terça-feira, 8 de novembro de 2022

Eliane Cantanhêde – Desafio gigantesco

O Estado de S. Paulo

Como governar com contas que não fecham? E negociar com o Congresso sem mensalão?

Não foi só Lula que mudou. Mudaram a herança, os tempos, as vacas gordas, a oposição e o próprio mundo, indicando que as condições para o sucesso são menores e os desafios, muito maiores. Mas, se tem alguém que conhece melhor do que ninguém o tamanho do abacaxi que o aguarda no terceiro mandato, esse alguém é Luiz Inácio Lula da Silva.

Essa gente que ataca policiais a pedradas no Pará, expulsa ministro do Supremo de restaurante em Santa Catarina e faz vigília em quartéis é o de menos. São minoria, os black blocs de 2022. O problema é como reativar os instrumentos de Estado e investir nas pessoas, com o teto de gastos e a casa arrombados para a reeleição e contas que não fecham.

Além dos mais absurdos ministros da Educação da história, o presidente Jair Bolsonaro deixa o orçamento da pasta no osso. Para o ex-ministro e ex-reitor da UnB Cristovam Buarque, o novo governo não pode ficar prisioneiro do ensino superior, precisa dar prioridade ao ensino básico, pilar da inclusão social. Mas… as duas pontas estão à míngua.

Há universidades federais sem dinheiro até para papel higiênico e a previsão de orçamento do governo Bolsonaro para o ensino básico em 2023, primeiro ano de Lula, é de R$ 5,2 bilhões. Ou seja, R$ 2,7 bilhões a menos do que o governo Temer deixou para a área em 2019, primeiro ano de Bolsonaro.

Na saúde, outra área fundamental para o País e para Lula, a situação não é melhor. É importantíssimo financiar o SUS, garantir saúde para todos e reavivar os programas e o interesse da população pelas vacinas, mas… o orçamento do ano que vem é o menor desde 2014.

Dinheiro não cai da árvore, financiamento não depende de boa vontade e, além de saúde e educação, há as emergências: manter R$ 600 do renascido Bolsa Família, criar R$ 150 de cada criança nas famílias beneficiárias, dar aumento real para o salário mínimo, salvar a merenda escolar e o Farmácia Popular.

E não é só isso. É mais fácil construir do que reformar o que foi desmantelado, como ambiente e cultura, que precisam não só de recursos, mas de avaliação, seleção, reconstrução. Ou política externa, órgãos de fiscalização e controle e as estruturas policiais, hoje politizadas e divididas.

Lula tem muito trabalho pela frente e precisa fugir das armadilhas. Sem caça às bruxas no Itamaraty, guerra com as Forças Armadas nem atirar contra PF e PRF. E mais: para garantir o urgente, o estratégico e a reconstrução, precisa do Congresso e, até pela sobrevivência, em outras bases que não mensalão e petrolão. É fácil? Não, mas ninguém melhor que Lula para tentar.

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

O desafio é gigantesco,mesmo.