se. A PEC da
Transição, com musculatura de Kamikaze e desejo de Permanência, pode ser também
a da Transação. Bodão é oportunidade. O Parlamento vai lhe tratar. Será o
ex-bodão.
Ou não. Negocia-se. Negocia-se o
emagrecimento. É quando o vencedor do segundo turno, Lula, senta-se com o do
primeiro, o orçamento secreto.
A turma da transição inventou o tal bônus
na esperança de ser essa a gordura cortada. Será possivelmente mais. Quem
iniciou a conversa falando em R$ 100 bilhões fora do teto — e ora se estica a
R$ 200 bilhões — dormirá feliz com R$ 150 bilhões. Talvez até o mercado ronque
menos. (A expectativa, finalmente, está baixa.) Esse é o jogo.
Dormirá também feliz aquele que, pedindo
autorização para gastar — por fora — sem prazo, ganhar um limite que limite não
será: quatro anos e nada mais. Lula pediu tudo. Mas sempre quis a eternidade
possível. O mandato inteiro. Lamberá os beiços. Em matéria de governo: solução
permanente.
Quatro anos para gastar — R$ 150 bilhões,
talvez R$ 160 bilhões — fora do teto. Será esse o acordo? Pacheco já deu aval.
E francamente: livrando-se — livrando Lula e o PT — da necessidade, da
urgência, de nova âncora fiscal. Essa é a cabeça. Para que âncora fiscal, se me
derem a desancoragem como emenda à Constituição?
O teto de gastos, o vigente, está morto —
repita-se. Ao colocar a conta para fora do caixão, ano a ano, no curso de todo
o mandato, pode-se deixar o presunto de lado. E daí que não faça bom cheiro?
Tampouco será bom o cheiro advindo do
emagrecimento do bodão, cujo volume — a gordura a lhe ser retirada — dependerá
também do futuro do orçamento secreto; de modo que o bicho poderá até continuar
bodão se, nas tratativas, Lula e Lira acertarem uma sociedade nas bases daquela
que o presidente da Câmara firmara com Jair Bolsonaro. Esse é o jogo.
Negocia-se.
Bodão. Ex-bodão. Ou não.
Há muito investimento em jogo. E se tem
dado pouca atenção a isto: aquele montante posto para fora do Orçamento de 2023
— se a integralidade mesmo do previsto para o Bolsa Família de R$ 400, pouco
mais de R$ 100 bilhões — significará espaço fiscal liberado no Orçamento. Grana
parruda, sim, para a recomposição do Farmácia Popular, entre outros programas
aterrados por Bolsonaro; mas também para a reativação do velho PAC, nova
superfície potencial para o esparramento do orçamento secreto. Esse é o jogo.
Tem jogo. Há muita aceleração em jogo. Muita oportunidade de investimento.
O Parlamento, aprovando a PEC, liberará
esse tremendo espaço fiscal sem exigir detalhamento orçamentário? De novo: o
grau de exigência dependerá de como o orçamento secreto se converterá em
instrumento para a governabilidade. Dependerá — eis como se impõe o mundo real
— de o orçamento secreto ter vez nos bilhões desenrolados. Tem jogo.
O bodão dificilmente será bodinho.
Bodou sim!
ResponderExcluirE até o Josias, depois de baixar uma espécie de 'esprito ruim' da Madeleine Lacsko nele, entrou nessa (Lula e Lira fazem da transição torneio de bodes). Fedeu!
ResponderExcluirLula e Lira,quem diria?!
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