Tentativa de ressuscitar PAC é péssima ideia
O Globo
Além de faltarem recursos, basear programa
em investimento público é solução errada para a infraestrutura
A equipe de transição informou que o futuro
governo pretende relançar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), marca
das gestões petistas, com o objetivo de ampliar investimentos em infraestrutura
e de aquecer a economia. Integrantes da equipe afirmam que, ao menos num
primeiro momento, a nova versão deverá ser mais modesta: R$ 40 bilhões em
recursos públicos, além de aportes privados em projetos e concessões. Quando
foi criado, em 2007, na gestão Lula 2, o PAC previa R$ 67 bilhões em
investimentos públicos (ou R$ 165 bilhões em valores corrigidos).
O primeiro desafio, óbvio, será obter o dinheiro. O Orçamento para 2023 prevê R$ 22 bilhões para investimentos públicos, metade do pretendido pelos petistas. A equipe do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) espera que parte dos recursos seja liberada pela Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição, que tenta abrir espaço no Orçamento para cumprir promessas de campanha — como a manutenção do Bolsa Família em R$ 600 — burlando o teto de gastos. A PEC ainda depende de acordos políticos e precisará passar pelo Congresso, onde o governo não tem maioria.
A ideia de ressuscitar o PAC padece de
males ainda mais graves que a falta de recursos no Orçamento. A começar por
evitar os incontáveis erros cometidos no programa original das gestões
petistas. É de conhecimento público que o PAC espalhou pelo país projetos e
obras sem viabilidade técnica nem demanda, que deixaram como legado milhares de
canteiros de obra até hoje abandonados, monumentos à incúria.
O PAC serviu a desvarios como o projeto do
trem-bala que ligaria o Rio a São Paulo e Campinas. A ideia era que a linha,
orçada em R$ 33 bilhões, fosse realizada por meio de uma parceria
público-privada (PPP) e estivesse pronta para a Copa de 2014. Delírio. Os
próprios estudos feitos à época mostravam que o trem de alta velocidade (TAV)
só seria viável economicamente no trecho paulista. Como se previa, nunca saiu
do papel. Mas chegou-se a criar uma estatal para cuidar da ferrovia, depois
incorporada à Valec.
Mesmo nos projetos menos ambiciosos, o PAC
desandou. Na Favela da Rocinha, no Rio, ainda podem ser vistos os pilares
abandonados do que seria um plano inclinado. Obras da rede de esgoto,
importantíssima para a comunidade, foram paralisadas. No Complexo do Alemão,
onde Lula esteve na atual campanha, também há uma coleção de obras inacabadas.
O teleférico, símbolo do programa, foi concluído, mas está abandonado e
deteriora a olhos vistos. Em 2019, uma pesquisa elencou quase 5 mil obras do
PAC paradas, um terço unidades básicas de saúde. Segundo levantamento do
Tribunal de Contas da União (TCU), há cerca de 14 mil contratos de obras em
andamento ou paradas, que já custaram R$ 10 bilhões.
Por fim, o tamanho da cifra sugerida para o
novo PAC — por volta de 0,4% do PIB — é simplesmente ridículo diante da taxa de
investimento já existente na economia (ao redor de 19% do PIB) e da necessidade
futura de recursos na infraestrutura, estimada em torno de 4% do PIB por ano ao
longo das próximas duas décadas. Será impossível alcançar essa meta sem criar
um ambiente regulatório capaz de atrair investidores privados nas mais
diferentes áreas. Era com isso que a equipe de transição deveria se preocupar.
Resultado da COP27 foi frustrante diante da
emergência climática
O Globo
Que ninguém tenha ilusões: a temperatura da
Terra está subindo, e faltam ações para conter a alta
Era previsível que houvesse dificuldades na
conferência do clima das Nações Unidas, a COP27. Mas poucos anteviram que o
encontro encerrado domingo no Egito acabasse com tanta frustração. O mais grave
foi a falta de unanimidade para apoiar a redução no uso de combustíveis
fósseis. Defendida por cerca de 80 países, a proposta foi torpedeada por
produtores de petróleo, como a Arábia Saudita.
