Correio Braziliense
A demora de Bolsonaro para reconhecer a vitória
de Lula alimenta especulações e a agitação golpista. Entretanto, ao mesmo
tempo, é um fator de desgaste político de sua liderança
As manifestações de caminhoneiros, ontem,
com bloqueios de estradas em 16 estados, em protesto contra a vitória do
presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, no domingo, não são propriamente
uma surpresa; são ações planejadas por uma extrema direita golpista, que sempre
procurou desacreditar as urnas eletrônicas e trabalhou para construir um
cenário de deslegitimação do resultado das eleições, caso o presidente Jair
Bolsonaro fosse derrotado. Entretanto, é um movimento que não tem a menor
chance de dar certo.
As lideranças dos caminhoneiros talvez nem saibam, mas estão derrotados desde o 7 de Setembro de 2021, quando ocuparam a Esplanada dos Ministérios e ameaçaram invadir o Supremo Tribunal Federal (STF), furando o bloqueio da Polícia Militar do Distrito Federal. Àquela ocasião, foram insuflados pelas manifestações bolsonaristas de Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo, e pelos ataques de Bolsonaro às urnas eletrônicas. A reação das instituições e da sociedade foi inequívoca: não haveria apoio suficiente para impedir que as eleições deste ano fossem realizadas, com a utilização do sistema de urna eletrônica, nem que o ex-presidente Lula fosse candidato.
Todas as tentativas de tumultuar o processo
eleitoral e desacreditá-lo, desde então, foram frustradas. Em todos os momentos
em que Bolsonaro atacou a Justiça Eleitoral e, principalmente, o seu
presidente, ministro Alexandre de Moraes, houve fortes reações das lideranças
políticas e das instituições democráticas, que culminaram no manifesto lançado
em 25 de agosto passado, por estudantes e professores da tradicional Faculdade
de Direito do Largo do São Francisco (USP), que teve o papel de grande divisor
de águas entre os setores democráticos da sociedade e aqueles que apostavam
numa aventura autoritária, com a qual Bolsonaro acabou identificado.
Esse divisor de águas está tendo um papel
decisivo no reconhecimento do resultado das eleições de domingo. A estreita
vantagem numérica de Lula, ao obter 60.345.999 votos (50,9% dos votos válidos),
contra 58.206.354 votos (49,1% dos votos válidos) de Bolsonaro, não reflete a
dimensão do apoio que o resultado da eleição obteve imediatamente após o
encerramento da apuração. A vitória de Lula foi reconhecida pelos presidentes da
Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG); pelo
governador eleito de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos); e pelo
presidente do PL, Valdemar da Costa Neto. Seus principais aliados afastam
qualquer possibilidade de uma reação golpista.
O reconhecimento internacional ao resultado
das eleições, entre os quais destacam-se a rapidez com que o presidente dos
Estados Unidos, Joe Biden, e o presidente francês, Emmanuel Macron, saudaram a
vitória de Lula, e o acompanhamento em tempo real do pleito pela mídia
internacional são outra barreira a eventuais intenções golpistas. Mas o que
realmente torna inequívoca a vitória do petista é o fato de termos uma eleição
em dois turnos, desde a Constituição de 1988, uma sábia decisão dos constituintes,
tomada com base na nossa história política.
Passado
Getúlio Vargas voltou ao poder em 1950 numa
eleição consagradora, com 48,83% dos votos, o que não impediu que seu mandato
fosse confrontado até a crise de agosto de 1954, quando se matou, embora seu
principal adversário, Eduardo Gomes, tivesse obtido apenas 29,66% dos votos. É
famosa a frase de Carlos Lacerda, o líder da UDN: “O sr. Getúlio Vargas,
senador, não deve ser candidato à Presidência. Candidato, não deve ser eleito.
Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para
impedi-lo de governar”. Os setores que contestam o resultado da eleição repetem
exatamente o mesmo raciocínio, porém, nenhuma liderança política de expressão
da base governista defende essa posição.
Juscelino Kubitschek, o construtor de
Brasília, foi um grande presidente da República, mas sua posse também foi
contestada. Fora eleito com 36% dos votos, seguido por Juarez Távora, que
obteve 30%. A UDN passou a defender a deposição de JK. Em 1956, iniciou-se em
Jacareacanga-RJ um movimento de militares contrários a JK; em 1959, na cidade
de Aragarças-GO, ocorreu outro levante militar contra o presidente, reprimido
por forças legalistas lideradas pelo marechal Henrique Teixeira Lott.
Caso a eleição fosse em turno único, Lula
seria vitorioso com 57.259.504 (48,43%) votos, contra 51.072.345 (43,20%) de
Bolsonaro, uma boa vantagem em relação ao atual presidente, mas não a maioria
dos votos. O segundo turno foi realizado exatamente para que a maioria fosse
inequívoca, como aconteceu. A demora de Bolsonaro para reconhecer a vitória de
Lula alimenta especulações e a agitação golpista. Entretanto, ao mesmo tempo,
funciona como um fator de desgaste político, que pode resultar numa liderança
menor do que aquela que teria, com a grande votação que obteve, se optasse por
reconhecer logo o resultado e assumisse o papel de líder da oposição, em bases
democráticas.
"Protesto de caminhoneiros ressalta a importância do segundo turno"
ResponderExcluirRá, q piada boa! Contra outra Luiz.
Suponhamos, imaginemos, pensemos: e se o bloqueio ilegal surtisse o efeito desejado?
ExcluirVeja q ele desgasta, de fato, a já horrível imagem do farsante da República (desgasta tanto q o gado q aqui pastava fugiu).
Mas, pqp, poderia ter dado certo e O GOLPE ESTARIA DADO. DADO! EFETIVADO!
E os dops da vida estariam procurando pessoas como eu e vcs q aqui neste blog nos manifestamos contra.
Pensar q o desgaste sofrido pelo bozo vale o risco de uma ditadura é estupidez. Isso é coisa de jornalista equilibrista - não adota nem o certo nem o errado.
Faltou pouco pros bolsonaristas não ressuscitarem os CCCs (Comandos de Caça aos Comunistas)... Vontade certamente não faltou!
ResponderExcluirVerdade.
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