Folha de S. Paulo
É difícil não ver na morosidade a velha
estratégia de vencer as vítimas pelo cansaço
Este 5 de novembro assinala os sete anos de
um crime que não pode ser esquecido: o colapso da barragem de Fundão, em Mariana, que matou 19 pessoas e
inundou o rio Doce com rejeitos minerais, ao longo de 660 km. A lama deixou
três povoados em ruínas e provocou prejuízos em 40 municípios de Minas Gerais e
do Espírito Santo.
Até hoje, a Samarco, controlada por Vale e BHP, duas das maiores mineradoras do mundo, não reconstruiu os povoados. É difícil não ver na morosidade a velha estratégia de vencer as vítimas pelo cansaço. Moradores vivem dispersos, perdem laços comunitários, sua luta acaba enfraquecida. Prevalece a lei do mais forte.
O sistema jurídico brasileiro não foi capaz
de julgar os responsáveis pelo crime conforme a denúncia do Ministério Público
Federal. A maioria dos réus já se livrou do processo e caminha a passos largos
para o refúgio da impunidade enquanto milhares de pessoas esperam suas
indenizações.
A ineficiência do Judiciário levou 200 mil
vítimas a buscar reparação na Inglaterra, onde a BHP tem uma de suas
sedes. A corte inglesa, em Londres, aceitou a jurisdição do caso
em julho e as partes já terão que apresentar seus argumentos agora em dezembro,
na ação movida pelo escritório de advocacia Pogust Goodhead em nome dos
atingidos.
O processo abre a perspectiva de uma
justiça de caráter decolonial. Mostra que as corporações globais, que atuam na
periferia do mundo, obtendo seus lucros à custa de buracos na paisagem e na
vida das pessoas, não estão livres de prestar contas nos seus países de origem.
Quanto ao Brasil, que tenta voltar à
normalidade política e institucional, há muito a ser feito. Lula deu destaque à
proteção ambiental em sua campanha. Os desastres da mineração (não podemos
esquecer Brumadinho) mostram que o Estado desossado é um componente na produção
de tragédias. É urgente a reversão desta lógica e o fortalecimento da
legislação e dos órgãos de controle.
Muito bem lembrado, não podemos esquecer NUNCA. Tem coisas que não dá para esquecer, como a boite Kiss e outras tragédias
ResponderExcluirEste é o jogo dos poderosos... Bons e muitos advogados, enrolação, conversa mole, promessas nunca cumpridas e sempre adiadas! E os responsáveis mais velhos daqui a pouco já morreram ou atingem idades que lhes conferem vantagens processuais! Os diretores ganhavam milhões, e agora as empresas culpadas querem economizar ao máximo nas necessárias e mais que justas INDENIZAÇÕES e MULTAS! E os mais sofridos sempre mais prejudicados, como sempre!
ResponderExcluirÉ a lama,é a lama...
ResponderExcluir