Folha de S. Paulo
Petista tenta administrar expectativas e
obter tolerância sobre as primeiras decisões do mandato
Antes de receber a primeira pergunta na
entrevista coletiva da última sexta-feira (2), Lula tentou
preparar o terreno. "Eu estou convencido de que a situação do país não é
das melhores", diagnosticou o presidente eleito. "Nós temos
informações de que nós não teremos grande crescimento em 2023 se depender da
política que está em vigor nesse país."
Lula já ganhou a eleição, mas ainda sustenta um discurso crítico a Jair Bolsonaro para amortecer o início de seu governo. Ao repisar a imagem de que a gestão atual deixa um cenário de terra arrasada, o petista trabalha para administrar as expectativas de seus eleitores e obter uma certa tolerância sobre as primeiras decisões de seu mandato.
Em outros dois momentos da entrevista, Lula
adotou esse tom. Criticou buracos no
Orçamento ("parece que eles querem deixar o país a
zero") e reclamou das incertezas ("eu sei que eu não vou encontrar
coisa boa"). "Mas eu sabia que ia acontecer isso, não posso agora
dizer que está tudo errado", completou.
O petista fez campanha com uma plataforma
de recuperação
econômica, distribuição de renda e retomada de programas
negligenciados. Na transição, ele dá recados de que há dificuldades no caminho
e que esse processo vai exigir escolhas que podem parecer amargas para alguns
grupos (como a ampliação de gastos sociais, que contraria investidores).
É uma adaptação da lógica política que
costuma ser seguida na aplicação de medidas de austeridade. Quando um governo
precisa cortar despesas, ele consegue segurar apoio se a situação do país
estiver ruim o bastante e se houver benefícios direcionados para determinados
segmentos da população.
O presidente eleito aplica essa vacina para
garantir ao menos algum período de lua de mel na estreia de seu governo. O
petista sabe que subirá a rampa sob a rejeição firme de metade do eleitorado e
a desconfiança daqueles que lhe deram um voto crítico no segundo turno. Tudo
indica que os ponteiros da popularidade de Lula estarão sensíveis em 2023.
Escreve como se ele, autor, fosse essa lama ribanceira abaixo, matando, derrubando, obstruindo.
ResponderExcluirQuer é administrar expectativa própria, de agradar o dono da voz.