Folha de S. Paulo
De frente ao mar, ex-governador poderá
curtir seu legado de corrupção
No Rio toda criança em idade escolar —mesmo
que no momento não esteja estudando por falta de vagas no ensino público— já
decorou a lição extracurricular de história recente: nos últimos seis anos,
seis governadores ou ex-governadores foram presos ou afastados do mandato. Eles
ficam um tempo (que pode ser curto ou longo) atrás das grades, recorrem das
condenações e respondem a elas em liberdade. Enquanto isso, o esquema de
corrupção que os levou ao cárcere segue em moto-contínuo.
Último dos moicanos ainda vivendo em regime fechado em decorrência das apurações da Lava Jato, Sérgio Cabral conseguiu a revogação da prisão preventiva por 3 votos a 2 no STF —o voto de desempate foi dado pelo ministro Gilmar Mendes ressaltando que a decisão não significa absolvição.
Condenado a 436 anos e depois de passar
mais de 2.200 dias na cadeia, ele vai morar num apart-hotel com vista para o mar, entre
Copacabana e o Arpoador. Longe dali, na zona norte, ergue-se um monumento à
corrupção legado por Cabral à cidade: o horroroso novo Maracanã, construído
para a Copa de 2014 ao preço superfaturado de 1,2 bilhão, sem contar as
propinas. O ex-governador costumava cobrar 5% do valor de cada contrato,
percentual que ficou conhecido como "taxa de oxigênio".
Homem disposto a tudo para enriquecer, a
ascensão de Sérgio Cabral é um retrato da prática política no Brasil: ganância,
estupidez e soberba mescladas a uma enorme vaidade e à certeza de ficar impune
no futuro. Sua primeira eleição a governador em 2006 —quando suas relações
indecentes eram sabidas até pelos postes da rua da Mercado— se revestiu de uma
rede impensável de cumplicidade com a velha máquina do MDB fluminense ao lado
de tucanos, petistas, brizolistas, comunistas, evangélicos e setores da
imprensa.
Um movimento orquestrado que em tudo lembra o apoio eleitoral a Cláudio Castro, atual governador ainda em liberdade.
Rio de Janeiro adora eleger...
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