Todos os efeitos perceptíveis do
aquecimento global resultam da alta já registrada na temperatura do planeta:
1,2°C na comparação com o período pré-industrial. Olhando para frente e levando
em conta os compromissos assumidos, é certo que a situação vai piorar. É
inverossímil que as próximas COPs consigam recuperar o tempo perdido.
Negociações são sempre difíceis. Nem quando
os governos concordam está tudo resolvido. O Acordo de Paris, firmado em 2015
na COP21, determina que o aquecimento deve ficar bem abaixo de 2°C até o final
deste século, idealmente em 1,5°C. Desde então, apenas 26 dos 193 signatários
atualizaram suas metas de redução de emissões. Nenhum dos quatro maiores
responsáveis pelas emissões de gases de efeito estufa — China, Estados Unidos,
União Europeia e Índia — tem cumprido o prometido.
A COP27 começou com o desafio de recolocar
a humanidade na rota. Por isso o esforço por aprovar um texto prevendo o
abandono dos combustíveis fósseis ao longo do tempo. Só que no caminho havia
grandes exportadores de petróleo e gás, fortalecidos pela conjuntura favorável
provocada pela guerra na Ucrânia e seus efeitos no mercado de energia.
O ponto alto da COP27 foi a criação de um
fundo para compensar perdas e danos para países em desenvolvimento,
especialmente aqueles em situação mais vulnerável a impactos ambientais. A
demanda era antiga, com mais de três décadas, e sua aprovação tenta corrigir
uma injustiça ainda mais antiga. Os países que mais sofrem com catástrofes
climáticas, como secas prolongadas e inundações fora do padrão, são em geral os
que menos contribuem para o aquecimento global. O anúncio em Sharm el-Sheikh,
embora histórico, foi a parte fácil. O fundo ainda não tem dinheiro, ninguém
sabe quem o bancará nem quais serão os critérios para definir os beneficiários.
Tal discussão ocupará o tempo de negociadores nos próximos meses com resultado
ainda incerto.
Mais encorajadora foi a participação do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Ao recolocar o Brasil no debate ambiental, Lula fez o mundo relembrar que o país já foi capaz de reduzir o desmatamento. Outro ponto positivo foi o acordo para reformar bancos de desenvolvimento multilaterais para que fortaleçam o financiamento verde. O tanto que se avançou nas últimas duas semanas tem de ser festejado, mas que ninguém se iluda: a temperatura está subindo, e faltam ações para deter a alta.
O BID e o Brasil
Folha de S. Paulo
Eleição de Goldfajn para o banco é
oportunidade a ser aproveitada com grandeza
Com 80% dos votos, o economista Ilan
Goldfajn se tornou o primeiro brasileiro eleito presidente do Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID), instituição multilateral de
fomento fundada em 1959.
O economista superou outros quatro
candidatos, contando com o apoio dos Estados Unidos, o principal acionista do
banco. A Argentina também optou ao final por retirar seu indicado e apoiar o
brasileiro, o que abriu caminho para a vitória —os dois países mais o Brasil
somam 52,8% do capital.
É um desfecho positivo para o país e para o
BID, dadas as credenciais acadêmicas e profissionais de Goldfajn. Com doutorado
pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), teve longa carreira no
setor privado e também presidiu o Banco Central entre 2016 e 2019.
Sua última posição, a ser deixada agora,
foi a de diretor do Fundo Monetário Internacional para o Hemisfério Ocidental.
A indicação pelo governo Jair Bolsonaro
(PL), na pessoa do ministro da Economia, Paulo Guedes, pautou-se pelo currículo
do economista, não por afinidades políticas. Tal fato torna ainda mais
lamentável a conduta do ex-ministro petista Guido Mantega, que pediu a Janet
Yellen, secretária do Tesouro americano, adiamento da eleição.
A carta de Mantega foi apoiada por
lideranças como Gleisi Hoffmann, presidente do PT. Eis mais uma demonstração de
que o partido
continua a ter dificuldades para enxergar o interesse nacional fora de suas
preferências.
