Valor Econômico
Só com reponsabilidade fiscal é que s pode
pensar em responsabilidade social, como ensina Lagos
Ricardo Lagos, presidente do Chile entre
2000 e 2006, eleito pelo Partido Socialista, mostrou uma compreensão incomum
entre os seus pares latino-americanos, ao dizer, logo no início do seu mandato,
que seria ortodoxo na política fiscal para poder ser ousado na política social.
Durante o seu governo, que terminou com elevada popularidade, em 2005 tinha
mais de 70% de apoio popular, criou o seguro-desemprego, assinou tratados de
livre-comércio com os Estados Unidos, China e União Europeia, conduziu um
vigoroso programa de concessões de obras públicas de infraestrutura e
implementou diversas reformas concebidas por alguns de seus antecessores.
Tal como o Brasil, o Chile viveu períodos de alta inflação e desajuste nas contas do setor público, até que em 1973 houve um golpe militar liderado por Augusto Pinochet - que depôs Salvador Allende, socialista, que se matou - e implantou uma ditadura terrível. Quando a junta militar assumiu o poder, a inflação estava na casa dos 700% e o déficit era de 23% do PIB, caindo para cerca de 7% do PIB já no ano seguinte.
O Chile produziu superávits fiscais
estruturais entre 1987 e 2010, demonstrando um consenso do sistema político em
relação à responsabilidade fiscal. Neste ano, segundo o relatório da missão do
Fundo Monetário Internacional (FMI) com base no artigo IV do estatuto do Fundo,
está previsto um superávit fiscal de 1,6% do PIB, o primeiro em uma década,
frente a um déficit de 7,7% do PIB no ano anterior. A dívida pública do país
porém, é de 35,4% do PIB, segundo dados de junho deste ano. No Brasil, a dívida
corresponde a 77% do PIB, mais que o dobro da chilena.
Lula, também, no primeiro mandato sinalizou
ortodoxia ao indicar Antonio Palocci para a pasta da Fazenda, Henrique
Meirelles para o Banco Central e Joaquim Levy para a Secretaria do Tesouro. O
receio de uma ruptura na condução da política econômica elevou o risco-país
para mais de 1.500 no fim de 2002.
Arminio Fraga, então presidente do Banco
Central no governo de FHC, elevou a taxa de juros de 18 % para 25% ao ano, de
forma paulatina, antecipando o aperto monetário que teria que ser feito por
Meirelles para trazer a inflação para a meta.
No início do governo Lula, a equipe
econômica deu sinais de que seguiria com rigor na execução do tripé
macroeconômico, entendido como meta para a inflação, taxa de câmbio flutuante e
superávit primário das contas públicas. Houve aumento adicional dos juros, que
foram para 26,5% ao ano, e um reforço da meta de superávit primário, que passou
de 3,75% para 4,25% do PIB em 2003.
No Brasil a política fiscal tem sido
marcada por componentes procíclicos. Faz-se uma gastança nos momentos de
abundância e corta-se as despesas quando não dá para passar a conta para o
futuro. Há uma longa tradição de populismo fiscal no país.
Dilma Rousseff assumiu a Presidência da
República em 2011 e deu início ao que se convencionou chamar de Nova Matriz
Econômica, que era marcada pela redução da taxa de juros, desvalorização da
taxa de câmbio e redução das metas de superávit primário. Justamente quando o
país estava vivendo o pleno emprego e certa pressão sobre a inflação, dado que
havia, ali, uma situação de aquecimento da demanda. Ou seja, enquanto a
conjuntura exigia certa austeridade fiscal e monetária, adotou-se no governo
uma fase expansionista de ambas, gerando mais inflação e deterioração do quadro
fiscal.
Um novo ciclo de aumento do juros coincidiu
com a determinação da Presidência da República para que os bancos federais
(Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, BNDES, Banco do Nordeste (BNB) e
Banco da Amazônia (Basa) aumentassem a oferta de crédito a juros mais módicos.
Foram dois sinais distintos de política fiscal e monetária.
Foi com a crise da dívida externa que o
Brasil começou a olhar com lupa para os números das contas públicas, mediante
acordo com o FMI.
Começou, em 1983, uma discussão sobre como
medir o déficit público, pelo conceito nominal, operacional ou primário. Foram
necessárias mudanças fundamentais na elaboração do Orçamento da União que
convivia com o orçamento monetário; foi o fim da conta movimento que o Banco do
Brasil mantinha junto ao Banco Central, que irrigava de recursos o caixa do BB
para que ele atendesse às demandas por financiamentos. Criou-se a Secretaria do
Tesouro Nacional, que passou a administrar a dívida pública, dentre diversas
outras mudanças necessárias para dar maior transparência e melhor gestão às
contas públicas.
Com a transição civilizada entre Fernando
Henrique Cardoso e Lula, parecia que a responsabilidade fiscal havia se
incorporado aos usos e costumes do sistema político e seria parte de um
consenso entre governo e oposição.
Não foi, porém, o que Lula apresentou nos
primeiros pronunciamentos depois de eleito para um terceiro mandato. Aliás,
Lula começou mal e espera-se que o Congresso defina os limites das pretensões
do presidente eleito na PEC da Transição. E que as palavras de Lagos sirvam de
exemplo para os mandatários latino-americanos. Só com responsabilidade fiscal é
que se pode pensar em responsabilidade social. Não há um país com desequilíbrio
fiscal que possa estar pensando em aumentar o salário mínimo em termos reais,
pagar R$ 600 por auxílio aos mais desfavorecidos e mais R$ 150 por criança até
os seis anos de idade, dar aumento para o funcionalismo, corrigir a tabela do
Imposto de Renda, etc...
Afinal, no Brasil, são quase 40 anos desde
que o FMI veio aqui e mostrou para a sociedade brasileira que, do jeito que
estavam as contas públicas, um caminho para uma solução seria a hiperinflação.
É a inflação que resolve os conflitos
distributivos quando ninguém mais quer resolvê-los. E sabe-se bem quem é que
costuma a pagar mais por ela: é o povo mais pobre, que não tem como se defender
da escalada dos preços.
Essa é uma história bem conhecida dos
brasileiros.
Será que a tia que escreve essa bobagem acima já foi visitar as pessoas que moram perto da USACH e da rodoviária de Santiago? Falar da riqueza do Chile e ficar somente ao norte da Praça Itália é igual ver riqueza no Brasil e ficar somente na Faria Lima.
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