Folha de S. Paulo
Vice-presidente eleito fala de diretrizes,
faz pontes com o setor privado e baixa fervuras
Geraldo
Alckmin não gosta de déficit, mais por temperamento do que por
teoria. O vice-presidente eleito não se dá ares de entender de economia, jamais
manteve um grupo de economistas à sua volta nem se envolve nos debates de
economia do governo de transição.
No entanto, Alckmin tem baixado várias
fervuras e passa recados econômicos. Liga para economistas conhecidos ou
recebe, do seu pequeno círculo, relatos ou relatórios, como aqueles sobre como
o caldo engrossou nas taxas de juros da praça financeira, com o que ficou
preocupado. Se teve oportunidade de dizer essas coisas a Luiz Inácio
Lula da Silva, não foi possível apurar. Mas tem dito e feito coisas
de certa relevância, suavemente.
Ainda que dissesse por aí que não sabia de nada do ministério, ajudou a conter o lobby que algumas figuras graúdas da finança faziam contra a nomeação de Fernando Haddad para o Ministério da Fazenda. Na semana passada, boatos da arraia miúda e média do mercado o nomeavam para a Fazenda.
Políticos da transição dizem que será ouvido na nomeação de gente para Planejamento, Indústria e Comércio e BNDES. Faz pontes com pessoas que possam aconselhar Lula, formal ou informalmente.
Nas últimas três semanas, tentou evitar, com jeitinho, que dirigentes do PT e
alguns de seus parlamentares continuassem a malhar o
espantalho do "mercado", na sequência do que fizera Lula
nos dias 9 e 10 de novembro. O barulho diminuiu.
Procurou reforçar a ideia de que Lula
deveria ter um conselho de assessores econômicos organizado. Essa ideia passou
a circular dias depois do segundo turno e submergiu. Voltou à tona quando Edmar
Bacha, Arminio Fraga e Pedro Malan publicaram
uma carta a Lula, nesta Folha, depois que o presidente eleito
causou tumulto com discursos que menosprezavam a situação ruim do endividamento
público.
Agora, se pensa em um conselho em um
formato que permita a participação de figurões econômicos. Nem esses grandes
nomes têm disponibilidade ou vontade de trabalhar de modo permanente com Lula
nem o governo quereria uma sombra muito próxima. Mas Alckmin gostaria de fazer
com que alguns desses figurões conversassem de modo regular com Lula. A "frente
ampla" tem de continuar.
Alckmin fala de modo suave, mas
determinado, sobre certas diretrizes do governo Lula. Se é para valer, sabe-se
lá, mas o vice eleito é o pacificador nas relações com o setor privado.
Na transição, apenas Alckmin diz com todas as
letras que Lula 3 virá a ter um plano de conter a despesa de modo a conter o
endividamento público. Inspirava-se, de início, em um plano organizado sob
a liderança de
Felipe Salto, secretário da Fazenda paulista. Sugere nas internas
que o pacotão de gastos extras não passe de R$ 135 bilhões.
Em encontros públicos e privados, diz que
Lula 3 não vai revogar nada da reforma trabalhista (em especial o acordado
sobre o legislado, o imposto sindical e as normas que limitam o número de
processos trabalhistas). Haveria apenas "aperfeiçoamentos". Vende a
ideia de que mais abertura comercial é ideia firme de Lula 3.
Alckmin observa nas internas que a coalizão
parlamentar está rala e mal costurada, com Lula por ora muito dependente da boa
vontade de Arthur Lira (PP-AL),
atual e provavelmente futuro presidente da Câmara. Portanto, sugere que a
equipe de lideranças do governo no Congresso tenha menos petistas e mais
aliados.
Alckmin é, formalmente, o coordenador-geral da transição. Tem tentado sê-lo de fato, sem entrar em bola dividida e não dando passo além da área limitada por Lula, fazendo uma política muito econômica.
Alckmin é nada menos que ótimo.
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