Felizmente, ninguém com capacidade de
decisão deu ouvidos à trapalhada de Mantega —aliás, impedido de ocupar cargos
públicos até 2030 por decisão do TCU.
A resistência de parte da esquerda,
ademais, é equivocada, pois a plataforma apresentada pelo governo brasileiro e
pelo próprio economista à direção e aos acionistas da instituição pode ser
considerada compatível com pontos de vista essenciais defendidos por Lula.
As prioridades incluem investimento em
infraestrutura física e digital; combate à pobreza, desigualdade e insegurança
alimentar; cooperação entre países; mudança climática e biodiversidade.
O BID é o banco de fomento regional mais
antigo do mundo e tem papel importante na América Latina, com longa tradição de
empréstimos para iniciativas de desenvolvimento em seus 48 países-membros.
Pelos dados mais atuais, há quase US$ 30 bilhões previstos para projetos em
preparação ou implementação no Brasil.
Abre-se oportunidade de amplificar a voz do país na região, que deve ser aproveitada com grandeza.
Perdas e danos na COP27
Folha de S. Paulo
Apesar de avanços em justiça climática,
reunião no Egito falhou no principal
A 27ª conferência dos países signatários da
Convenção da ONU sobre Mudança Climática (COP27) terminou com dois dias de
atraso, alguns avanços e estagnação no objetivo de frear o aquecimento global.
O que mais importa ficou de novo para o ano que vem.
A reunião no Egito só escapou do fracasso
porque os anfitriões lograram obter, na última hora, um acordo sobre o tema de
perdas e danos. Criou-se um fundo para auxiliar nações vulneráveis a eventos
climáticos extremos.
Países ricos queriam que constasse do texto
a expressão "mais vulneráveis", o que no jargão das COPs excluiria
países como o Paquistão, que sofreu neste ano enchentes calamitosas. Os mais
desenvolvidos acabaram por ceder.
Mesmo assim, restam por definir os detalhes
do fundo, como montantes destinados a cada parte. Cabe recordar que outra
promessa, de US$ 100 bilhões anuais para países em desenvolvimento, jamais se
realizou inteiramente.
De toda maneira, a negociação internacional
sobre clima agora se apoia num
tripé: além de mitigação e adaptação, esteios até aqui, desponta a reparação.
Reequilibra-se a balança geopolítica entre países desenvolvidos e em
desenvolvimento, mas a vitória dos últimos no Egito pode revelar-se pírrica.
Os ricos argumentam que não haverá recursos
no mundo para dar conta dos danos se a atmosfera seguir na trajetória atual de
aquecimento de 2,8ºC sobre níveis pré-industriais, em lugar de 1,5ºC. E, nesse
quesito, a COP27 não progrediu.
Havia a expectativa de que signatários da
convenção aumentassem a ambição de suas contribuições para conter a emissão de
gases do efeito estufa, ou seja, a mitigação do aquecimento global. Um dos
raros anúncios veio da União Europeia: reduzir suas emissões em 57% (e não mais
55%) até 2030.
Embora o percentual exceda o esforço
necessário do planeta para ter chance de ficar abaixo de 1,5ºC (cortar pela
metade o carbono nos próximos oito anos), a diferença é diminuta. A cada
ano fica mais evidente que tal objetivo está longe de ser alcançado.
Persiste o impasse da COP26, em Glasgow
(Escócia): economias dependentes de combustíveis fósseis impediram um
vislumbre, no texto egípcio, de um horizonte para a eliminação dessa matriz na
produção energética global. Fala-se somente em redução, e mesmo assim apenas do
carvão.
Dificilmente haverá ganhos nesse item na COP28, sediada em outro país petroleiro do Oriente Médio, Emirados Árabes Unidos. Assim, prosseguem as perdas da Terra.
Passos corretos na COP-27
O Estado de S. Paulo
Crise energética freou compromissos na
redução das emissões, mas houve avanços nas compensações aos países pobres e em
mecanismos para financiar adaptações às mudanças climáticas
Como costuma acontecer após o encerramento
das cúpulas climáticas da ONU (COPs), o sentimento geral ao fim desta 27.ª
edição foi de frustração, resumido na fórmula: “insuficiente”. E, como costuma
acontecer também, essa atmosfera de decepção acaba obnubilando avanços nas
discussões e conquistas concretas na resolução final.
