terça-feira, 29 de novembro de 2022

Hélio Schwartsman - China desafia economistas

Folha de S. Paulo

Atos poderiam levar a uma mudança de regime, dando razão aos institucionalistas

Protestos na China se generalizam. Já faz algum tempo que a maioria dos filósofos da ciência não utiliza a capacidade de fazer predições como critério definitivo a separar a ciência de outros tipos de discurso. Ainda assim, cientistas adoram elaborar um prognóstico não óbvio e acertá-lo. Fazê-lo, mesmo que não tenha impacto decisivo em termos epistemológicos, conserva grande força retórica.

Uma previsão até aqui não realizada sobre a China que avexa economistas liberais, particularmente os da escola institucionalista, é a de que ditaduras são, no longo prazo, incompatíveis com a prosperidade econômica. Para eles, o crescimento sustentável só é possível quando as instituições políticas de um país são inclusivas e seus cidadãos gozam de liberdade para decidir o que farão de suas vidas e recursos. Isso ocorre porque a prosperidade duradoura depende de estabilidade social e de um fluxo constante de inovações, que resulte em ganhos de produtividade.

E a China desafia essa previsão. Ela não apenas vem há décadas apresentando taxas invejáveis de crescimento como também vem aumentando consideravelmente sua produção científica. Os institucionalistas tentam se explicar afirmando que os 50 anos desde que a China abraçou a economia de mercado ainda não configuram o longo prazo da previsão e que a hora da verdade pode ser adiada enquanto o regime consegue entregar bem-estar à população, anestesiando seus anseios por liberdade político-econômica.

A dúvida agora é se a generalização dos protestos é só um contratempo que Xi Jinping e seus aliados conseguirão superar ou se marcam algo mais estrutural, que poderia levar a uma mudança de regime, dando razão aos institucionalistas.

Já vi muitas revoluções que deram certo, como as da Europa do Leste, nos anos 1980 e 1990, e muitas que deram errado, como as da Primavera Árabe, 12 anos atrás, de modo que me abstenho de fazer previsões.

 

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