Valor Econômico
Danilo Forte alerta que relação entre os
Poderes deve piorar
O veterano deputado Danilo Forte (União
Brasil-CE) alertou, há alguns dias, que eventual decisão do Supremo Tribunal
Federal (STF) declarando o orçamento secreto inconstitucional colocaria o
presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) diante de uma crise
institucional antes mesmo de tomar posse. Era um vaticínio.
Boa parte do mundo político reagiu com perplexidade nesta segunda-feira ao voto de minerva do ministro Ricardo Lewandowski do STF, que jogou pá de cal sobre o orçamento secreto. Ele acompanhou a decisão da relatora e presidente da Corte, ministra Rosa Weber, para formar a maioria de 6 votos a 5 contra a ferramenta de distribuição das emendas de relator. O mecanismo - utilizado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) para ampliar sua base no Congresso - notabilizou-se pela falta de transparência na aplicação dos recursos públicos.
O mundo político recorda-se como se fosse
ontem das palavras inflamadas de Lula sobre o orçamento secreto ainda na
campanha eleitoral.
“Esse pacto [pela saúde pública de
qualidade] foi quebrado pelo golpe de 2016, e transformado pelo atual
presidente em um verdadeiro caos, irrigado pelo dinheiro do orçamento secreto,
fonte do maior esquema de corrupção da história deste país”, disparou o
petista, em agosto, durante ato em defesa do Sistema Único de Saúde (SUS), em
São Paulo.
Cerca de um mês antes, em um ato de
campanha em Diadema, na grande São Paulo, Lula havia sido igualmente enfático:
“é muito importante a gente saber que tipo de deputado e deputada a gente está
elegendo [...] porque às vezes você elege uma pessoa, e escolhe a raposa para
tomar conta do galinheiro”, afirmou. "É o que está acontecendo com o
orçamento secreto na Câmara dos Deputados, que é a maior bandidagem”, fulminou.
As críticas desfiadas por Lula durante a
campanha presidencial ao orçamento secreto formam o pano de fundo da atmosfera
de crise que se instalou em Brasília nesta segunda-feira, depois que veio a
público o voto de Lewandowski.
Ele é apontado pela classe política como o
ministro do STF mais próximo de Lula, que o nomeou para a Corte em 2006. Por
isso, um influente petista, preocupado com as consequências desse voto para a
governabilidade da gestão Lula, confidenciou à coluna que muitos políticos
identificarão a digital do presidente eleito na decisão do magistrado. É o
bastante para o cenário de caos instalado em Brasília.
A insegurança manifestada por esse petista
de forma reservada à coluna foi traduzida sem reservas pelo deputado Danilo
Forte: “o clima ficou muito ruim porque se estava construindo uma solução
negociada, inclusive o encontro do Lewandowski com o [senador Rodrigo] Pacheco
foi visto como um ponto de conciliação”, observou. “Criou-se uma instabilidade
institucional para o futuro governo porque, no bojo das negociações, se
entendeu que havia um compromisso entre os três Poderes. Agora já começa
difícil uma relação que tem tudo para piorar”, alertou o parlamentar, um dos
mais próximos do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). “Se esperava uma
relação harmoniosa, mas está todo mundo atônito”, concluiu.
A decisão ressoa inoportuna: véspera da
votação da PEC da Transição na Câmara dos Deputados, e um dia após a reunião de
uma hora e meia entre Lula e Arthur Lira. Segundo interlocutores de ambos, o
diálogo contemplou o conteúdo da emenda constitucional, que deverá ser alterada
pelos deputados, e o espaço do grupo de Lira no futuro governo petista.
Menos de 24 horas após o dueto Lula-Lira, a
constatação de aliados de ambos é que a decisão do STF azedou o esforço de
concertação para votar a PEC da Transição, e garantir a governabilidade da
gestão que se inicia em dez dias.
A decisão de Lewandowski surpreendeu meia
Brasília porque todos interpretaram os sinais emitidos pelo magistrado em
sentido oposto. Quatro lideranças da Câmara ouvidas pela coluna foram unânimes
ao afirmar que a reação da classe política ao voto de Lewandowski foi de
surpresa porque ele havia se reunido com o presidente do Congresso, senador
Rodrigo Pacheco (PSD-MG), na sexta-feira, para tratar da matéria.
Pacheco apresentou ao ministro os termos da
resolução aprovada pelos parlamentares para dar publicidade às emendas de
relator. Nos termos da norma, 80% do valor reservado às emendas de relator (R$
19,4 bilhões em 2023) seria distribuído proporcionalmente à representação dos
partidos no Congresso. Caberia aos presidentes da Câmara e do Senado a
distribuição de R$ 1,45 bilhão, para cada um, do restante.
Um líder partidário ligado a Arthur Lira
ponderou que a decisão do STF fragilizou os presidentes da Câmara e do Senado
num momento em que ambos dependiam do instrumento para dar mais fôlego às suas
candidaturas à reeleição ao comando das duas Casas legislativas. Com efeito, a
senadora Simone Tebet (MDB-MS) já reiterou declarações de que se sentiu
prejudicada na disputa para a presidência do Senado em 2021 por causa do
orçamento secreto.
Para este mesmo líder partidário, apesar da
turbulência gerada com o Congresso, a decisão do Supremo impõe uma derrota à
cúpula das Casas legislativas. Em paralelo, sugere que Lula governará com o
Supremo ao seu lado. Um contraponto a Jair Bolsonaro, que viveu em pé de guerra
com a Corte durante todo o mandato.
Na noite de domingo, o ministro Gilmar
Mendes pavimentou o caminho para o plano B de Lula, caso a articulação pela PEC
da Transição naufrague. Ele autorizou que o relator do orçamento exclua os
recursos para custear o futuro Bolsa Família do teto de gastos, tornando
dispensável a aprovação da emenda constitucional.
O gesto de Gilmar Mendes resolve no curto prazo o impasse de Lula com os deputados, onde a turbulência na relação é maior. Mas lideranças experientes alertam que Lula não pode depender do STF para governar, e para resolver as intercorrências com os deputados e senadores. O espectro de Eduardo Cunha, pai do impeachment, ainda arrasta correntes pelos corredores da Câmara.
O ladrão não sobe a rampa o povo não quer essa quadrilha conhecida pela sua ganância, corrupção e falta de compromisso público de novo no poder, esquece!
ResponderExcluirÔ imbecil, vai chorar e sai da frente do quartel!
ResponderExcluirEsta coluna mostra que o Bruno Carazza não errou sozinho na sua coluna de ontem. Muita gente tinha a mesma suposição (errada) que ele.
ResponderExcluir"Mas lideranças experientes alertam que Lula não pode depender do STF para governar, ..."
ResponderExcluirLULA é mais experiente do q tais "lideranças experintes". Presidiu 2 X e vai pra 3a.
Este é um resumo dos democratas sobre o bolsolão: "críticas desfiadas por Lula durante a campanha presidencial ao orçamento secreto", ié, são contra.
Se a relação do atual governo com o Congresso será tão difícil, por que LULA acabaria com uma ferramenta (bolsolão) tão útil e q permitiu a sobrevivência do genocida? Afinal, pau q dá em Chico dá em Francisco - o bolsolão seria útil pro LULA como foi pro palerma.
Não sou inocente pra pensar q LULA e assessores não sabem q estão destruindo uma forte ferramenta de governo. Isso me leva a crer q LULA já tem uma ferramenta substituta - por ex., se a economia melhorar bastante, o apoio vem por gravidade. Enfim, aguardemos.