As políticas climáticas apoiam-se num
tripé: mitigação (a redução das emissões de gases de efeito estufa), adaptação
(aos impactos dessas emissões) e compensação (aos países menos poluentes pelos
danos causados pelos maiores poluentes). Ainda que essenciais, os dois últimos
pilares são paliativos. O crucial para conter o aumento da temperatura é o
primeiro e, sobre esse aspecto, de fato, não houve avanços na COP-27.
A resolução da COP-26 foi a primeira a
incluir um compromisso de diminuição no uso dos combustíveis fósseis,
conclamando à “redução de energia a carvão sem captura de carbono e à
eliminação de subsídios ineficientes aos combustíveis fósseis”. Esperavam-se
avanços agora. A Índia propôs um compromisso com a redução de todos os
combustíveis fósseis. No documento final, contudo, nenhum desses temas foi
mencionado. A insatisfação foi vocalizada por Alok Sharma, presidente britânico
da COP anterior: “Pico das emissões até 2025... Não nesse texto. Claro
prosseguimento na redução do carvão: não nesse texto. Um compromisso claro com
a eliminação de todos os combustíveis fósseis: não nesse texto”.
Mas, se, considerando os desafios
estruturais para a mitigação do aquecimento global, o desgosto com a estagnação
é justificado, as razões para essa estagnação também o são por uma conjuntura
extraordinariamente adversa. Entre uma COP e outra eclodiu uma guerra na
Europa, e com ela vieram uma inflação galopante e uma crise alimentar e
energética. Grandes produtores de óleo e gás, como Rússia e Arábia Saudita,
sentiram-se empoderados para resistir a pressões; e grandes consumidores,
vulneráveis para exercê-las.
Há temas importantes para o clima que não
estão sendo devidamente debatidos. Muitos economistas especialistas em clima
advertem que o mundo tem gastado muito subsidiando fontes renováveis
ineficientes, e muito pouco investindo em inovação para tornar essas
tecnologias de fato eficientes (abundantes, confiáveis e baratas), o que seria
a solução para a transição energética.
Como ponto positivo da COP-27, os 200
países aprovaram um marco que vinha sendo eludido em todas as COPs desde 1995.
Pactuou-se um fundo de perdas e danos para os países mais vulneráveis aos
impactos climáticos. Em 2009, as nações ricas haviam prometido US$ 100 bilhões
por ano, embora não tenham ultrapassado US$ 83 bilhões em nenhum ano. O avanço
deste ano está na admissão formal de suas responsabilidades e na criação do
fundo. Mas quase todos os detalhes – quanto dinheiro será dado, por quem, para
quem, para que e sob quais condições – ainda não foram definidos.
A COP-27 também marcou a admissão de que,
para vencer esses desafios, será preciso reorganizar o sistema financeiro
global, especialmente instituições multilaterais, como o Banco Mundial e o FMI,
permitindo, por exemplo, condições especiais de empréstimos e amortização de
dívidas a países pobres atingidos por impactos climáticos.
Em relação à transição energética, ainda
que a COP-27 não tenha gerado compromissos formais, o mundo tem avançado. Nos
últimos três séculos, as emissões de carbono e o aumento da qualidade de vida
cresceram juntos. Mas organizações como a Agência Internacional de Energia ou o
Global Carbon Budget registram que a taxa de produção de poluentes per capita
vem caindo e a produção de combustíveis fósseis atingirá um platô nos próximos
anos e depois deve declinar. Assim, pela primeira vez desde a revolução
industrial, o crescimento econômico já não dependerá do crescimento das
emissões.
Em outras palavras, o mundo ainda não
encontrou a solução para manter a temperatura global em níveis toleráveis, mas
começa a caminhar na direção certa. O desafio agora é acelerar o passo.
Goldfajn no BID, uma boa promessa
O Estado de S. Paulo
Eleição do ex-presidente do BC brasileiro para a chefia do BID é prenúncio de trabalho eficiente para o progresso econômico e social da América Latina e do Caribe
Com a eleição do economista Ilan Goldfajn,
pela primeira vez um brasileiro presidirá o Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID), o maior banco regional de desenvolvimento do mundo.
