Folha de S. Paulo
Ex-prefeito pode ser ministro ideal na
Fazenda, mas o que importa é o plano Lula
Por que parte da finança faz campanha
contra Fernando
Haddad no ministério da Fazenda?
O dirigente de um bancão nacional responde,
primeiro, que "isso não tem importância". "O mercado",
empresários etc. não influenciam essas nomeações "faz mais de 50
anos", diz.
Em seguida, o executivo ri e abre uma
pastinha de cartolina com cópias de entrevistas antigas de Haddad, grifadas com
marcador amarelo de texto. "Tem gente que implica com isso daqui",
diz, e cita trechos.
Nas entrevistas de 2018 quando ainda não era candidato a presidente, Haddad falava, por exemplo, em revogar parte da reforma trabalhista (como aquela que aumentou muito o risco de o trabalhador ter de pagar o custo de um processo e, assim, reprimiu o número de ações na Justiça).
Noutra, diz que o PT atacaria o
"patrimonialismo oligopólico" dos bancos e seus juros altos, o que
poderia ser remediado com impostos maiores. Fala também em usar parte das
reservas internacionais (poupança em moeda forte guardada no Banco Central)
a fim de financiar investimentos públicos e usar estatais em planos de
desenvolvimento.
No mais, Haddad defendia reforma
tributária parecida com a dos melhores projetos que andam por aí. Ao
longo da campanha de 2018, falaria pouco sobre economia.
É isso? Entrevistas velhas e vagas? Haddad
não pode estar pensando outra coisa? Até pode, responde o banqueiro, "mas
ninguém sabe o que ele pensa agora ou o que ele vai poder pensar".
Isto é, não se sabe quanta autonomia teria
Haddad ou quanto interesse ou capacidade teria de mudar opiniões de Luiz Inácio Lula da
Silva.
O executivo comenta que Lula parece
"mais cheio de si" do que em 2002. Além do mais, fez discursos
seguidos contra aqueles que cobram um programa de contenção de endividamento
público.
Diz que "Haddad não é muito fácil,
ouve pouco, não é habilidoso como o [Antonio] Palocci", o ministro da
Fazenda do Lula 1 mais "reformista", de 2003 a 2006. Observa ainda
que Haddad parece desconfiado quando pedem que abra suas ideias e é "muito
leal a Lula". Por outro lado, é "sem dúvida, o mais preparado dos que
estão por aí, não só entre os que querem ser ministro".
Mas isso também não resolve. "Sem
programa, sem o plano fiscal e sem equipe, isso que falam dele é só
fofoca". Por quê?
Porque não se sabe o que Lula pensa e a
força política que qualquer ministro da Fazenda terá para fazer mudanças e o
"trabalho sujo" (contenção de gastos).
Para o executivo, Lula 3 pode ter políticas
econômicas diferentes, basta ter "fundamento técnico e gente para
tocar", mas na "questão fiscal nunca tem o que inventar e a situação
é ruim".
Diz que está menos pessimista que os
economistas, da casa e outros. "Dá para arrumar o fiscal. Sem fazer
bobagem aí, o país cresce mais do que estão prevendo, a receita [de impostos]
vai ser maior, a dívida [pública] sobe pouco, tem investimento privado
engatilhado, as reformas já ajudaram um pouco, o país pode ficar mais calmo com
Lula. Dá para levar".
Basicamente, isso quer dizer que o gasto
extra em 2023 deve ser comedido e que tem de haver uma nova regra de teto, um
limitador para o crescimento da dívida (gasto menor que receita por muitos
anos, começando logo).
Qual seria o ministro da Fazenda ideal?
"Pode ser também o Haddad ou outro. O pessoal [‘do mercado’] sonha com
essa ideia de um economista de prestígio. Não adianta nada se não tiver
capacidade política e apoio do Lula e do Congresso para fazer o básico".
"Tem muita gente que posa de informada, mas o fato é que a gente não tem a
menor ideia do que o Lula vai fazer. Isso é o que importa e dá medo".
Texto lógico e sensato! Parabéns ao colunista e ao blog que divulga seu trabalho!
ResponderExcluirConcordo com o anônimo.
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