Folha de S. Paulo
Fala do petista foi tida como sinal de que
não há plano para a dívida
Nenhuma pessoa sensata esperava que Fernando Haddad fosse
ao almoço
anual dos banqueiros para fazer um discurso de ministro da Fazenda ou
que anunciasse diretrizes concretas da política para gastos e dívida do governo
Lula 3.
Foi o que disseram os próprios executivos
financeiros que foram ao almoço da Febraban, na sexta-feira. O que chamou a
atenção de várias dessas pessoas foi:
1. Haddad não deu sinal de que Luiz Inácio Lula da
Silva tenha algo a dizer de diferente do que vem afirmando desde que
deu sapatadas na ideia de controle do endividamento público;
2. Haddad falou de reforma
tributária, inadimplência e estabilidade a fim de ocupar o tempo, de modo a
não tratar de nenhum assunto espinhoso;
3. Haddad não teve autonomia para nada,
"falou menos que a equipe da transição na economia"; foi para
representar Lula do modo mais "neutro" possível, o que é
"compreensível", mas insuficiente;
4. Haddad disse que a "qualidade" do
gasto público precisa melhorar, o que ninguém discute. Mas, como foi
"omisso" sobre a "quantidade", deu um "sinal
desconfortável".
Gente mais irritada disse que "Haddad
e o PT estão fora da realidade". Que o governo do PT ainda está
"perdido ou vai seguir o que o Lula disse depois da eleição".
Gente mais analítica, por assim dizer, afirmou que o tempo do governo para publicar as diretrizes de um programa econômico e nomear uma equipe está acabando. Ainda assim, essas pessoas mais neutras dizem que, sem equipe, "não adianta especular" e que "ainda é possível corrigir tudo, basta querer".
Dentro do PT e mesmo na finança, há lobbies
pró-Haddad e a favor de Alexandre Padilha na Fazenda. Plantam notícias e
comentários a favor de um ou outro. Donos do dinheiro gostariam mesmo de um
economista-padrão e de alta reputação, um "liberal". Se não for o
caso, de um "político do PT" que nomeasse equipe "liberal".
A nomeação da equipe indicaria o que se vai
fazer de essencial do problema econômico central do início de Lula 3. Isto é,
qual o aumento de gasto federal, de saída, e daria uma diretriz para o controle
do ritmo do endividamento (uma "meta" para a dívida pública e a regra
de definição de gasto que será empregada a fim de se atingir esse alvo).
A depender do tamanho da "PEC da
Transição", esse ritmo pode ser explosivo ou, ao menos, pode elevar juros
e dólar, prejudicando o crescimento.
Lula insinuou que esse não é um problema
central. Haddad não disse nada que pudesse atenuar os discursos do presidente
eleito.
Em
entrevista a Alexa Salomão, desta Folha,
Pérsio Arida,
da equipe de transição, foi mais informativo. Praticamente enterrou a ilusão de
que poderia ir para o governo. Contou sumariamente o que propõe sobre o tamanho
da "licença para gastar".
Não é a opinião do governo de transição
para Lula 3. Mas é o que pensa uma pessoa preocupada com o endividamento e que
procura assessorar o presidente eleito. Isto é, está lá para tentar uma solução
realista em termos sociais, políticos e econômicos.
O que propõe Arida?
1. O gasto federal em 2023 deve ser igual ao
de 2022, em relação ao tamanho da economia, do PIB;
2. Se o PIB crescer 2,5% no ano que vem, a
"licença para gastar", o gasto além do previsto pelo Orçamento
proposto para 2023, deveria ser de uns R$ 135 bilhões (o rascunho da "PEC
da Transição" ora prevê R$ 198 bilhões). É o mesmo número já sugerido por
Nelson Barbosa, da equipe econômica da transição e ministro da Fazenda de Dilma
Rousseff;
3. A "licença para gastar" dura
enquanto não houver nova regra fiscal, que em tese vai definir limites para a
despesa federal: no máximo dois anos. Se houver nova regra em 2023, para
vigorar em 2024, a "licença" acaba em 2023;
Supondo que o PIB cresça menos que 2,5% em
2023, o gasto extra deveria ser menor do que R$ 135 bilhões, diz Arida. Por
ora, uma previsão de alta do PIB de 2,5% é muito otimista (por ora, as estimativas
rondam o 1%).
É um rumo para a discussão. No entanto, o comando do "governo de transição" para Lula 3 não veio a público para dar diretriz alguma. O discurso de Haddad tampouco.
É isso.
ResponderExcluir"...o comando do "governo de transição" para Lula 3 não veio a público para dar diretriz alguma. O discurso de Haddad tampouco."
ResponderExcluirÉ papel da imprensa questionar e até "discutir" rumos. Mas tb seria de se esperar de uma imprensa isenta q dissesse q o "governo de transição" sopesou prós e contras e decidiu não especificar detalhes.
Imaginem o peso carregado pelo indicado por LULA pra saúde ou, pior, economia.
Ainda pior, num momento em q terroristas como bozo, mourinho e jegues espreitam, LULA decidiu não lhes dar chance de dar o bote.
Q fique claro: LULA DETALHARÁ QD ACHAR O MOMENTO CERTO E ISSO É ELE QUEM DECIDE.
NO MAIS, CONTINUEM A PROCURAR PELO EM OVOS. A procura pode precipitar a decisão do LULA. Ou adiar. Kkkkkkkk
Quanta cobrança de um governo que nem começou!
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