Eleito em primeiro turno com 80% dos votos, Goldfajn, ex-presidente do Banco
Central do Brasil (BCB), é figura conhecida e respeitada em Washington, onde
comandou, a partir de janeiro deste ano, o Departamento do Hemisfério Ocidental
do Fundo Monetário Internacional. A carteira do banco inclui atualmente 616
projetos em toda a região, com recursos comprometidos de US$ 56,18 bilhões.
Maior cliente, o Brasil depende hoje do banco para 82 projetos, com
financiamento estimado de US$ 9,29 bilhões. Por sua participação no capital, os
países com maior poder de voto são Estados Unidos (30%), Brasil (11,4%) e
Argentina (11,4%).
O presidente eleito do BID deverá iniciar
em 19 de dezembro seu mandato de cinco anos. A escolha de Goldfajn restabelece
um padrão – a presença de um latino-americano na chefia da instituição –
interrompido recentemente. Em 2020, o presidente dos Estados Unidos, Donald
Trump, decidiu atribuir o posto a um norte-americano. Conseguiu impor o nome de
Mauricio Claver-Carone, membro sênior do Conselho de Segurança Nacional para o
Hemisfério Ocidental.
Como integrante desse conselho, o escolhido
de Trump havia contribuído para o endurecimento da política de Washington em
relação a Cuba, Venezuela e Nicarágua. Não está claro se isso o qualificaria,
na visão de seu líder americano, para comandar um banco regional de
desenvolvimento. Mexicanos, argentinos e europeus tentaram boicotar a
iniciativa, mas fracassaram. O presidente Jair Bolsonaro apoiou seu guru Donald
Trump. Mas o escolhido foi incapaz de completar o mandato. Em setembro deste
ano, Claver-Carone foi afastado, por ter mantido, contra as normas do banco, um
relacionamento íntimo com uma funcionária.
Com a escolha de Ilan Goldfajn, a chefia do
BID volta a ser exercida por um latino-americano e Brasília consegue, enfim,
registrar um brasileiro na presidência da instituição. A eleição do
ex-presidente do BCB foi facilitada pelo governo argentino. Num importante
gesto cooperativo, o presidente Alberto Fernández cancelou a candidatura de
Cecilia Todesca Bocco, secretária de Relações Econômicas Internacionais do
Ministério de Relações Exteriores.
A iniciativa do presidente argentino
valorizou, uma vez mais, a pauta de cooperação regional, amplamente renegada,
durante a maior parte de seu mandato, pelo presidente Jair Bolsonaro. Raramente
empenhado em ações de integração internacional, o presidente brasileiro tornou-se
mundialmente conhecido por seus tropeços diplomáticos e, como seu líder Donald
Trump, por seu antiglobalismo. De toda forma, o presidente Bolsonaro acertou,
afinal, ao indicar para a presidência do BID o economista Ilan Goldfajn,
sugerido pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.
Normalmente empenhado na ação diplomática,
o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, quase se viu envolvido, no
entanto, num injustificável incidente com o BID, poucos dias antes da votação.
Numa ação desastrada, o ex-ministro petista Guido Mantega propôs um adiamento
das eleições no banco. Seria conveniente, segundo Mantega, esperar um
pronunciamento do futuro chefe de governo do Brasil. A tentativa foi um
evidente despropósito. Não há relação necessária entre os mandatos
presidenciais no BID e nos países-membros. A tentativa fracassou, Mantega se
afastou da equipe de transição de Lula, a votação ocorreu na data prevista e
Ilan Goldfajn foi eleito.
A política proposta por Goldfajn coincide,
em grande parte, com agendas defendidas pelo PT e por vários governos da
região: combate à desigualdade e à pobreza, avanço tecnológico, modernização e
ampliação da infraestrutura e crescimento compatível com a preservação
ambiental. A ênfase na questão ambiental de certa forma atualiza a pauta do
BID. Sem novas intervenções desastradas, o banco poderá continuar cumprindo a
importante missão iniciada em 1959.
