O Globo
Lula tem a chance de combater a miséria ao
mesmo tempo em que reorganiza as contas públicas. Por ora, prefere brigar com
os números e o mercado
Que Lula está certo em ampliar os gastos
sociais e iniciar a reconstrução do Estado após o desmonte promovido por
Bolsonaro, disso não há dúvidas. Mas ele perde uma enorme oportunidade de começar
bem o governo ao adiar o anúncio do seu regime fiscal. Não existe combate
sustentável à pobreza com déficits primários seguidos e aumento da dívida
pública. E por um motivo simples: o endividamento irá encarecer o dólar,
pressionar a inflação e elevar os juros. A economia crescerá menos, e os pobres
serão os mais afetados, justamente os que precisam ser protegidos.
A tese defendida ontem pelo senador Alexandre Silveira (PSD-MG) no seu relatório à CCJ do Senado é a fórmula para o caos econômico. Se é verdade que o governo pode imprimir moeda para rolar a própria dívida, também é verdade que isso trará uma inflação exorbitante, como a que o país viveu nos anos 80 e início dos anos 90. A ideia de que a ampliação de despesas pelo governo gera um “círculo virtuoso” já deu errado tantas vezes que causou perplexidade que tenha sido evocada novamente.
Lula e grande parte do PT parecem
confortáveis em culpar a Lava-Jato por todos os problemas do governo Dilma,
incluindo a depressão econômica que aconteceu em seu segundo mandato. Moro e
Deltan de fato comprovaram a parcialidade da operação ao apoiar explicitamente
Bolsonaro e entrar para a política posteriormente. Mas a operação, por si só,
não teria capacidade de gerar uma recessão por 11 trimestres consecutivos, como
a que aconteceu no país entre 2014 e 2016. Os erros de condução da economia
foram numerosos, e os alertas, à época, mais do que abundantes e documentados.
Em julho, antecipando a discussão que
ocorreria em caso de vitória petista, escrevi em meu blog a coluna “Gasto
social não é o problema, mas sim a falta de âncora fiscal”. Cinco meses
depois, o partido continua preso na mesma armadilha. Os economistas que ouvi
para essa matéria e com quem falei ontem não veem problemas no aumento de
despesas para combater a miséria e a fome, embora considerem exagerado o valor
inicial proposto pela equipe de transição, de R$ 198 bilhões. O que realmente
causa preocupação é a falta de clareza e previsibilidade para os anos
seguintes.
Após o desastre econômico de Bolsonaro em
várias áreas, Lula tem uma chance de ouro nas mãos para começar bem o governo,
com o dólar, os juros e a inflação em queda, ao mesmo tempo em que consegue
recursos para combater a pobreza. Por ora, tem escolhido o caminho mais
difícil, de brigar com os números e o mercado e flertar com ideias econômicas
que já levaram o país ao retrocesso.
Cortes sem dor
O economista Gabriel de Barros,
especialista em contas públicas, aponta caminhos para cortes de gastos “sem
dor” pelo novo governo. Pelos menos quatro linhas de atuação poderiam
economizar R$ 710 bilhões em 10 anos, como mostra o gráfico. Fundir e otimizar
programas sociais, aprovar uma reforma administrativa para novos servidores,
aprimorar o cadastro único e enxugar o abono salarial seriam sinalizações que
poderiam compensar o aumento de despesas para o combate à fome e à miséria.
PEC será enxugada
A PEC da transição já perdeu R$ 30 bilhões
na CCJ e a tendência é que seja mais desidratada durante a tramitação. Os R$ 22
bi liberados para investimentos extrateto também devem ser retirados do texto
no plenário da Câmara.
Ajuste não é terra arrasada
O governo Bolsonaro confunde ajuste fiscal com terra arrasada na economia. A falta de recursos que o país está vendo nas mais diversas áreas pode ser chamada de tudo, menos de controle das contas públicas.
As 'vozinhas dos donos' do mercadinho, pagas a bom soldo...
ResponderExcluirUm, da área das comunicações, não chegará ao duvidoso estrelato porcino.
Outro, da área bancária privada, não será ministro.
"2022
ResponderExcluirAlvaro Gribel - PT pode perder a oportunidade"
Mas também pode não perder...
Esta técnica bolsonarista de redigir é terrível!