Folha de S. Paulo
Presidente tentou golpe de estado e
incentivou golpistas com silêncio
Jair
Bolsonaro não deixou que a
derrota na eleição presidencial abalasse sua rotina.
Na semana passada, tentou um golpe de
estado e se
absteve de trabalhar, como em qualquer outra semana dos últimos quatro
anos.
Bolsonaro não
reconheceu a legitimidade da eleição. Incentivados pelo silêncio do
presidente, seus seguidores estão
tentando dar um golpe ocupando estradas e protestando em frente aos quartéis,
pedindo aos militares que, como em 1964, desertem, roubem as armas da República
e as usem em favor de sua facção política preferida.
Só me resta agradecer você, Jair. Se você
não tivesse continuado sendo golpista semana passada, a operação para fingir
que você nunca fez nada demais nos últimos quatro anos já estaria em curso.
Em todos os momentos em que o establishment tentou fingir que você era um democrata, Jair, você foi nosso melhor aliado para provar que não.
A propósito, se a esquerda tivesse perdido
e estivesse protestando contra as
operações da Polícia Rodoviária Federal no dia da eleição —essa, sim,
uma tentativa de fraude eleitoral— pode apostar que todo mundo que está
"tentando entender" os
golpistas nas estradas estaria escrevendo: "Olha só, no final das
contas a esquerda é que era golpista".
Você já pensou os nomes de quem estaria
escrevendo isso, não? Aposto que acertou.
Me deprime muito saber que nem todo mundo
que atentou contra a democracia –já não digo nem nos últimos quatro anos, mas
pelo menos nos últimos 15 dias– será
punido.
Mas, enfim, tudo sempre dá meio errado,
inclusive as coisas ruins: e é possível que desta vez a tradição brasileira de
acordão, anistia e impunidade não
se confirme em alguns casos.
Amigo bolsonarista, você me desculpe,
mas Alexandre
de Moraes não roubou a eleição para a esquerda. Ele impediu o Jair de
roubar a eleição. Já teve juiz roubando eleição, mas não foi essa nem foi para
a esquerda.
O que a direita brasileira precisa
responder nos próximos anos é o seguinte: vocês são Fábio Faria e Eduardo
Bolsonaro tentando
adiar as eleições na última semana? Vocês são Roberto Jefferson atirando
na polícia? Vocês são Zambelli apontando
arma pela rua?
Vocês são o
diretor da Polícia Rodoviária Federal tentando impedir pobres de
votarem no domingo e deixando
os golpistas ocuparem as estradas na segunda? Vocês são o
maluco pendurado na frente do caminhão em disparada? Vocês estão na
frente dos quartéis tentando melar as eleições? Vocês são Jair Bolsonaro, o
sujeito por trás disso tudo?
A essência do bolsonarismo ficou clara na
semana passada. Você é isso?
Eu imagino que, para a imensa maioria dos
eleitores de Bolsonaro, a resposta seja não.
A grande maioria deles é simplesmente
gente de direita que vota no candidato de direita com mais chance de
vencer a eleição, e, durante o processo, mais ou menos aceita seu discurso de
campanha. Ninguém precisa deixar de ser de direita para largar a bagagem do
bolsonarismo.
Por isso, é evidente o alívio com que muita
gente, no mundo político, empresarial e até religioso, já se despediu de
Bolsonaro.
Para muita gente que viveu o transe do bolsonarismo, a experiência de uma bad trip está acabando. Os irremediavelmente viciados estão na porta dos quartéis em busca de drogas mais pesadas.
Aprendi que em português não se pode iniciar uma frase com pronome oblíquo igual a “Me deprime”, mudaram-se as regras? A pergunta tem a finalidade de me inteirar e não de corrigir, quem sou eu para corrigir um excelente jornalista.
ResponderExcluirAumentou a tolerância com este tipo de frase. Num português mais formal, muitos evitam escrever assim. Mas, falando ou escrevendo com menor formalidade, é aceitável ou até meio normal.
ResponderExcluirObrigado pelo esclarecimento, meu português é arcaico.
ResponderExcluir''Me deprime muito'',eu achei estranho apenas o ''muito'',rs.
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