Custo do desemprego de longo prazo
O Estado de S. Paulo
Alto número de desempregados há mais de dois anos mostra fragilidade estrutural do mercado de trabalho
A redução contínua da taxa de desemprego e
a recuperação persistente da renda real média obtida pelas pessoas ocupadas são
os indicadores mais marcantes da melhora notável do mercado de trabalho nos
últimos meses. A persistência de altos índices de trabalho informal, de
subutilização da força de trabalho e de pessoas desalentadas, de outro lado,
aponta para uma perda de qualidade nessa recuperação. À margem dessas duas
tendências mais notórias da evolução recente do mercado de trabalho, há outro
dado mais preocupante. Um número muito grande de brasileiros busca uma ocupação
há muito tempo, mas não a encontra. Mantém-se muito alta a taxa de desemprego
de longo prazo. É uma espécie de doença estrutural do mercado de trabalho que o
País não tem conseguido combater.
No terceiro trimestre deste ano, havia
praticamente 2,6 milhões de trabalhadores que buscavam trabalho havia pelo
menos dois anos, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua trimestral
divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Ao contrário da Pnad Contínua mensal, que mostra a evolução nacional do mercado
de trabalho em trimestres móveis, esta decompõe os dados pelas unidades da
Federação e é elaborada a cada três meses.
Os desempregados de longo prazo
representavam, no período pesquisado pelo IBGE, quase 28% do total de
desocupados (9,5 milhões de trabalhadores). Não é um problema novo, pois vem se
acentuando desde 2015, por causa da recessão provocada pelo desastre da
política econômica da presidente Dilma Rousseff, que seria afastada em agosto
do ano seguinte. É essa persistência que lhe dá a aparência de ter-se tornado
estrutural.
A série estatística do IBGE mostra que, no
terceiro trimestre de 2012, por exemplo, havia 1,46 milhão de trabalhadores
desempregados que procuravam uma ocupação havia mais de dois anos, ou 21% dos
desempregados. O número, bem como sua fatia entre o total de desocupados,
baixou até 2015, quando passou a subir. Em 2018, os desempregados de longo
prazo somavam 3,2 milhões de trabalhadores, ou 25,4% do total de desocupados.
No terceiro trimestre do ano passado, eram 3,89 milhões de pessoas, ou 28,9% do
total de desempregados.
Nota técnica da Secretaria de Política
Econômica do Ministério da Economia elaborada em agosto do ano passado mostra
que os desempregados de longo prazo representavam 1,2% da força de trabalho em
2014 e atingiram 3,2% em 2019. O grupo é formado predominantemente por
mulheres, jovens e com ensino médio completo.
Além de ser fonte de um problema humanitário sintetizado no fato de uma pessoa em idade de trabalhar e apta para ter uma ocupação não ter a possibilidade de auferir renda para si e para sua família, o desemprego de longo prazo tem consequências econômicas de peso. Quanto mais tempo uma pessoa fica desempregada, maior será a perda de capital humano, pois habilidades e capacidade para aprendizado de tarefas novas podem ser perdidas e menores serão as chances de sua recolocação no mercado.
COPs marcam passo contra o aquecimento
global
Valor Econômico
A COP27 marcou passo. As emissões estão
aumentando e os combustíveis fósseis ganharam força momentaneamente
A Conferência do Clima em Sharm El-Sheikh,
no Egito, encerrou-se com retrocessos na luta contra o aquecimento global. A
promessa dos países de reverem suas metas para cortes de emissões e torná-las
mais ambiciosas foi cumprida por apenas duas dezenas de países e se revelaram
de novo completamente insuficientes para conter a catástrofe anunciada - como
estão, as metas indicam que a temperatura do planeta subirá entre 2,4 e 2,7
graus Celsius. Esse valores deixam muito para trás o limiar seguro para lidar
com o problema, de 1,5 grau Celsius, que está se tornando inatingível. Segundo
o IPCC, as chances de conter o aumento de temperatura do planeta a esse nível
reduziu-se agora para 50%.
