O Estado de S. Paulo
Como governar com contas que não fecham? E negociar com o Congresso sem mensalão?
Não foi só Lula que mudou. Mudaram a
herança, os tempos, as vacas gordas, a oposição e o próprio mundo, indicando
que as condições para o sucesso são menores e os desafios, muito maiores. Mas,
se tem alguém que conhece melhor do que ninguém o tamanho do abacaxi que o
aguarda no terceiro mandato, esse alguém é Luiz Inácio Lula da Silva.
Essa gente que ataca policiais a pedradas no Pará, expulsa ministro do Supremo de restaurante em Santa Catarina e faz vigília em quartéis é o de menos. São minoria, os black blocs de 2022. O problema é como reativar os instrumentos de Estado e investir nas pessoas, com o teto de gastos e a casa arrombados para a reeleição e contas que não fecham.
Além dos mais absurdos ministros da
Educação da história, o presidente Jair Bolsonaro deixa o orçamento da pasta no
osso. Para o ex-ministro e ex-reitor da UnB Cristovam Buarque, o novo governo
não pode ficar prisioneiro do ensino superior, precisa dar prioridade ao ensino
básico, pilar da inclusão social. Mas… as duas pontas estão à míngua.
Há universidades federais sem dinheiro até
para papel higiênico e a previsão de orçamento do governo Bolsonaro para o
ensino básico em 2023, primeiro ano de Lula, é de R$ 5,2 bilhões. Ou seja, R$
2,7 bilhões a menos do que o governo Temer deixou para a área em 2019, primeiro
ano de Bolsonaro.
Na saúde, outra área fundamental para o
País e para Lula, a situação não é melhor. É importantíssimo financiar o SUS,
garantir saúde para todos e reavivar os programas e o interesse da população
pelas vacinas, mas… o orçamento do ano que vem é o menor desde 2014.
Dinheiro não cai da árvore, financiamento
não depende de boa vontade e, além de saúde e educação, há as emergências:
manter R$ 600 do renascido Bolsa Família, criar R$ 150 de cada criança nas
famílias beneficiárias, dar aumento real para o salário mínimo, salvar a
merenda escolar e o Farmácia Popular.
E não é só isso. É mais fácil construir do
que reformar o que foi desmantelado, como ambiente e cultura, que precisam não
só de recursos, mas de avaliação, seleção, reconstrução. Ou política externa,
órgãos de fiscalização e controle e as estruturas policiais, hoje politizadas e
divididas.
Lula tem muito trabalho pela frente e precisa fugir das armadilhas. Sem caça às bruxas no Itamaraty, guerra com as Forças Armadas nem atirar contra PF e PRF. E mais: para garantir o urgente, o estratégico e a reconstrução, precisa do Congresso e, até pela sobrevivência, em outras bases que não mensalão e petrolão. É fácil? Não, mas ninguém melhor que Lula para tentar.
O desafio é gigantesco,mesmo.
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