Correio Braziliense
Com programa fora do teto de gastos,
haveria um espaço de R$ 105 bi no Orçamento que estavam reservados para o
Auxílio Brasil
Não gosto de afirmações categóricas na
política, porque ela é como uma nuvem, como dizia o governador mineiro e
banqueiro Magalhães Pinto. Você olha pro céu, parece um elefante; olha
novamente, já virou um jabuti; olha de novo, e desaba um aguaceiro danado. A
nuvem desta semana no céu de Brasília é a PEC da Transição, que está sendo
objeto de intensas negociações entre representantes da equipe de transição, sob
coordenação do senador eleito Wellington Dias (PT), ex-governador do Piauí, e
os caciques do Centrão, liderados pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
Ontem, o ex-ministro do Planejamento e da Fazenda Nelson Barbosa rebateu as críticas à PEC da Transição com uma comparação que soa como música para os políticos do Centrão: disse que o governo Lula em 2023, o seu primeiro ano de mandato, gastará menos do que o governo Bolsonaro em 2022, ou seja, no seu último ano. Segundo o relatório de orçamento mais recente, o atual governo deve gastar o equivalente a 19% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2022, ao passo que a proposta do novo governo é reduzir esse percentual para 17,6% do PIB.
Segundo Barbosa, haveria um espaço de até
R$ 136 bilhões para elevar despesas sem interferir nessa proporção gasto/PIB.
Nessa contabilidade, ocorreria uma “recomposição fiscal” e não uma “expansão do
gasto”. O espaço para aumentar gastos públicos em 2023 sem aumentar as
despesas, em relação a esse ano, seria de R$ 136 bilhões, o que representa
quase 69% dos R$ 198 bilhões previstos na PEC da Transição (valor que ficaria
fora do teto de gastos). O gasto com o Bolsa Família ficaria fora do teto de
forma permanente, num total de R$ 175 bilhões anuais, além de investimentos
adicionais de até R$ 23 bilhões, para o Orçamento 2023. Qual o custo de um
acordo no qual o governo Lula não teria que se preocupar com a aprovação de
recursos para o Bolsa Família durante todo o mandato?
O cientista político Paulo Fábio Dantas,
professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), pôs o dedo na ferida: a
pressão dos atuais congressistas sobre o futuro governo para aprovar a exclusão
do Bolsa Família do teto de gastos seria “a fixação explícita, na mesma PEC, da
imperatividade da execução das emendas do relator, porta de entrada de uma
constitucionalização do ‘orçamento secreto’, antes que a ministra Rosa Weber o
anule”. Sua conclusão decorre de uma entrevista do líder do governo na Câmara,
deputado Ricardo Barros (PP-PR), na sexta-feira, na qual essa raposa felpuda do
Congresso afirmou que a equipe de transição teria assimilado a legitimidade das
“emendas de relator”. Faz sentido, porque não foram poucos os parlamentares da
oposição, inclusive do PT, que se beneficiaram dessas emendas neste ano
eleitoral.
Orçamento fatiado
Voltando aos números da PEC, com o Bolsa
Família fora do teto de gastos, haveria um espaço de R$ 105 bilhões no
Orçamento que estavam reservados para o Auxílio Brasil e que poderão ser
destinados à recomposição dos orçamentos da Saúde, da Educação e outras
despesas da área social. Como esses gastos são permanentes, a reação do mercado
financeiro ao acordo em curso vem sendo muita negativa, porque a conta não
fecha em quatro anos. Quem entende de contas públicas afirma que 77,1% do PIB
de endividamento corresponde a R$ 7,3 trilhões. Esse patamar é muito elevado
para os países emergentes, cuja média é de 65% de endividamento. Isso
aumentaria nossos indicadores de risco financeiro e afugentaria investimentos
externos.
Tudo seria fácil, se não fossem as
dificuldades, como diria Aparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, o humorista
Barão de Itararé. Para viabilizar o Bolsa Família por quatro anos, antes mesmo
de tomar posse, com uma oposição de extrema direita rosnando na porta dos
quartéis e pedindo intervenção militar, Lula precisa contar com amplo apoio no
Congresso. Sua bancada pode chegar a 139 deputados e 15 senadores. Ou seja, é
impossível aprovar qualquer coisa sem os partidos de centro que o apoiaram no
segundo turno e o Centrão. Além, disso, há 172 deputados da base bolsonarista
que não se elegeram e são feras feridas no plenário da Câmara, que somente
Arthur Lira pode controlar.
O senso comum é de que um acordo com Lira
seria construído com base na sua reeleição à Presidência da Câmara, mas isso é
considerado favas contadas. Ou seja, ocorreria mesmo que Lula estivesse
articulando outro nome para comandar a Casa. O acordo seria outro: trocar o
Bolsa Família pela manutenção do orçamento secreto durante os quatro anos.
Mesmo assim, há quem duvide do acordo, como o vice-líder do PP, Doutor Luizinho
(RJ): “Por que entregar quatro anos se o Orçamento da União precisa ser
negociado todo ano?”
O PDT na Câmara dos Deputados bem que pode aceitar a proposta do desencadeamento para desenvolver o Mercosul cujos polos de importação e exportação continuam obtendo lucros elevados e crescimento do PIB enquanto os estados conseguiram a retenção de um percentual do ICMS, imposto que desde a sua criação, a PETROBRÁS retém sem repassar ao governo, talvez seja a fonte do orçamento secreto e por falar nas 4 linhas da Constituição esse assunto aí dá mais de 40 ...
ResponderExcluirLuiz Carlos Azedo.
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