Muitos ambientalistas, no entanto,
consideraram histórica a decisão arrancada às 3h da madrugada de domingo - a
COP27 deveria se encerrar na sexta - de que será criado um fundo para financiar
perdas e danos de países tidos como vulneráveis diante do aquecimento global,
em especial pequenas ilhas do Pacífico, como Vanuatu. Em todas as COPs até
agora os países ricos fugiram do problema, evitando, entre outros argumentos,
caírem em uma armadilha legal. Ao reconhecerem que têm de indenizar estragos
provocados pelo clima por possuírem um estoque de emissões maior, desde a
Revolução Industrial do século XVIII, estariam criando um precedente para que
reparações fossem oficial e justificadamente requeridas pelos países mais
atingidos por catástrofes climáticas.
Os EUA se negaram terminantemente a
colaborar com um fundo com essas características, mas a União Europeia desistiu
de ser uma companheira de viagem dos americanos na questão e abriu a chance da
criação do mecanismo, desde que eles fossem usados pelos países mais
vulneráveis de fato e que as contribuições a ele também fossem feitas por
países emergentes como, por exemplo, a China, o maior poluidor mundial hoje.
Assim, muitos emergentes não seriam beneficiados e possivelmente teriam de
fazer contribuições.
O compromisso final foi estabelecer uma
comissão de transição para a COP28, nos Emirados Árabes, quando serão definidos
afinal todos os termos de uma promessa da qual só há até agora o nome. Os EUA
saíram com mais coelhos da cartola, falando em outras fontes de financiamento,
como os mercados de carbono, bancos e instituições multilaterais, para
dissolver responsabilidades legais. Antes, tanto UE quanto os americanos
contrapunham ao fundo um aumento dos recursos disponíveis para adaptação e
mitigação. Na verdade, desde a COP15 em Copenhague, em 2009, que os países
desenvolvidos prometem US$ 100 bilhões anuais para essas finalidades. No
entanto, ainda hoje, chegaram a US$ 83 bilhões, segundo levantamento da OCDE. A
partir de 2025, os montantes teriam que rapidamente triplicar.
A maior pedra no caminho da COP27 foi a
meia volta dada pelos países ricos no compromisso de extinguir aos poucos o uso
de combustíveis fósseis. Com a guerra na Ucrânia e a crise energética na
Europa, o carvão ganhou de novo força como insumo energético, assim como outros
combustíveis fósseis. O texto que saiu da COP27 menciona “redução gradual do
uso do carvão” e “abandono gradual dos subsídios” aos combustíveis fósseis. A
Agência Internacional de Energia colocou números na leniência. As emissões das
9 mil usinas movidas a carvão teriam de cair um terço de 2021 a 2030. Mas elas
crescerão 1% em 2022, impulsionadas por Índia, Estados Unidos e também pela
grande consumidora China.
Além disso, a COP27 deveria avançar também
na verificação do avanço das metas apresentadas pelo países e criar formas de
fazê-lo, para com isso evitar que os países voltem atrás em seus compromissos
simplesmente descumprindo-os, embora formalmente eles sejam mantidos. Nada
disso prosperou.
A COP27 marcou passo. De um lado, as emissões estão aumentando, não declinando, e os combustíveis fósseis, por motivos geopolíticos, ganharam momentaneamente a força que vinham perdendo nas matrizes energéticas. Diante da urgência climática, é uma pausa desastrosa. Segundo o IPCC, para reduzir emissões em 50% até 2030 e 70% até 2050 e obter a chance de um aquecimento ainda sob controle, o pico de lançamento de CO2 na atmosfera teria de ocorrer antes de 2025, daqui a três anos. Pelo visto nessa e em outras COPs, isso não vai ocorrer.
As Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP) foram bem tratadas aqui.
ResponderExcluirTodos lembrando q se trata de assunto urgente.
O Brasil AGORA fará a sua parte. Com LULA haverá avanços q poderão culminar num ciclo VIRTUOSO - Macron, da França já demonstrou entusiasmo. Outros virão por opção (desejável) ou gravidade.
Não creio em milagres. Creio em trabalho duro. O BRASIL VOLTOU A TRABALHAR PRO BEM.