domingo, 27 de novembro de 2022

Vinicius Torres Freire - Lula 3 ainda sem rumo econômico

Folha de S. Paulo

Fala do petista foi tida como sinal de que não há plano para a dívida

Nenhuma pessoa sensata esperava que Fernando Haddad fosse ao almoço anual dos banqueiros para fazer um discurso de ministro da Fazenda ou que anunciasse diretrizes concretas da política para gastos e dívida do governo Lula 3.

Foi o que disseram os próprios executivos financeiros que foram ao almoço da Febraban, na sexta-feira. O que chamou a atenção de várias dessas pessoas foi:

1. Haddad não deu sinal de que Luiz Inácio Lula da Silva tenha algo a dizer de diferente do que vem afirmando desde que deu sapatadas na ideia de controle do endividamento público;

2. Haddad falou de reforma tributária, inadimplência e estabilidade a fim de ocupar o tempo, de modo a não tratar de nenhum assunto espinhoso;

3. Haddad não teve autonomia para nada, "falou menos que a equipe da transição na economia"; foi para representar Lula do modo mais "neutro" possível, o que é "compreensível", mas insuficiente;

4. Haddad disse que a "qualidade" do gasto público precisa melhorar, o que ninguém discute. Mas, como foi "omisso" sobre a "quantidade", deu um "sinal desconfortável".

Gente mais irritada disse que "Haddad e o PT estão fora da realidade". Que o governo do PT ainda está "perdido ou vai seguir o que o Lula disse depois da eleição".

Gente mais analítica, por assim dizer, afirmou que o tempo do governo para publicar as diretrizes de um programa econômico e nomear uma equipe está acabando. Ainda assim, essas pessoas mais neutras dizem que, sem equipe, "não adianta especular" e que "ainda é possível corrigir tudo, basta querer".

Dentro do PT e mesmo na finança, há lobbies pró-Haddad e a favor de Alexandre Padilha na Fazenda. Plantam notícias e comentários a favor de um ou outro. Donos do dinheiro gostariam mesmo de um economista-padrão e de alta reputação, um "liberal". Se não for o caso, de um "político do PT" que nomeasse equipe "liberal".

A nomeação da equipe indicaria o que se vai fazer de essencial do problema econômico central do início de Lula 3. Isto é, qual o aumento de gasto federal, de saída, e daria uma diretriz para o controle do ritmo do endividamento (uma "meta" para a dívida pública e a regra de definição de gasto que será empregada a fim de se atingir esse alvo).

A depender do tamanho da "PEC da Transição", esse ritmo pode ser explosivo ou, ao menos, pode elevar juros e dólar, prejudicando o crescimento.

Lula insinuou que esse não é um problema central. Haddad não disse nada que pudesse atenuar os discursos do presidente eleito.

Em entrevista a Alexa Salomão, desta Folha, Pérsio Arida, da equipe de transição, foi mais informativo. Praticamente enterrou a ilusão de que poderia ir para o governo. Contou sumariamente o que propõe sobre o tamanho da "licença para gastar".

Não é a opinião do governo de transição para Lula 3. Mas é o que pensa uma pessoa preocupada com o endividamento e que procura assessorar o presidente eleito. Isto é, está lá para tentar uma solução realista em termos sociais, políticos e econômicos.

O que propõe Arida?

1. O gasto federal em 2023 deve ser igual ao de 2022, em relação ao tamanho da economia, do PIB;

2. Se o PIB crescer 2,5% no ano que vem, a "licença para gastar", o gasto além do previsto pelo Orçamento proposto para 2023, deveria ser de uns R$ 135 bilhões (o rascunho da "PEC da Transição" ora prevê R$ 198 bilhões). É o mesmo número já sugerido por Nelson Barbosa, da equipe econômica da transição e ministro da Fazenda de Dilma Rousseff;

3. A "licença para gastar" dura enquanto não houver nova regra fiscal, que em tese vai definir limites para a despesa federal: no máximo dois anos. Se houver nova regra em 2023, para vigorar em 2024, a "licença" acaba em 2023;

Supondo que o PIB cresça menos que 2,5% em 2023, o gasto extra deveria ser menor do que R$ 135 bilhões, diz Arida. Por ora, uma previsão de alta do PIB de 2,5% é muito otimista (por ora, as estimativas rondam o 1%).

É um rumo para a discussão. No entanto, o comando do "governo de transição" para Lula 3 não veio a público para dar diretriz alguma. O discurso de Haddad tampouco.

3 comentários:

  1. "...o comando do "governo de transição" para Lula 3 não veio a público para dar diretriz alguma. O discurso de Haddad tampouco."

    É papel da imprensa questionar e até "discutir" rumos. Mas tb seria de se esperar de uma imprensa isenta q dissesse q o "governo de transição" sopesou prós e contras e decidiu não especificar detalhes.
    Imaginem o peso carregado pelo indicado por LULA pra saúde ou, pior, economia.
    Ainda pior, num momento em q terroristas como bozo, mourinho e jegues espreitam, LULA decidiu não lhes dar chance de dar o bote.
    Q fique claro: LULA DETALHARÁ QD ACHAR O MOMENTO CERTO E ISSO É ELE QUEM DECIDE.
    NO MAIS, CONTINUEM A PROCURAR PELO EM OVOS. A procura pode precipitar a decisão do LULA. Ou adiar. Kkkkkkkk

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  2. Quanta cobrança de um governo que nem começou!

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