Folha de S. Paulo
Exaltado, presidente eleito contra-ataca as
pressões de quem quer conter gasto público
Luiz Inácio Lula da Silva voltou a Brasília
como presidente, nesta quarta-feira. Ainda que presidente eleito, começa a
governar, não apenas por palavras, mas por atos, como na negociação
do Orçamento de 2023, por exemplo.
De volta a Brasília, seu primeiro discurso
foi de esquerda, digamos assim, para simplificar. Não foi nada muito diferente
do que Lula disse em tantas campanhas. Mas não foi assim parecido com o que fez
em seus governos (2003-2010).
Lula parecia exaltado, como se farto de ouvir que não pode gastar. No discurso, na verdade, entrevista, disse que muito gasto na verdade é investimento, que é preciso pagar a dívida social de 500 anos e que não faz sentido "guardar" para "pagar juros aos banqueiros". A transcrição do que disse segue mais abaixo.
O governo mal começou a ser montado e
sabe-se lá o que Lula vai decidir fazer, especialmente no programa econômico.
Pode vir a acertar ponteiros e afinar ideias com seu futuro ministro da
Fazenda. Mas o presidente é Lula e seu governo, por ora, é ele apenas. Com o
primeiro discurso de Brasília, parece dizer a quem virá que não está com muita
paciência para a conversa de "austeridade" —de
"austericídio", como dizem certas pessoas de esquerda.
Eram apenas palavras em uma espécie de
palanque? Ao lado de Lula, Geraldo Alckmin. Logo atrás, Gleisi Hoffmann,
presidente do PT, e Aloízio Mercadante, coordenador técnico da transição.
Também estavam por ali o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e o senador
eleito Flávio Dino (PSB-MA).
Eram palavras do presidente eleito, que
passara o dia em diplomacia dos Poderes. Mais do que isso, dia de negociações
políticas com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que pode determinar
o tamanho do apoio político que Lula 3 pode ter, e com o presidente do Senado,
Rodrigo Pacheco, do PSD quase aliado (mas não inteiro).
Quem ouviu o primeiro discurso de Brasília,
dentro e fora da equipe da transição, "tomou nota".
Um executivo de banco que se dizia otimista
na semana passada, mandou mensagem. "Por ora, estou vendendo o
otimismo da semana passada. Na baixa". Um outro, mandou um trecho do vídeo
com o discurso de Lula com uma legenda seca: "Dureza". Um terceiro
disse que Mercadante "parece ter mais influência do que se pensava".
Está tudo por fazer, a especulação é
enorme, o povo do dinheiro é volátil. Lula morde e assopra, há pressões e
contrapressões de espécie e fontes variadas. Mas, em dois dias, o tempo mudou.
Petistas estão mais
animados (afora os que se sentem injustiçados por não estar na
"transição"). Gente de fora coloca barbas e dinheiro de molho.
O que Lula disse:
"Vou tomar posse no dia primeiro. Se
depender de mim, dia dois, a gente já está colocando obra para funcionar porque
nós precisamos gerar emprego, distribuir renda e fazer este país voltar a
crescer. Nós não podemos ficar chorando, 'ah, sabe, vai gastar'. Eu quero dizer
o seguinte: muita coisa que as pessoas falam que é gasto, eu acho que é
investimento. A saúde é investimento, porque investir em uma pessoa para ela
não ficar doente é investimento. Farmácia Popular é investimento para cuidar da
vida das pessoas. Investir na educação não é gasto, é investimento. Então,
precisamos mudar algumas nomenclaturas, porque tudo o que a gente quer fazer é
‘gasto, é gasto, é gasto’. Para quê? Para guardar dinheiro para pagar juros aos
banqueiros? Não. Precisamos ter [levar em conta] uma dívida social. Temos uma
dívida social histórica, de 500 anos, com o povo pobre e nós, como já fizemos
uma vez, vamos tentar começar a pagá-la. Não sei se pagaremos toda, mas vamos
começar a pagar."
A andropausa dele está demorando juntando com a irracível idade vai ficar intragável nesse novo mandato.
ResponderExcluirSerá?
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