O Globo
O governo acabou, tudo o que pode tentar é
atrapalhar a travessia. Lula inaugura no Egito a volta ao protagonismo
ambiental do Brasil
Pela maneira como encerrou o ciclo
eleitoral, o governo Bolsonaro já terminou. Tudo o que ele pode fazer agora é
tentar atrapalhar a travessia para a nova administração, mas isso será ilegal.
Perdido em seu labirinto, à deriva, Bolsonaro não
reconheceu a derrota, nem deu a ordem para que seus apoiadores
saíssem dos bloqueios. O país precisou de muita boa vontade para contornar o
que ele disse e interpretar que aquilo era um reconhecimento da derrota. A
palavra “acabou”, que ele disse no STF, foi um alívio geral. “A alternativa era
tenebrosa”, me disse um ministro do Supremo.
De acordo com esse ministro, é preciso ter uma capacidade renovada de interpretação. Foi isso que o STF fez na nota que soltou às 17h37, logo após a fala ambígua de Bolsonaro. Nela, o STF informa que aquilo era “reconhecimento do resultado final das eleições” e “garantia do direito de ir e vir”. Milhares, talvez milhões de pessoas, nem iam nem vinham. Só no Rio de Janeiro, 10 mil deixaram de viajar no feriado, inúmeros voos foram cancelados, a sombra do desabastecimento crescia, quando Bolsonaro disse que os protestos eram “indignação contra a injustiça eleitoral”. A Polícia Rodoviária Federal só agiu sob ameaça do STF. As Polícias Militares tiveram que entrar por ordem do Supremo. O país já está se governando, e a luta contra os bloqueios das estradas mostrou isso.
O que era aquilo? “Franjas externas da
bolha radical de direita somadas ao oportunismo de ocasião que vão persistir
por algum tempo, mas o importante é que confirmamos o que se conquistou: a
democracia vive.” Essa foi a interpretação que eu ouvi na cúpula do Judiciário
sobre os bloqueios.
É preciso virar a página, sim, mas não sem
antes entender o que aconteceu. Caminhoneiros autônomos vivem dos seus
caminhões e das entregas que fazem. Não têm capital para bloquear estradas e
ficar dias sem faturar colocando em risco o seu maior patrimônio, que é o
caminhão em si. O movimento explodiu em todos os estados da federação ao mesmo
tempo. Não foi espontâneo. Houve organização, preparação logística e
financiamento desses protestos. Ontem, alguns pediam intervenção militar. Foi
esse o plano desde o começo, criar o caos, e Bolsonaro convocar uma GLO para
restabelecer a paz. Tropas nas ruas. Eis o sonho dourado de Bolsonaro.
Bolsonaro não será líder de 58 milhões de
brasileiros, como imagina. Muitos dos seus aliados estão se reposicionando
rapidamente. Ele será o líder de bolsões radicais. Neles estão os que realmente
acreditam no que ele fala. Outros estão nessa porque ganham com a criminalidade
e o desmanche do regramento que seu governo estimulou. Por todos os seus atos,
inclusive a última ambiguidade em relação aos bloqueios nas estradas, ele será
o líder da extrema-direita. A direita precisa de caminho mais civilizado.
Na Amazônia, grileiros e garimpeiros foram
fechar as estradas nos municípios que são campeões do desmatamento. Isso não é
ideologia. Isso é conspiração de quem está lucrando com a destruição da
floresta. Quando viajei recentemente ao interior do Pará, passei nas estradas
por outdoors louvando Bolsonaro pela liberação das armas, assinados pelos
clubes de tiro. Eles se multiplicaram e se armaram nesses quatro anos.
O presidente Lula defendeu durante toda a
campanha, escreveu nos documentos e disse no seu discurso que lutará contra o
desmatamento e acabará com o garimpo ilegal. Não será tarefa fácil. Muito
dinheiro se aproveita da criminalidade ambiental. A exploração do ouro é uma
indústria. Há uma ponte que liga Itaituba, capital do garimpo ilegal, a setores
econômicos na legalidade. Da mesmo forma que o crime agropecuário. O legal e o
ilegal no Brasil sempre foram ligados por vários elos. Essa cadeia foi
fortalecida durante quatro anos do “passar a boiada”.
A decisão de Lula de ir à COP 27 é
essencial. Quando ele foi convidado o mundo estava dizendo que quer esse Brasil
que no passado foi peça-chave para os avanços da luta ambiental e climática.
Quando aceitou, Lula confirmou o caminho árduo, mas acertado, de buscar o
futuro para o Brasil e o planeta.
O governo Bolsonaro terminou. Existe uma
lei que obriga a passagem de informações ao escritório de transição. Ele
sonhava com o golpe que não conseguiu. Pode tentar esperneios nestes dois
meses. Mas a faixa presidencial será colocada em Lula no dia primeiro de
janeiro de 2023.
Dia primeiro de janeiro terá mais escarcéu da extrema-direita.
ResponderExcluirCop27, nada a ver com o mundo na visão Política de um executivo prestes a assumir um mandato para 4 anos, o Egito como país sede tem sua maior preocupação com a ocupação litorânea do Rio Nilo em sua capacidade máxima de 77 bilhões de m³ de água caiu para 22 bilhões de m³, obviamente o Brasil deveria levar e buscar propostas bilaterais para as adjacências do Rio São Francisco que teve como alavanca no lançamento das campanhas presidencialistas de 2022.
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