Folha de S. Paulo
Na esfera climática, o país é crucial para
o destino da vida na Terra
Dois Brasis fazem parte da numerosa
delegação que foi a Sharm El-Sheikh, no Egito, para
a COP27 (27ª Conferência das Partes). Patrocinado pela ONU, o encontro
reúne lideranças dos quatro cantos do mundo para discutir o desafio comum das
mudanças climáticas. O Brasil do presidente vencido nas urnas, nos estertores
de seu desgoverno, foi cumprir tabela, encerrando, com um murmúrio, quatro anos
de desmantelamento da imagem da nação.
O outro Brasil, representado por governadores e demais autoridades subnacionais; personalidades ligadas à defesa do meio ambiente; organizações da sociedade civil; empresários e — sobretudo — pelo presidente eleito, compareceu para mostrar o quanto se avançou na percepção dos inúmeros riscos ambientais aqui presentes e nas propostas para enfrentá-los. Desde 2019, amadureceu a consciência da importância da defesa do patrimônio ambiental para o desenvolvimento e a projeção externa do país.
No último ano, multiplicaram-se estudos e
propostas para lidar do ponto de vista brasileiro com o que a ONU considerou
serem as dimensões da tríplice crise planetária: mudança climática, poluição e
perda da biodiversidade. A peça mais abrangente e ambiciosa se intitula
"Clima e estratégia internacional — novos rumos para o Brasil". O
documento, prefaciado pelo ex-chanceler Celso Amorim, de autoria da socióloga
Adriana Abdenur, da ex-ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira, do
ex-governador da Bahia, hoje senador Jacques Wagner, e do advogado Pedro
Abramovay, foi levado por seus redatores para a COP27.
Proposta inovadora, instala o meio ambiente
no centro da política externa brasileira, entrelaçada à busca de formas
sustentáveis de desenvolvimento interno. E tem como premissa que a distribuição
dos custos e responsabilidades da defesa do planeta há de estar baseada na
chamada "justiça climática’’: o imperativo de garantir os direitos de
pessoas, populações e países mais vulneráveis.
Com os seus limitados recursos econômicos e
militares, o Brasil possui poucos trunfos no jogo duro da política
internacional. Não é assim na esfera climática. Nela o país é crucial para o
destino da vida na Terra. Eis por que é impossível subestimar a importância da
proposta que reestrutura as prioridades da ação externa em torno às saídas para
a crise do clima e as lastreia em uma variedade de políticas domésticas. Já a
proximidade dos autores com o PT é auspiciosa pela mudança que poderá acarretar
à agenda partidária. Que o poderoso discurso do presidente eleito Lula tenha ido
no mesmo diapasão mostra que o país volta ao mundo com nova voz.
*Professora titular aposentada de ciência política da USP e pesquisadora do Cebrap.
O Brasil voltou,agora é pra ficar... Espero.
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