Folha de S. Paulo
Em 1964, a subversão foi pretexto para um
golpe; em 2022, pode ser de novo
É tocante: homens, mulheres e crianças fantasiados de verde-amarelo e enrolados em bandeiras, ajoelhados e de mãos postas diante dos quartéis, implorando que os militares salvem o Brasil. Esta salvação consiste em impedir, a sabre e cavalo, a posse do presidente eleito e manter no poder o derrotado, parece que ainda em exercício. Como a alternância do poder pelo voto direto é uma condição da democracia e, segundo a Constituição, o Brasil é um estado democrático de direito, é acintoso que se pregue aberta e impunemente um golpe de Estado. Mas o que espanta é que os quartéis ouçam toda essa subversão e fiquem em silêncio.
A palavra subversão já foi mais bem cotada
na tropa. No dia 13 de março de 1964, uma multidão diante do antigo Ministério
da Guerra, na avenida Presidente Vargas, no Rio, exigia que o presidente da
República, João Goulart,
desse um golpe preventivo contra as forças que, todos sabiam, se aglutinavam
para derrubá-lo. Os generais de então viram naquele apelo uma "subversão
da ordem" e derrubaram Goulart.
Hoje, os subversivos usam o sinal trocado,
mas a soma é igual: a subversão da ordem democrática, pregada diante de prédios
militares. A diferença é que, para as atuais Forças Armadas, isso não é mais
subversão, mas "liberdade de expressão".
Para os fardados de 1964, os subversivos
eram financiados por Moscou. Em 2022, Moscou tem mais o que fazer do que
financiar subversões no Brasil. E nem os atuais subversivos precisam de apoio
externo — são bancados por brasileiros mesmo, como empresários do agro e do
tiro, pastores, políticos e policiais, que lhes fornecem segurança, transporte,
comida, água, abrigo, bandeiras e as frases, inclusive em inglês, para as
faixas que eles desfraldam em praças e estradas.
E, quem sabe, uma diária para fazê-los expressar com mais fervor essa liberdade que soa como música para os militares.
Ruy Castro é sábio
ResponderExcluirRuy Castro é gênio! Impressionante como, com tão poucas palavras, ele descreveu e analisou a situação! Mulheres e crianças fantasiadas de "democratas", USADAS pelos milicianos bolsonaristas! E os militares afirmando que pregação golpista é liberdade de expressão...
ResponderExcluirKkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk. Só no Brasil .
ResponderExcluirSó faltando o beicinho do Trump para completar a patetice. Toma jeito Brasil.
ResponderExcluirAté onde vai esta patacoada?
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